Canal de Opinião: por Matias Guente Do ponto de vista emocional, qualquer psicólogo minimamente treinado aconselhar-nos-ia a respirar fundo. A institucionalizar a calma. Do ponto de vista lógico, o filósofo pedir-nos-ia para não tentar inferir o silogismo, sob o risco de parar no psiquiatra. Do ponto de vista teológico, qualquer sacerdote submeter-nos-ia a um acto dogmático de fé resumido em: “continue na palavra de Deus e seja paciente. A verdade prevalecerá”. |
Um diário da praça tem vindo a provar que o negócio dos biométricos da SEMLEX é tudo menos legal. Um negócio embriagado de irregularidades, com um único propósito: drenar dinheiro para certos fulanos. O negócio é tão pornográfico, como diriam os portugueses, que ninguém sabe explicar! Apenas fede à máfia, burla entre outras coisas de índole ilícita.
São perguntas básicas que estão sem resposta do Governo neste negócio. Desconfiámos logo, de primeira, dos preços praticados por essa SEMLEX que o ministro do Interior e da Planificação e Desenvolvimento juram ser de verdade, enquanto as evidências mostram exactamente o contrário.
Quando a máfia começou, toda a imprensa perguntou quem era, afinal, a SEMLEX, para produzir documentos tão importantes para nossa privacidade e segurança, como os documentos de identificação? Porquê o contrato do negócio dá avultados lucros a essa tal de SEMLEX, do que propriamente aos moçambicanos, neste caso ao Estado? Ficámos a saber que, por exemplo, num documento produzido pela SEMLEX, o Estado ganha cerca 17 porcento do custo, e o resto, isto é, cerca de 83 porcento vai para a SEMLEX. Mais claro: num passaporte (custa 3000 Mts), a SEMLEX ganha 2490 Mts, enquanto o Estado ganha 510 Mts. A mesma conta faz-se nos BI’s. Que negócio é este?
Quais foram os critérios para a escolha da SEMLEX?
Ninguém respondeu a estas perguntas e se aproveitando da maravilhosidade do povo moçambicano, a SEMLEX, aliás, e Gangsters Associados, Lda. começaram a operar.
Mas como me referi foi preciso seguir o conselho do sacerdote: esperar pela verdade porque ela sempre vem. Acabámos por ficar a saber que afinal a SEMLEX, quando começou a operar em Outubro de 2009, não estava registada. Porque isso só veio a acontecer no dia 29 de Junho deste ano, e o registo provisório no dia 30 de Junho. O contrato determinava que a SEMLEX só entrava em vigor 60 dias após ser visado pelo Tribunal Administrativo. Isso significa que há toda uma teia de cumplicidade nessa burla.
Ainda estávamos a gerir a burla, e eis que nos aparecem novos dados. Afinal, não se sabe onde funciona essa tal de SEMLEX. No negócio, disse ao Governo que funcionava num local, onde afinal funciona outra empresa, que nada tem a ver com Passaportes, BI´s biométricos. Quem explica essa mega-burla?
Como está claro, há muitas zonas de penumbra neste negócio. Não se sabe, por exemplo, por que é que a DIC continua a fazer transferência directa dos valores das receitas para a SEMLEX, coisa que não está prevista no acordo?
Quem inaugurou os serviços da SEMLEX foi o chefe do Estado, que pode muito bem, pedir aos senhores que estiveram em frente do negócio, para explicarem aos moçambicanos o que se está a passar.
Deixem-se de retóricas e digam-nos quem são, afinal, os donos dessa vossa imaculada SEMLEX! O povo moçambicano tem o direito de exigir que não o continuem a burlar.
(Matias Guente)
CANALMOZ – 27.08.2010