O porto da Beira estará a ser utilizado para o carregamento de areia proveniente dos campos diamantíferos de Marange no sudeste do Zimbabwe, com destino à China, onde o produto é processado para seleccionar diamantes que depois são vendidos no mercado mundial de jóias, revela uma reportagem do jornal londrino Daily Mail, publicada no dia 18 de Setembro.
Os diamantes zimbabweanos têm sido motivo de grande controvérsia internacional devido às alegações de maus tratos contra a população de Marange, na província oriental de Manicaland, junto à fronteira com Moçambique.
Devido a esta controvérsia, o Zimbabwe tem estado sob um forte escrutínio do Processo de Certificação de Kimberley (KCP), uma organização internacional que controla os movimentos internacionais de diamantes, com vista a impedir que gemas daquela espécie extraídas em condições sub-humanas ou suspeitas de fomentar potenciais conflitos sejam vendidos livremente.
O KCP foi criado em 2003, e tornou-se particularmente notável durante a guerra da Serra Leoa, onde diamantes extraídos naquele país eram vendidos para financiar um movimento de guerrilha que se notabilizou no mundo pela sua impiedosa brutalidade.
De acordo com a reportagem, alguns diamantes são transportados por via aérea directamente a partir de Marange, enquanto outros são levados para uma base militar perto de Harare. Camiões cheios de areia extraída dos campos atravessam a fronteira para o porto da Beira, de onde a carga em bruto é transportada de navio para processamento na China.
Uma vez processadas, as melhores pedras são utilizadas para fabricar jóias que são colocadas no mercado internacional através de intermediários na Índia e no Médio Oriente. As outras são aplicadas na indústria, contribuindo para o crescimento da China como uma nova potência mundial.
Moçambique tem sido visto nos círculos da indústria diamantífera internacional como sendo o principal país da região onde os “diamantes de sangue” zimbabweanos, como são chamados, são “lavados” antes de entrarem no mercado convencional.
A cidade de Manica, a 20 quilómetros da fronteira com o Zimbabwe, tornou-se nos últimos tempos um centro internacional de comercialização de diamantes contrabandeados a partir do Zimbabwe. Gente de todas as nacionalidades pode ser encontrada lá, especialmente libaneses e chineses.
O SAVANA tentou sem sucesso buscar algumas reacções dos gestores do Porto da Beira, a Cornelder de Moçambique (CdM). Carlos Alberto Fortes Mesquita, accionista e um dos gestores da firma, lamentou não ser útil ao jornal por se encontrar na África do Sul. Contactado por vias de terceiros, o chefe das operações no Porto da Beira, conhecido por Eng. Belo, prometeu dar alguns esclarecimentos ao jornal, mas quando o SAVANA o contactou não atendeu o telemóvel. Consta que é igualmente a partir do Porto da Beira onde habitualmente entram armas provenientes da China para o Zimbabwe.
Hezbollah
Há especulações de que parte do dinheiro resultante da venda dos diamantes zimbabweanos em Manica é utilizada para financiar o movimento Hezbollah, que a partir do Líbano tem lançado ataques contra Israel. Estas suspeitas terão em parte sido cruciais na decisão de Israel e dos Estados Unidos de votarem contra a admissão do Zimbabwe no KCP, durante uma reunião realizada em Junho, em Tel Aviv.
Uma nova pista de altos padrões foi construída em Marange, mas aviões que aterram e descolam do local não possuem planos de voo nem detalhes dos seus destinos.
O Daily Mail diz ter obtido documentos secretos que revelam que a empresa que detém os direitos de mineração dos diamantes de Marange tem o nome de Mbanda Diamond Company, tendo como testa de ferro Robert Mhlanga, piloto pessoal de Robert Mugabe. Os seus sócios são Deng Hongyan, Zhang Shibin, Zhang Hui, Jiang Zhaoyao e Cheng Qins, todos de nacionalidade chinesa.
Campos militares foram estabelecidos ao longo do perímetro da zona de mineração, para impedir a entrada de pessoas não autorizadas.
Praticamente, o acordo secreto existente entre os dois países permite que diamantes não polidos sejam exportados para China, sendo parte do pagamento feito em equipamento militar.
Acredita-se que com esta parceria, Mugabe nunca abandonará o poder, mesmo que seja derrotado nas eleições, como aconteceu em 2008. Mugabe já demonstrou que quando se trata de manter o seu poder, a crueldade não tem limites. Esta parceria estratégica com a China servirá exactamente para esse propósito.
SAVANA – 24.09.2010