Verónica Macamo disse que a problemática do roubo de gado em Magude era séria. Pelo menos 23 cabeças de gado haviam sido roubadas em diversos pontos do distrito quando a presidente da Assembleia da República realizou jornadas parlamentares àquele ponto da província do Maputo, de sexta a sábado.
Segundo afirmou, o que pode ser feito para estancar a onda de roubo de gado é uma interacção com o Governo para que sejam encontradas medidas tendentes a fazer face ao mal. Mas, defendeu, as comunidades devem “cerrar fileiras” no sentido de garantir a auto-protecção.
“O que me disseram é que quem facilita esses malfeitores, esses ladrões de gado, são os vosso próprios filhos. O que nós pensamos é que tem de haver um esforço conjugado. O Estado vai cumprir o seu papel, que é de reforçar as medidas de segurança, mas também as populações devem reforçar a vigilância. E isso é um contributo para que os mais jovens saibam que para se viver bem neste mundo tem de ser com o seu próprio esforço. Não tem que se recorrer ao suor alheio”, disse.
O distrito de Magude possui actualmente cerca de 68 mil cabeças de gado bovino, contra os cerca de cinco mil no período do fim da guerra. Já chegou a atingir mais de 100 mil cabeças antes. Para além do roubo, a situação é agravada pelos animais, com destaque para leões, que pululam sobretudo na zona de Mapulanguene. Trata-se de animais que se evadem do Krugger Park, na África do Sul.
A-propósito do fenómeno, o primeiro-secretário do Partido Frelimo no distrito, Agapito Nhantumbo, explicou que o que muito se lamenta são os estragos provocados pelos animais, sobretudo os elefantes, que destroem as culturas dos camponeses. Em Mapulanguene, segundo Agapito Nhantumbo, os leões já devoraram oito cabeças de gado.
“Depois duma acalmia no que diz respeito ao roubo de gado, voltamos outra vez a viver este fenómeno. O que estamos a estranhar é que há envolvimento de pessoas encarregues de cuidar do mesmo gado. Isso fica um pouco complicado de combater, porque trata-se de um roubo coordenado com as próprias pessoas que estão com a responsabilidade de cuidar dos animais. Neste momento estamos com uma média de duas a três cabeças que diariamente são roubadas. A Polícia quando toma conhecimento vai ao terreno, procura falar com o próprio dono das cabeças e procura verificar as pistas que possam conduzir ao veredicto. Já houve momentos que se descobriram os autores, mas também houve casos que não deixaram pistas”, disse, acrescentando que situações houve em que as vítimas fizeram justiça pelas próprias mãos.
Soubemos que nalguns casos o envolvimento das pessoas encarregues de cuidar o gado deve-se ao não pagamento de salários pelos donos das cabeças. Apurámos que normalmente se trata de rapazes que pontualmente não são pagos pela responsabilidade que assumem. A tradição local é que ao pastor de gado é oferecido anualmente uma cabeça de gado pelos serviços prestados, ao invés de pagá-lo com regularidade.
Agapito Nhantumbo disse que os larápios utilizam várias manhas para lograrem os seus intentos. Trata-se de pessoas identificadas como provenientes da capital do país. Normalmente, o transporte dos animais é feito via Moamba, um distrito que faz fronteira com Magude.
Sobre o conflito Homem-animal, sobretudo em Mapulanguene, a presidente da Assembleia da República defendeu que o que deve ser feito é um esforço conjugado no sentido de que os operadores locais, particularmente os ligados ao ecoturismo, procedam à vedação das terras que exploram para que os animais fiquem confinados a um lugar. Um dos operadores existentes em Mapulanguene é a Safari Mondzo, Lda. Trata-se duma fazenda que lida com animais bravios estabelecida na zona desde 2007. A empresa já procedeu à vedação eléctrica de pelo menos 19 quilómetros de extensão do total da área que lhe foi concessionada.
Aliás, uma das queixas apresentadas pela população de Mapulanguene à presidente da Assembleia da República relaciona-se com o facto de alguns operadores locais procederem a despedimentos de trabalhadores alegadamente sem justa causa e sem indemnização.
