SACO AZUL
Por Luis Guevane
Apesar de não ser fácil tecer algumas linhas sobre o topo da hierarquia dos vários governos africanos serão avançados, de um modo geral, alguns aspectos julgados comuns, ainda que possam ser discutíveis. Esta dificuldade resulta dos diferentes níveis de comprometimento governamental relacionados com o desenvolvimento nos vários países africanos.
Os factos históricos têm mostrado que os que assumem os comandos do poder, geralmente, têm tendência a deixar para a posteridade a sua marca. Esta resume-se a obras feitas que contarão no futuro, quão importante foi o homem que comandou os destinos do País dos anos X a Y. Ficam para a história e são sempre lembrados segundo a máxima “contra factos não há argumentos!”.
As necessidades políticas de um grupo levam-no a afirmar-se no tempo. Para que quererá tal grupo o poder? Para a simples satisfação do “ego colectivo”? Ou o seu maior objectivo é o de abraçar o poder no intuito de proporcionar o bem-estar aos seus concidadãos? É aceitável, até certo ponto, que erros políticos ocorram durante a vigência do mandato de um ou outro magistrado máximo de uma ou outra Nação. Mas, não o é quando tal magistrado não consegue colher dos seus concidadãos o rol de críticas tendentes a emendar o seu exercício político, não opta em capitalizá-las em seu próprio benefício.
Ao que parece, e poucas dúvidas há, na hierarquia do poder político e não só, do topo à base, todos pautam em levantar bem alto a bandeira de “classe dominante” com vista à cega submissão dos outros. Só é dominante quem exerce o seu poder independentemente da posição em que se encontra nessa cadeia desde que tenha e detenha parte da fatia desse grande poder. Poucos desses indivíduos aceitam correcções porque julgam que não estão para servir mas para servir-se do poder. Isto é mais sintomático quanto mais baixo for o nível de desenvolvimento de um determinado País. Os países pobres africanos confirmam, na essência, esta regra. Não se trata do problema de existir ou não coragem para corrigir o que está mal; o “boss”, sozinho, é que é obrigado a descobrir o que está errado para merecer o respectivo mérito e grandeza construídos pela psicose do “culto da personalidade”. Não pode o cliente mostrar ao mecânico que este está errado pois, segundo a ala doentiamente conservadora, isso transmitirá sinais de incompetência e de fraqueza, o que não é bom. O “boss” é um “sabe tudo”, superdotado! No fundo, o maior objectivo dos que o rodeam (neste caso) é o de deliciarem-se com umas boas gargalhadas nos momentos de lazer. E onde as deliciam? Nos lugares onde fomentam as más línguas, onde todos querem ouví-los, pois estão ávidos de segredos.
Muitos dos governos africanos lidam com estes problemas. Mas, muito mais que isso, gerem impactos de uma paralisia económica que se agrava crescentemente por falta de esforços fisioterapéuticos endógenos. Perante tal acomodação perigosa julgam que os esforços exógenos são a solução. Daqui deriva uma pobreza mental em cascata que vai afectar até ao mais distraído dos pacatos cidadãos conformado com o seu modo de vida. Este, por si, já é resultante de um ciclo de pobreza familiar intra e inter geracional. E, o que fazem os que assumem os comandos do poder político, os governantes? Passam mandatos inteiros a prometer e a “sacudir as pulgas” àqueles que os elegeram. Não fazem, falam. Quando fazem, fazem-no para benefício próprio. É claro que isto só é verdadeiro em países africanos que ainda estão longe de se emanciparem, onde as ditaduras da corrupção e do analfabetismo passeam a sua classe, onde o povo só é útil na altura de eleições, onde os pastores culpam as ovelhas pelo seu emagrecimento enquanto eles engordam os seus impérios económico-financeiros. Magras, as ovelhas conformadas, nem cartazes de protesto conseguem levantar. Âh, essas “massas frias”, que pobreza mental!
Os povos africanos, de um modo geral, têm sido cada vez mais socializados com uma série de aspectos negativos (alguns acima referidos) que fomentam o recuo em termos de ambições de desenvolvimento nacional. E a classe dirigente, fica perturbada? Quem sabe? A verdade é que esta está, isso sim, interessada em proteger a todo o custo a sua posição social. Deste modo, dificilmente tendem a deixar para a posteridade a sua marca em termos de obras realizadas. E o País, o que ganha?
Cá entre nós: nos governos africanos, de um modo geral, os indivíduos tendem a ajudar-se entre si, em primeiro lugar, por laços familiares. Em segundo, por laços étnicos ou tribais. Será? Em terceiro, por afinidades políticas. Em quarto, pela causa da nação. Em quinto, como no primeiro. E, tudo se repete. O limite, infelizmente, é ainda a fronteira nacional.
SAVANA – 13.08.2010