35.º Aniversário
Por Cor. Manuel Bernardo
(…) Sobre o 25 de Novembro não quero contestar nada do
que foi referido pelo General Ramalho Eanes, pelo Capitão
Sousa Gonçalves e pelo Coronel Manuel Bernardo (…)
General Jaime Neves in “(…) os 25 Anos do 25 de Novem-
bro” / 2001.
(…) Importante é sublinhar o patriotismo e a capacidade de
comando do Coronel Jaime Neves, que soube travar em
condições dificílimas, o ímpeto combativo dos seus ho-
mens, de modo a minimizar as perdas humanas nos confron-
tos da Calçada da Ajuda. (…).
General Ramalho Eanes, in “25 de Novembro (…)” / 2005
Neste 35.º aniversário do contra-golpe do 25 de Novembro de 1975, surgiu uma estranha máquina de movimentação e manipulação da Comunicação Social, que, em vez de salientar o ocorrido nesta data, onde foi reposta a intenção de montar em Portugal (depois concretizada) uma democracia pluralista, à semelhança das que estavam em vigor na então designada Europa Ocidental, viria a destacar uma notícia requentada da acusação feita pela PJ a três oficiais do Exército e dois civis, e que terá seguido para o Ministério Público. Isto segundo o diário “Público”, que não os identifica.
Qual não foi o meu espanto quando um amigo me avisa para comprar o “Correio da Manhã” desse dia 25 de Novembro de 2010. Em “caixa alta” surge na página 19, o título “Coronel louvado suspeito de burla”, seguido do destaque – “Jaime Neves comprava material de manutenção para o Exército a preços elevados para favorecer amigos. (…)”. Era uma estranha situação já que este diário sempre se mostrou disponível para enaltecer as virtudes militares e os valorosos actos praticados naquela época, quando Portugal esteve à beira da guerra civil.
O que sucedera então? Na minha opinião, duas jornalistas (Ana Isabel Fonseca e Tânia Laranjo) com uma certa “esperteza saloia” e talvez por pressão de alguém, que no ano passado tanto contestou a promoção do Coronel Jaime Neves ao posto de major-general, resolveram fazer uma peça jornalística, direccionada para leitores apressados e que certamente acabariam por ser “levados” por tal maniqueísmo. Para dar mais consistência ilustraram o texto com uma foto, com tropa dos “Comandos” a marchar. E devem ter apanhado distraída a direcção do jornal, pois conseguiram a sua publicação!!! Quer nesse texto, quer no do dia seguinte, em tamanho muito reduzido (tive que “passar” o jornal por duas vezes para a encontrar), a “tentar” reparar as insinuações feitas, Jaime Neves nunca foi tratado por general, que é o seu posto actual. E para quem ainda não sabe, acrescento que o acusado Jaime Manuel Rodrigues Neves, referenciado no texto, era um oficial de Administração Militar (açoreano) em relação a factos eventualmente praticados há mais de dez anos.
Lembro que, em vez de ser feita a celebração de uma efeméride muito importante para Portugal e onde se conseguiu terminar com a loucura revolucionária generalizada do pós-25 de Abril de 1974, as várias estações de televisão, no passado dia 25 de Novembro (35.º aniversário), que me lembre, não se dignaram empenhar uma única equipa de reportagem para se deslocar ao Centro de Instrução de Tropas Comando, na Serra da Carregueira, onde o General “Comando” Pinto Ramalho, Chefe do EME, presidiu à cerimónia alusiva a tão relevante acontecimento.
Outros esquecimentos…
Muito mais grave tem sido a atitude tomada pelas mais altas hierarquias do Estado, Assembleias da República, Governos e Presidentes, em relação aos apelos formulados ao longo dos anos, quer pelos Presidentes da Associação de Comandos, quer por mim próprio, para que os principais obreiros do 25 de Novembro fossem devidamente galardoados com louvores ou condecorações, pelos altos e relevantes serviços prestados à Pátria nesta data. Foram os oficiais, sargentos e praças que, nessa altura e depois do serviço militar cumprido (a maior parte, senão a totalidade em combate, nas três frentes de guerra), vieram da vida civil para integrarem as Companhias de Comandos 121 e 122, comandadas respectivamente pelos Capitães Mil.ºs Sousa Gonçalves (já falecido) e Sampaio de Faria.
Aquando do 25.º aniversário, durante cerca de dois meses e nas instalações municipais de Oeiras, decorreu uma reflexão sobre os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975. O Comandante (Piloto) Vítor Ribeiro, então Presidente da Associação de Comandos, faria uma boa síntese do estado de espírito do pessoal dos “Comandos, heróis da Guerra do Ultramar (veja-se, por exemplo, o número de condecorações “Torre e Espada” atribuídas a militares com esta especialidade) e também neste pequeno rectângulo à “beira mar plantado”:
“(…)
- Os nomes do Tenente de Inf.ª José Coimbra e do Furriel Mil.º Joaquim Pires, mortos em 26-11-1975, no cerco ao Reg. de Lanceiros 2, por pessoal desta Unidade, foram esquecidos e só são hoje lembrados pela Associação de Comandos.
- Os convocados foram antecipadamente devolvidos à vida civil; muitos ficaram sem os seus empregos. Teve a Associação de Comandos de lhes dar o apoio possível, depois de já ter dado esse mesmo apoio a “Comandos” retornados de Angola e Moçambique. Mais tarde, viria a apoiar os “Comandos” do Batalhão da Guiné, que conseguiram fugir para o Senegal (para não serem fuzilados), onde os fomos buscar, trazendo-os para a Associação de Comandos, dando-lhes alimentação, alojamento e, posteriormente, emprego.
- Os poucos convocados que se puderam manter no serviço activo, mormente oficiais e alguns sargentos, pertencem hoje ao quadro técnico e secretariado. Não receberam louvores nem condecorações. O Coronel Jaime Neves passou à reserva. O Regimento de Comandos, depositário de tradições e experiências únicas, de um espírito de corpo que permitiu actuar decididamente em situações de evidente inferioridade, foi extinto.
- Assim foram recompensados os “Comandos”!
Lembro pessoas que tiveram grandes responsabilidades políticas, como o Dr. Almeida Santos e Prof. Barbosa de Melo, ex-Presidentes da Assembleia da República, que até hoje nenhuma homenagem patrocinaram por estes “Comandos” convocados. O primeiro esteve presente nas sessões realizadas em Oeiras no 25.º aniversário. O segundo foi quem apresentou, no 30.º aniversário, o meu livro acima referido (em co-autoria com Proença Garcia e Rui Fonseca) – “25 de Novembro de 1975; Os «Comandos» e o Combate pela Liberdade”, no Instituto de Defesa Nacional. O mesmo aconteceu com o Prof. Cavaco Silva, a quem, em 2007, ofereci um exemplar deste livro com idêntico apelo.
Assim, neste dealbar do ano de 2010, apelo, mais uma vez, aos meus amigos, que se encontram na Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva, actual e futuro chanceler das Ordens Honoríficas de Portugal, que façam algo por esta causa. Eles, os “Comandos” convocados, merecem e a Pátria deve-lhes essa homenagem.
E termino recordando o que reporta o poeta José Caniné sobre este tema:
“Abril sempre”, gritam mil,
E eu com eles grito, embora,
Complete o meu “sempre Abril”
Com o “Novembro” a toda a hora.
Cor. Manuel Bernardo
27-11-2010