CRÓNICA de: Sebastião Cardoso
V amos reescrever a história. A nossa e a dos outros.
Gama, chegou a Ilha, em Março de 1498. Se consultarmos um mapa com o roteiro da sua viagem, podemos verificar que a sua viagem até à Ilha, foi feita perto da costa, atracando em quase todos os portos possíveis.
Quando chega a Muhipiti, constatamos que, pela primeira vez, as suas naus dirigem-se para o mar alto e, em linha recta, sem hesitações rumam directamente à India! O que se passou, então?
Simples: foi apresentado a Gama, um nahota, um piloto, de nome Momade Ibn Magide, dizem que era árabe mas, naquela altura, árabe significava, também, muçulmano para a cultura europeia.
É aqui, neste parágrafo, que reivindico Momade Magide como moçambicano, é, indubitavelmente, uma figura da História de Moçambique.
Para nós, moçambicanos, Gama descobre o caminho marítimo até' Muhipiti e Momade Magide mostra, melhor, ensina aos europeus a rota até a Índia Momade Magide merece, no mínimo, uma efígie, um busto numa das praças da Ilha. Não temos nenhum exemplar do seu rosto, mas um busto com um turbante a cobrir-lhe o rosto até aos olhos, semelhante ao logotipo do Raly Dakar,serviria perfeitamente. Não há nenhum mecenas, em Nampula, que queira prestar esta devida homenagem a Magide?
Um moçambicano, há 5 séculos atrás, participava no início de um processo que hoje é uma realidade: A Globalização. Sim, um moçambicano. Os árabes, provavelmente, não fazem a mínima ideia de quem é Magide.
A província de Nampula, é sem hesitações, o berço do nosso país, com uma História cheia de estórias deliciosas.
Lembro-me da primeira vez que fui à Sanculo, a 10 kms do Lumbo, visitei um cemitério onde existia uma campa com um epitafio que datava de 713, calendário muçulmano, 1293 da nossa era!!! Impressionante. Por falar em Lumbo, em 2012, os Caminhos de Ferro, que ali se iniciaram, fazem 100 anos de existência.!!!
Na Cabaceira Pequena, existe o poço do Vasco , ficou com este nome, apenas porque numa escaramuça com os locais foram mortos três marinheiros portugueses.
A ocupação em Nampula, nunca foi fácil... Em Crusse, praia paradisíaca, existe uma casa em ruínas que se diz que foi lá que Mouzinho de Albuquerque se refugiou depois de ter sido ferido pela resistência.
Nampula, hoje, é uma cidade universitária. Os professores e os alunos têm muito trabalho de pesquisa, investigação e preservação de dezenas de locais que deveriam ser declarados património cultural nampulense, incluindo o estádio municipal.
Aliciante e motivador.
WAMPHULA FAX – 18.08.2010