Destaco:
Li o depoimento do reverendo Daniel José Sithole mais uma vez. Em Outubro de 1981 gravei e traduzi o seu depoimento de português para inglês e não guardamos a fita de gravação. Então, para nós a versão portuguesa não era questão. Queríamos só colocar o material em inglês para uma transmissão massiva do documento pelo mundo fora -- o que conseguimos fazer com grande êxito. Isto explica porque este documento ainda flutua, e se encontra nos arquivos dos governos ocidentais, principalmente no governo americano, e nas organizações internacionais, enquanto outros tais como a Revolução moçambicana atraiçoada dos estudantes moçambicanos nos Estados Unidos contra Eduardo Mondlane e a sua liderança e outros estão extintos. Traduzir o documento de Sithole não reproduzira as palavras exactas de Sithole, mas é uma boa coisa para ajudar os historiadores que se engajam em pesquisas históricas para dados que nunca obterão da Frelimo que não revelará os seus malfeitos a quem quer que seja. A informação contida no depoimento faz parte da nossa herança historia, mesmo que a tal herança nos choque. O cidadão tem o direito de saber o que o seu governo, neste caso o governo da Frelimo, fez e tem feito. Dado o facto que a tradução do depoimento pode levar muito tempo, por eu andar muito ocupado com tarefas de varias ordens principalmente as académicas, pensei que seria genial fornecer alguns pontos salientes deste documento para o leitor da expressão portuguesa e para aqueles que não podem ler em inglês. O documento por mim não passado a maquina profissionalmente está num bom inglês -- num inglês de alto nível que não precisa de ser editado, quando tiver quer clarificar reescrever as palavras que agora já não se lêem bem. Fui capaz de ler tudo, mesmo as palavras que não aparecem bem. Uma grande parte documento contem detalhes que este resumo não pode abranger -- nem de longe. O que não entendo é o que a Frelimo esperava ganhar com este tipo de governação. Torna-se também claro que a Frelimo não estava de nenhum modo preparada para governar o pais -- o que explica a razão dela ter lançado o pais num estado de terror, impondo medo que era para ela ser temida e respeitada.
Já no principio do depoimento, Sithole diz que a Frelimo começou a culpar dirigentes da oposição pelas mortes de Eduardo Mondlane, Filipe Magaia, Samuel Kankhomba, Silverio Nungu. Não há dúvida que esta era uma manobra da Frelimo para perseguir e depois liquidar os oponentes como autores de mortes que eram orquestradas dentro da própria liderança da Frelimo, por dirigentes da Frelimo proprios e entre eles -- uns contra outros. Uma outra acção da Frelimo foi o de perseguir e destruir a classe média ou a burguesia que constituía 9% da população -- burguesia esta que integrava brancos e negros. A Frelimo passou a prender os estrangeiros, fuzilando alguns, expulsando outros e nacionalizando os seus bens que passavam a ser propriedades dos lideres e comandantes da Frelimo. Para sobreviver, muitos estrangeiros e nacionais tinham que fazer favores aos comandantes da Frelimo, pondo a disposição de tais comandantes suas filhas, irmãs ou quaisquer familiares femininos. Sithole da uma lista de nomes de moçambicanos e zimbabaweanos que foram executados pela Frelimo por alegadamente terem feito vai-e-vens entre a fronteira, acusando os moçambicanos e moçambicanas de prestarem serviços à resistência e os zimbabwenos e zimbabweanas de serem agentes do regime de Ian Smith. O reino de terror forçou membros da oposição a se refugiarem na Rodésia e na África do Sul. A primeira campanha do governo de Samora Machel tinha o código de Campanha contra a Prostituição e o Banditismo. Em poucos dias esta rusga deteve 15,000 pessoas entre as quais crianças, mulheres grávidas e velhotes -- por volta de 3,500 na província de Manica, dos quais 500 foram soltos quando o reverendo Sithole protestou ao comandante Jehova da Frelimo em Manica. As prisões de Moçambique estiveram cheias e não havendo mais lugares, a Frelimo instituiu então os campos de reeducação, que são na verdade campos de concentração, por toda a parte de Moçambique principalmente em Gorongosa na província de Sofala, na Zambezia, em Niassa, Cabo Delgado e Nampula. Os campos mais notórios eram MOÇAMBIQUE D, RUARUA, CHAIAMITE -- todos em Cabo Delgado e operados pela SNASP de Sérgio Vieira. Em Moçambique D, os chefes e guardas tinham a liberdade de executar qualquer pessoa a qualquer tempo quando lhes apeteciam. Lá se podem ver os crânios e ossadas de milhares de vítimas do terror da Frelimo. Algumas vítimas eram enterradas vivas. Não havia comida para alem de milho podre chamado MANGANHOLA, que nem sempre havia. Em vez de mata-bicho, prisioneiros recebiam chambocadas. Recebiam chambocadas três vezes por dia -- de manha em vez de mata-bicho, ao meio dia e de tarde antes de irem dormir. Havia também células subterrâneas, nas portas das quais se faziam fumaçadas para castigar os que estavam dentro. O estado da Frelimo, assumindo as suas características fascisto-comunistas, proibiu os moçambicanos escutarem a BBC e a Voz da América que designou como emissoras imperialistas, e ordenou que as pessoas escutassem só a Rádio de Moçambique. Qualquer pessoa apanhada a escutar as ditas emissoras imperialistas era logo enviada para os campos do norte ou fuziladas. Sithole apela a Amnistia Internacional, o comité internacional da Cruz Vermelha e outras organizações para investigarem aquilo que ele relata no seu depoimento. Apelou também aos governos ocidentais, principalmente ao governo americano, para agirem contra o regime da Frelimo com sanções, se fosse possível. Sithole fala também da guerra civil contra a Frelimo, sublinhando que no seu esforço para abafar a oposição armada, cometia muitos massacres da população, culpando depois a resistência e as forças rodesianas. Admite, porem, que ele não sabia muita coisa sobre as estruturas da MRNM (Movimento da resistência nacional moçambicana). Acusa a Frelimo de engajar milhares de mercenários soviéticos, cubanos e tanzanianos para lutarem ao seu lado e apela ao governo da América para exigir a retirada destes mercenários. O documento contem 14 páginas cheias de detalhes que não é possível incluir aqui, incluindo a morte trágica do comandante Francisco Ndewe, aliás Muthamanga, de Sofala que se criticou e se insurgiu contra as matanças na província de Sofala. A Frelimo teve que enviar tropas de Manica para abafar a revolta levantada por Ndewe. Muthamanga terminou por ser enviado a Cabo Delgado por duas vezes. Pela segunda vez, foi executado em público, tendo um membro da população quebrado a sua cabeça em duas partes com uma espada e outros cortado os seus órgãos sexuais para fins de cuchecuche ou de feitiçaria. Este o resumo muito curto do depoimento, A Tragédia moçambicana, do reverendo Daniel José Sithole, que Gil teve a amabilidade de colocar no Moçambique para todos quando eu já pensava que tínhamos perdido traços deste documento tão valioso como aconteceu com tantos outros documentos históricos moçambicanos.
Francisco Nota Moisés
NOTA:
Este e outros documentos que me façam chegar serão aqui colocados, não por amabilidade, mas por imperativo de consciência, caro Nota Moisés. Desde que comprovadamente credíveis.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/08/o-mo%C3%A7ambique-para-todos-continua-a-receber-depoimentos-sobre-a-realidade-vivida-pelos-que-passaram-por-campos-de-reeduca%C3%A7%C3%A3.html