Os antigos combatentes moçambicanos vão realizar uma manifestação nacional no dia 22 de Outubro, para pedir ao Governo a “requalificação das pensões e salários condignos”, disse hoje o presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra.
Há muito que os ex-combatentes da guerra civil moçambicana tem vindo a pedir ao executivo moçambicano o aumento das pensões que, mensalmente, são de 1300 meticais (27 euros), salário mínimo fixado pelo Estado para a classe mais baixa em Moçambique, constituída por trabalhadores da agricultura.
“Vamos parar quando o Governo pagar pensões condignas”, garantiu Hermínio dos Santos, o presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra, uma das várias associações de ex-militares moçambicanos, constituída por 14 mil membros.
Segundo o presidente do Fórum, “o pedido de realização da manifestação vai ser submetido no dia 12 de Outubro e no dia 22 vai haver a manifestação a nível nacional”.
Hermínio dos Santos, que falou à margem do debate “18 Anos de Paz: impressões e desafios para o futuro”, defendeu que “cada desmobilizado deve receber 12,5 mil meticais (252,8 euros)”, tendo em conta o custo de vida actual.
A 25 de Setembro, quando o país celebrou o Dia das Forças Armadas, o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, admitiu não poder falar de “pensões condignas nem de vencimentos condignos”.
Na opinião do ex-militar, as palavras de Armando Guebuza “chocaram os desmobilizados”, “são uma ofensa psicológica e moral”, visto que “o Governo tem dinheiro”.
“Não estamos a falar de coisas que não existem. Há países que estão a contribuir para as pensões. Para onde vai o nosso dinheiro?”, questionou.
O presidente do Fórum contesta ainda o valor do fundo anual de quatro milhões de meticais (cerca de 85 mil euros), recentemente criado pelo executivo para projectos de reinserção social dos antigos militares.
Segundo Hermínio dos Santos, “dá 297 mil meticais (seis mil euros) a cada associação, mas o dinheiro não é para nós, é para o funcionamento das associações”. “É para entreter os desmobilizados”, acusou.
“Essa democracia, que está a ser violada pelo Governo foi conseguida pelos desmobilizados”, prosseguiu o ex-combatente, que “apela à comunidade internacional para que fale com Dhlakama (líder da RENAMO, partido na oposição), para que os ex-guerrilheiros, que estão no mato se juntem a nós e tenham exigências iguais”.
Em Agosto, Hermínio dos Santos esteve detido dois dias, antes de ser absolvido do crime de desobediência qualificada, de que tinha sido acusado, depois de ameaçar convocar manifestações para exigir o aumento das pensões.
Pela actuação ilegal dos polícias que detiveram o presidente do Fórum e pelos danos morais causados, a defesa intentou um processo-crime a pedir a responsabilização criminal e civil dos agentes e do Estado, cuja data de julgamento será conhecida para a semana, adiantou Hermínio dos Santos.
“A FRELIMO é uma máquina de assassinos, não reconhece a democracia, e o julgamento vai ser a favor dela, pois não há separação entre o Governo e a FRELIMO. Mas eu vou, eu tenho razão”, assegurou.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS – 30.09.2010