Razões para lamentações na sede distrital de Meconta são inúmeras e os respectivos residentes já consideram a situação como destino seu.
Tais problemas não são apenas sentidos pelos habitantes da sede distrital de Meconta, mas ressaltam à vista de qualquer um que por algum motivo se faz àquela parcela do país, localizada a cerca de 74 quilómetros da capital provincial de Nampula.
Para adquirir, por exemplo, produtos alimentares de primeira necessidade, os habitantes de Meconta recorrem ao posto administrativo de Namialo, o mesmo acontecendo com os utentes do serviço pré-pago – Credilec- da Electricidade de Moçambique e os funcionários públicos quando precisam de levantar os seus salários. A distância entre os dois pontos é de mais de 40 quilómetros, o que implica custos financeiros adicionais decorrentes do transporte.
Aliás, a situação faz com que a maior parte dos funcionários públicos afectos à vila-sede de Meconta, fixem as suas residências em Namialo, que é igualmente destino de muitos, em detrimento da sede distrital de Meconta. Muitos empresários que queiram desenvolver qualquer que seja o negócio, “piscam olho” àquele posto administrativo que se situa em pleno coração do Corredor de Nacala.
Verdade, porém, é que mesmo com a energia da hidroeléctrica de Cahora Bassa e água canalizada, a vila-sede de Meconta não tem sequer uma pensão em condições para não falar de uma única padaria. Os residentes que não querem consumir o pão de fabrico caseiro têm de ir a Namialo ou Nampula.

NATURAIS CHAMADOS A INVESTIR NA TERRA...
PARA a maior parte dos residentes da vila sede de Meconta que, ao que nos apercebemos, não são naturais daquela região, são de opinião que os filhos desta terra podem desempenhar um grande papel para relançar o desenvolvimento da zona que, como dizem, tem tudo para alcançar este objectivo.
Um deles é Anselmo Africano que vive na vila sede de Meconta há oito anos. Africano, um docente, afirma conhecer muitas pessoas naturais daquela região que vivem e residem nas grandes capitais provinciais do país, com bens de fazer inveja a qualquer um, mas que nada fazem para inverter o cenário que caracteriza a sua vila natal.
“Nós sentimos que o Governo fez tudo que estava ao seu alcance, mas os maiores culpados são os naturais desta terra que não pensam no seu desenvolvimento e duvido que alguém que vem de fora possa fazer aquilo que é da responsabilidade dos “donos” da terra. Algumas pessoas que conheço quando vêm visitar os seus familiares, apesar de levarem uma vida luxuosa nos locais onde agora fixaram residência, têm vergonha de passar uma única noite na cabana em que os seus familiares vivem”, disse Africano.
Para este professor do ensino secundário, a mudança de mentalidade poderia ajudar a inverter a situação de pacatez da sede distrital de Meconta. A nossa fonte não concorda com o argumento de ter sido desviado o troço da estrada principal que liga as cidades de Nampula e Nacala e vice-versa, como sendo a principal causa do atraso da região, como advogam algumas pessoas.
“O desvio da estrada nacional até Meconta, de apenas quatro quilómetros, não pode ser a causa principal das dificuldades com que a zona se confronta, porque conheço sedes distritais que estão a mais de 20 quilómetros da estrada nacional, como por exemplo, Muecate, Lalaua, o posto administrativo de Corrane, e que estão em franco desenvolvimento, como resultado do envolvimento do factor humano”, sentenciou Anselmo Africano.
Outros factores que podem impulsionar o desenvolvimento, segundo o nosso entrevistado, têm a ver com a instalação de um centro internato para os alunos obrigados diariamente a fazer dezenas de quilómetros para encontrar uma Escola Secundária, a montagem de uma cabina para a compra de Credelec ou a montagem de uma caixa automática - ATM – de uma instituição bancária.
César Machado, natural de Meconta, é o único agente económico que explora o ramo hoteleiro, actividade que desenvolve a pouco menos de dois anos para, segundo ele, minimizar o problema que alguns viajantes tinham em passar refeições quando se deslocassem para aquele ponto do país em missão de serviço àquela zona do distrito.
“Era normal ver pessoas que vinham para cá em serviço terem que interromper o seu trabalho para viajarem a Namialo para comer qualquer coisa, para depois regressar, numa distância de 50 quilómetros. Agora pelos menos podem encomendar algo aqui na minha barraca”, indicou César Machado.
Entretanto, sente na pele algumas dificuldades que enfrenta para levar a cabo a sua actividade de hotelaria, porque para adquirir produtos essenciais que utiliza na confecção do seu cardápio de refeições, tais como o alho, a batata, cebola, tomate e outros ingredientes tem que se deslocar a Nampula ou Namialo. O mesmo acontece em relação às bebidas.
“Imagine que para fazermos depósitos nas instituições bancárias temos que gastar 50 meticais. Para comprar energia de 100 meticais temos que gastar 50, mesmo para adquirir pão. Esta situação desencoraja a muitas pessoas que gostariam de ter energia eléctrica nas suas casas”, observou Machado.
Um outro aspecto que não escapa a ninguém e que de alguma forma contribui para a situação por que passa a vila sede de Meconta é o facto de a maior parte dos funcionários e agentes do Estado, incluindo alguns que ocupam cargos de direcção, terem as suas residências em Namialo, o que implica que no final do dia, quando termina a jornada laboral, tenham que se fazer à estrada para fazer mais de 40 ou 50 quilometros.
“Preferimos viver em Namialo porque as coisas são mais baratas que aqui em Meconta, apesar de termos que gastar cinquenta meticais em cada viagem. Mas alguns colegas já têm transporte próprio que lhes facilita a circulação”, disse por seu turno um guarda prisional que não quis ser identificado.

TRABALHAR PARA INVERTER O CENÁRIO
A NOVA administradora do distrito de Meconta, Rosa Vianeque, é das poucos funcionárias do aparelho do Estado que tem permanecido na vila-sede do distrito e reconhece os problemas que resultam da inexistência de certos serviços públicos. Lembrou, no entanto, que o Governo tem feito aquilo que é a sua principal tarefa, nomeadamente a instalação de energia eléctrica da rede nacional, abastecimento de água, reabilitação das estradas, entre outras obras.
“A minha constatação é que ainda temos um grande trabalho para que a nossa vila-sede se reerga. A exploração de mercados existentes, estabelecimentos comerciais, armazéns não podem ser da responsabilidade do Executivo. Notámos também que muitos empresários viram as suas atenções para a vila de Namialo em detrimento da sede distrital”, observou Rosa Vianeque.
Para ela, os grandes investimentos feitos pelo Governo para prover serviços como a energia eléctrica, por exemplo, não está a surtir os efeitos desejados pois, segundo aquela responsável, sendo a maior parte dos consumidores ligada à rede, através do sistema pré-pago, não faz sentido que para aceder àqueles serviços tenham que percorrer mais de 40 quilómetros.
- Luís Norberto