“Cahora Bassa delenda es - Cahora Bassa deve ser destruída - foi a palavra de ordem com que ele (Eduardo Mondlane) galvanizou os combatentes da Frelimo na destruição do grande projecto económico imperialista visando perpetuar a dominação do nosso povo.”- In Voz da Revolução, Junho de 1969.
Isto está escrito. Mas ouçam, logo no início do video, o que hoje se diz e afirma em
http://www.macua.org/guerrajf/guerrajf21.html
Claro que Mondlane já não existe para reafirmar o que vem na "Voz da Revolução" de Junho de 1969,
Mas, é assim que a FRELIMO vai contando a sua história. Como Cahora Bassa se tornou um alvo impossível, os actuais generais justificam-se, adulterando as ordens que lhes foram superiormente dadas: "Cabora Bassa deve ser destruída".
Recordo aqui o publicado no MOÇAMBIQUE PARA TODOS, em 19.11.2006, sobre esta matéria:
Segundo documentos da Frelimo
Mondlane ordenou destruição de Cahora Bassa
“Cahora Bassa delenda es - Cahora Bassa deve ser destruída - foi a palavra de ordem com que ele(Eduardo Mondlane) galvanizou os combatentes da Frelimo na destruição do grande projecto económico imperialista visando perpetuar a dominação do nosso povo.”- In Voz da Revolução, Junho de 1969.
“Penso que ele falava em destruir em virtude do projecto político-militar subjacente à construção de Cahora Bassa”- Mia Couto, escritor e biólogo
Maputo (Canal de Moçambique) - Documentos da Frelimo (Frente e não partido) referem que o primeiro presidente Frente de Libertação de Moçambique, Eduardo Mondlane, ordenou a destruição da Hidroeléctrica da Cahora Bassa que no ano da sua morte, 1969 altura em que começava a ser construída.
Os referidos documentos asseguram que a palavra de ordem “Cahora Bassa delenda est, Cahora Bassa deve ser destruída”, alegadamente dada por Eduardo Mondlane “galvanizou os combatentes da Frelimo na destruição do grande projecto económico imperialista visando perpetuar a dominação do nosso povo”. Contudo, os relatos da época não se referem a nenhum ataque levado a cabo pelos combatentes da Frelimo que pudesse levar a destruição do empreendimento que mesmo depois da proclamação da independência de Moçambique em 1975 continuou a ser detido maioritariamente pelo Estado português. Aliás, só muito recentemente a terceira maior barragem hidroeléctrica de África passou para as mãos o Estado moçambicano que passa a ter 85% das acções da mesma contra 15% do Estado português. Na ocasião em que foi assinado o Acordo de Reversão do empreendimento para mãos moçambicanas, o presidente da República, Armando Guebuza, disse que, “este acto remove do nosso solo pátrio o último reduto, marco da dominação estrangeira de 500 anos” o que segundo ele, representava “a segunda independência nacional”.
Ordem não cumprida?
Os factos conhecidos da época da luta armada mostram que os combatentes da Frelimo nunca chegaram a constituir uma séria ameaça a construção da Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Pelo menos, não são conhecidas operações militares dos guerrilheiros da Frelimo que denotassem que estavam a cumprir a palavra de ordem dada por Eduardo Mondlane. São várias as correntes que tentam explicar esta situação de certo modo anormal, se levarmos em linha de conta a ordem do primeiro presidente da Frelimo. Uma das correntes encontra explicação para o facto da Frelimo não ter empreendido “ataques sérios” contra Cahora Bassa, “no forte dispositivo militar montado pelos portugueses para proteger o local de eventuais ataques dos guerrilheiros da Frelimo”. Esta corrente defende que o local onde se construía Cahora Bassa era “praticamente inacessível” para os guerrilheiros da Frelimo. Uma outra corrente tenta explicar assunto escudando-se numa alegada “ordem superior dada aos guerrilheiro da Frelimo para que não atacarem Cahora Basssa”. Esta corrente denota um contra-senso na medida em que supõe-se que a ordem de Eduardo Mondlane, também fosse “superior”.
Em contacto com o «Canal de Moçambique», o biólogo e escritor Mia Couto disse acreditar que “ Mondlane falava em destruir Cahora Bassa em virtude do projecto político-militar subjacente a construção da mesma”. Certa literatura associa a construção da Hidroeléctrica de Cahora Bassa a ideia do regime colonial de criar uma zona tampão para impedir a progressão dos guerrilheiros da Frelimo que progrediam no sentido Norte-Sul.