O “Notícias” soube que alguns camponeses são relutantes em abandonar as áreas concessionadas aos operadores, o que origina conflito de interesses. A este propósito, Verónica Macamo afirmou que o problema é que alguns camponeses não possuem títulos de uso e aproveitamento de terra, porque também não estão a ser atribuídos. Porém, segundo afirmou, os operadores devem cumprir com as suas obrigações para que as populações possam levar as suas vidas em paz.
Sobre a reabertura da fronteira, uma das preocupações manifestadas pela população de Mapulanguene, a presidente da Assembleia da República afirmou que o assunto está ligado a várias nuances. A fronteira está encerrada desde os tempos da guerra. Um dos cuidados que se tem para que ela não seja reaberta, segundo Verónica Macamo, é o risco que os camponeses correm justamente na zona do Krugger Park, devido aos animais ferozes.
Mas os camponeses de Mapulanguene assim não entendem. Consideram que a reabertura da fronteira seria um passo gigantesco para alavancar o desenvolvimento da zona, pois as suas transacções comerciais com a vizinha África do Sul seriam muito mais facilitadas do que até agora acontece. Segundo soubemos, para normalmente se deslocarem ao país vizinho os residentes de Mapulanguene têm que fazê-lo via Moamba.

PROGRESSO NÃO VEM DO CÉU
Para além da sede distrital, a presidente da Assembleia da República escalou, sucessivamente o povoado de Facazissa e o posto administrativo de Mapulanguene. Orientou um encontro do Governo Distrital alargado a quadros e líderes locais, visitou uma machamba de produção de hortícolas pertencente a um cidadão beneficiário do Fundo de Desenvolvimento Distrital e esteve numa conversa à volta da fogueira.
No povoado de Facazissa, Verónica Macamo participou duma cerimónia tradicional de “kuphahla” e interagiu com os camponeses locais. Falou dos instrumentos aprovados pela Assembleia da República na última sessão e da função dos deputados. Disse que o Programa Quinquenal do Governo visava, fundamentalmente, o combate à pobreza e que só com o trabalho é que se podia lograr este objectivo.
Em Mapulanguene, Verónica Macamo visitou o local onde foi aprisionado e morto Maguiguana Khossa, chefe guerreiro do Império de Gaza, em resistência à ocupação colonial. Orientou um comício popular em que também falou dos instrumentos aprovados pelo Parlamento e da função dos deputados.
No momento interactivo, a população apresentou preocupação, sendo que em resposta às questões que lhe foram apresentadas a presidente da Assembleia da República afirmou, didacticamente, que o progresso não vem do céu.
Tanto no povoado de Facazissa como em Mapulanguene a população falou das dificuldades que enfrenta no dia-a-dia. Para além do roubo de gado, a principal aflição, foram apontadas dificuldades tais como a falta de água, insuficiência de postos de saúde ou de serviços por estes prestados, escolas, energia eléctrica, transporte, estradas em condições precárias, escassez de chuvas, entre outros desafios.
Porém, o Fundo de Desenvolvimento Distrital acalenta alguma esperança no seio dos camponeses. Muitos não conseguem devolver o valor alocado, por várias razões, dentre elas a escassez de chuvas e a problemática do roubo de gado. Mas em Mapulanguene, por exemplo, os sete milhões estão a mudar a vida de alguns camponeses, segundo informação prestadas à presidente da Assembleia da República, em comício popular.
Num balanço com jornalistas, a presidente da Assembleia da República disse que apesar das dificuldades ainda persistentes a vida do distrito de Magude está a mudar para o melhor. “Ainda subsistem problemas. Ainda é necessário mais água, melhorar as estradas, aumentar a energia e o número de escolas. Em Facazissa, por exemplo, os populares disseram que gostariam de ter mais turmas para elevar o nível de ensino. Mas encontrámos uma população bastante animada e comprometida com a luta contra a pobreza. Isso faz-nos acreditar que, efectivamente, a luta contra a pobreza vai ser tenaz e vai nos permitir lograr sucessos a breve trecho”, disse.