A ACTIVISTA de Direitos Humanos, a moçambicana Graça Machel, recebeu quarta-feira uma homenagem da Universidade de São Paulo (USP) em nome do marido, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, reconhecido com o título de Doutor Honoris Causa, a maior homenagem concedida a alguém que não fez carreira na USP.
Na ocasião, Graça Machel falou com optimismo sobre o futuro do continente, apesar dos desafios sociais “enormes”.
No seu discurso, Graça Machel disse estar emocionada e justificou a ausência de Nelson Mandela, de 92 anos, afirmando que ele se retirou da vida pública e não faz mais viagens internacionais.
A moçambicana fez a palestra de abertura do primeiro Seminário Internacional do Centro Ruth Cardoso, que discute democracia, empreendedorismo social e desenvolvimento sustentável. Ao encontrar o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, ela lhe entregou um presente enviado por Mandela: uma cópia em inglês do seu mais recente livro, “Conversas que Tive Comigo”.
No seminário, Graça Machel falou dos desafios do Continente Africano “África está a mudar para melhor”, afirmou. “Nunca houve tanta esperança quanto agora.”
Com trabalho direccionado principalmente aos direitos das mulheres, ela comemorou o aumento da participação política das africanas onde disse, “pagam o preço mais caro da injustiça social”.
Graça Machel considera importante a recomendação da União Africana, feita em declaração solene aprovada em 2007, para que os 53 países-membros tenham pelo menos 50 porcento dos cargos do Parlamento e do Governo ocupados por mulheres.
Segundo Graça Machel, o Ruanda já superou a meta, tendo 56 porcento de mulheres no Parlamento e 50 porcento no Governo. Outros países, porém, ainda não ultrapassaram 30 porcento.
“A implementação deste tipo de política não ocorre de forma uniforme, pois cada país tem uma dinâmica”, explicou. “Mas, em geral, há um esforço para aumentar a participação feminina nos órgãos centrais.”
Actualmente, a activista concentra-se em projectos que procuram ampliar o acesso da mulher a recursos financeiros, para que possam deixar o sector informal e abrir o seu próprio negócio.
A activista afirmou que o seu envolvimento com a luta pelos direitos das mulheres e crianças não foi uma “escolha intelectual”, mas, sim, um “compromisso de vida” motivado principalmente por experiências pessoais.
Por ter perdido o pai antes de o mesmo nascer, Graça cresceu tendo como referência de duas mulheres: a mãe e a irmã mais velha. Apesar das difíceis condições económicas, Graça e os cinco irmãos foram incentivados pela mãe a estudar.
“Ela ensinou-me que a origem social não determina quem você é e quem você pode ser”, disse Graça. “Cresci com a orientação de que não havia limites para o que eu poderia realizar.”
Na sua trajectória, ela destaca dois momentos: a actuação na Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), movimento fundado em 1962 que lutou pela independência do país, e a participação na elaboração de um relatório da ONU de 1990 sobre o impacto dos conflitos armados na infância.
Em viagens a vários países quanto Colômbia e Líbano, ela emocionou-se com a realidade de mães e os seus filhos. “Até hoje me lembro dos olhos daquelas crianças”, afirmou.
- AIM