Na mesma ocasião, Mia Couto disse fazer parte dos milhões de moçambicanos que vibraram com a reversão da Barragem para as mãos do Estado moçambicano. Contudo, não escondeu o seu cepticismo porque, na sua opinião, “Cahora Bassa é de moçambicanos e não dos moçambicanos”. Para escritor e biólogo, o empreendimento localizado no rio Zambeze “passou agora para as mãos da elite moçambicana e não para as mãos do povo moçambicano”.
(Celso Manguana) –CANAL DE MOÇAMBIQUE – 20.11.2006
MOÇAMBIQUE PARA TODOS complementa este texto com a transcrição abaixo do livro de Eduardo Mondlane LUTAR POR MOÇAMBIQUE:
Tete e a nova ofensiva
Quando as forças militares da FRELIMO saíram da província de Tete, depois da primeira fase da guerra, ficaram membros secretos para dirigir a mobilização política e preparar condições para uma futura reabertura desta frente. Pelos fins de 1967, consolidadas as vitórias em Cabo Delgado e no Niassa, e estando já as nossas forças a dirigir-se para o sul, estavam criadas as condições para um alargamento da guerra em direcção a Tete. Finalmente, em Março de 1968, começaram as primeiras operações militares.
Esta nova fase da guerra é especialmente importante, pelos planos militares e económicos que os Portugueses tinham feito para esta área. Tete é uma região chave de Moçambique: o grande rio Zambeze passa pelo centro dessa região; a província possui consideráveis recursos económicos e é atravessada por importantes vias de comunicação, incluindo a estrada principal de Salisbury a Blantyre; num eixo norte-sul, ela atravessa mais ou menos o centro do país.
Os Portugueses tinham inicialmente planeado duas linhas de defesa. A primeira era a de Nacala-Maniamba, que as nossas tropas romperam quando estenderam as operações para Macanhelas, no extremo sul do Niassa. A segunda linha de defesa é
o rio Zambeze. Há grande concentração de tropas ao longo do rio e, além disso, os Portugueses planeiam instalar um milhão de colonos no vale, para constituírem uma barreira às nossas forças. Assim, do ponto de vista militar, todo o vale do Zambeze
é extremamente importante.
A área de Tete tem adquirido também considerável importância como resultado do recente plano de desenvolvimento ligado com a barragem de Cabora Bassa. Tete tem das terras mais ricas de Moçambique e a agro-pecuária está razoavelmente desenvolvida, em especial a criação de gado. Há importantes jazigos de minerais que até agora foram pouco explorados. O plano prevê o desenvolvimento de todos estes
recursos, em grande parte pela instalação de colonos ao longo da linha defensiva. A própria barragem fornecerá energia para várias indústrias com base nos produtos da região, assim como água para irrigação dos novos projectos agrícolas. O local de Cabora Bassa é portanto um dos alvos mais importantes nesta fase da guerra.
Esta área é também crucial no vasto contexto da aliança sul-africana. Ao sul, Tete faz fronteira com a Rodésia, e assim o progresso da nossa luta aqui é de grande interesse para as forças de libertação do Zimbabwe. De mais imediata importância,
porém, é o compromisso da própria Africa do Sul. Esta está a assumir grande parte da despesa da construção da barragem e espera absorver considerável proporção da energia produzida. Portanto, em Tete estamos a entrar em conflito directo com a África do Sul, que está tão preocupada com os seus interesses que já mandou tropas para proteger o local da barragem. As nossas forças observaram um batalhão de soldados sul-africanos em Chioco e várias companhias em Chicoa, Mague e Zumbo.
O exército sul-africano está extremamente bem equipado com o mais moderno material do Ocidente e a presença dessas tropas tornará sem dúvida a luta mais dura. Mas tem-se visto claramente nos últimos dois anos que os Portugueses desejavam
ansiosamente obter assistência directa da África do Sul e sabíamos que, eventualmente, à medida que avançássemos para o sul, cresceria a ameaça da África do Sul. O facto de já estarmos a encontrar soldados sul-africanos é um sinal de como a guerra tem evoluído rapidamente; isto indica a nossa força e a fraqueza dos Portugueses.
Além disso, a presença dos sul-africanos não nos impediu de tomar a ofensiva em Tete. A 8 de Março montámos várias operações simultâneas: uma emboscada perto da aldeia de Kassuenda; emboscadas na zona de Furancungo, Fingue e vila Vasco da Gama; um ataque contra o posto inimigo de Malavela. Nestas operações foram mortos pelo menos doze soldados portugueses, incluindo um sargento; e em Malavela foram
destruídas quatro casas, um camião e o depósito da água.
(Págs. 177/178/179)