ASSOCIAÇÕES de defesa do meio ambiente evocam graves e irreparáveis danos ambientais para se oporem ao uso dos rios Chire e Zambeze como rota preferencial para a importação dos países do hinterland, tais como a Zâmbia e o Malawi que têm vindo a insistir na necessidade de terem acesso ao mar, por aquela via, facto que incluiu tentativas abortadas de usar barcos no transporte de adubos e fertilizantes por parte do último país.
Segundo referem, a Bacia do Zambeze já sofre impactos de diversas infra-estruturas ou actividades nela realizadas. Kariba, HCB, Kafue, projecto de Mphanda Unkuwa, causam impactos que devem ser reunidos e avaliados juntamente com este do transporte agora proposto.
Anabela Lemos, da Justiça Ambiental, disse à nossa Reportagem que esta nova proposta deve ser avaliada num estudo em que se tenha em conta todos os impactos cumulativos das estruturas ou actividades que mais afectam a gestão da Bacia do Zambeze, incluindo os impactos da Vale.
Segundo opinião comum das organizações da sociedade civil contactadas pelo “Notícias” a ter que se declarar navegável o Zambeze, tal implicaria, em primeiro lugar a dragagem do canal para que tenha profundidades uniformes entre 3 a 5 metros. Esta dragagem, segundo apontam, é o ponto mais crítico dos possíveis problemas ambientais cujo impacto poderá ser sentido ao longo de gerações.
Segundo dados que nos foram facultados por Anabela Lemos, a proposta de estratégia do Delta do Zambeze especifica que não é permitida a dragagem no Delta. Além disso, Moçambique é um dos signatários da Convenção de RAMSAR que proíbe a dragagem do Rio Zambeze devido aos impactos que poderá causar. Sendo assim, Moçambique tem como obrigação assumir o seu compromisso.
Basicamente, a dragagem do rio terá impactos imediatos na pesca, agricultura, pecuária e a conservação ao longo do grande Zambeze.
Como resultado, os tributários vão deixar de receber água com a mesma regularidade, não inundando naturalmente as áreas adjacentes e as lagoas afectando, deste modo, a segurança alimentar das comunidades locais devido ao empobrecimento dos solos e desertificação das áreas que deixarão de ser alagáveis.
Outra questão apontada pela nossa fonte tem a ver com as mudanças climáticas. O que está previsto é que ocorra uma possível escassez de água e seca da região circundante da Bacia do Zambeze. Nestas condições, é provável que o caudal diminua e a profundidade escavada deixe de ser suficiente para a navegação, sendo necessário aumentar mais e mais e com frequência a profundidade do canal.
Fontes contactadas pela nossa Reportagem, entre as quais a Justiça Ambiental, a WWF, a Kuwula (Juventude, Desenvolvimento e Ambiente) são concordantes com relação à posição do Governo, segundo a qual deve haver um estudo pormenorizado do impacto ambiental antes de se avançar para a navegabilidade.
Segundo avançam, a dragagem do Rio Zambeze irá acelerar os já críticos problemas de erosão ao longo do Rio e propiciar o agravamento da intrusão salina cuja mitigação passa por soluções tecnológicas difíceis de conceber.
Outra das preocupações é o aumento do movimento e do tráfego, em locais onde as condições de bens e serviços são muito escassas e precárias, onde a pobreza, a falta de informação e a vulnerabilidade das pessoas é preocupante.
O transporte não será de modo algum um factor atractivo ao investimento turístico na região que é uma das áreas mais frágeis com impacto na comunidade de búfalos, hipopótamos e crocodilos.
“São necessários estudos sérios e encontrar melhores alternativas em defesa do interesse nacional e não avançar para projectos difíceis de harmonizar”, disseram as nossas fontes.
Lourenço Marerua da WWF, defende a propósito que seria de capitalizar outras alternativas como a linha-férrea que não tem o mesmo perfil de impactos.
“Estamos disponíveis para apoiar e aconselhar os governos envolvidos no projecto ou mesmo a empresa que venha a realizar o estudo de viabilidade que quanto a nós é importante”, disse.
Por seu turno, Camilo Nhacale, da Kuwula, disse que é preciso fazer valer as normais internacionais no que se refere à partilha de água e respeitar a soberania dos estados.
Mais do que isso, é necessário diálogo para a busca das melhores soluções porque qualquer modificação que venha a ser feita tem impacto em todo o percurso.
“O custo ambiental é bastante superior ao económico porque dura toda a vida”, acrescentou.
António Reina, da Livaningo, defende que navegar o Zambeze para além de problemas ambientais, vai implicar também complicações sociais.