Nas regiões costeiras
A população das regiões costeiras da província de Inhambane está a beneficiar da actividade turística para melhorar as suas condições de vida. Pessoas das comunidades que outrora viviam da pesca e da agricultura de subsistência, hoje trabalham nas estâncias turísticas e têm rendimentos que ajudam na construção de casas melhoradas, compra de material escolar para seus filhos, aquisição de outros bens e serviços que antes só eram acessíveis a mineiros que trabalham na vizinha África do Sul.
A reportagem do Canalmoz escalou a região costeira de Conguiana, situada a cerca 20 quilómetros da capital provincial, a cidade de Inhambane, e pôde testemunhar o desenvolvimento, ou pelo menos a mudança de estilo de vida das populações locais, catapultado pelo turismo.
Naturalmente que a população de Conguiana vê com bons olhos a implantação de cadeias de lodges naquela zona, pois para além de permitir a geração de empregos, impulsionou a abertura de vias de acesso, furos de água, construção de escolas, centros de saúde e outros serviços básicos indispensáveis.
Ricardo Guilamba disse que antes da implantação das estâncias turísticas na sua povoação, ele, tal como muitos membros da comunidade, dedicava-se à pesca artesanal como meio de sobrevivência, mas desde a implantação dos lodges passou a dedicar-se à construção de casas turísticas que são feitas com base em material local e hoje já a sua vida mudou.
“Nunca imaginei que um dia pudesse deixar de ser pescador. Agora estou afecto no centro de mergulho, recebo turistas e acompanho-os para qualquer lugar que quiserem”, disse explicando que o seu trabalho às vezes implica levar os visitantes a passear de barco até ao alto mar.
O contacto com os turistas permitiu de igual modo ao Ricardo, aprender a língua inglesa, facto que o “orgulha”.
Como fruto de trabalho junto das estâncias turísticas, Ricardo conseguiu “construir uma casa com material convencional e sustentar as despesas da educação dos seus filhos”, algo que não era possível com a venda do pescado extraído em pouquíssimas quantidades através da pesca artesanal.
Outro testemunho é de Orlando Nhampossa, natural de Inharrime e residente na cidade de Inhambane. Está afecto na cozinha de um lodge designado Barra Lodge. Disse que foi contratado exclusivamente para cozinhar e que se sente realizado com o que faz.
“Além de cozinheiro, sou músico, tenho um álbum preparado mas o que ganho aqui dá para me aguentar e prefiro continuar a dedicar-me nesta actividade”, disse orgulhando-se por alegadamente “confeccionar pratos que são saboreados por personalidades nacionais e internacionais”.
Júlio Guirruta é um dos vendedores no espaço que foi montado para funcionar como Feira Municipal de esculturas no interior do lodge. Lá existem cerca de 20 bancas onde são vendidas diversas obras de esculturas feitas localmente e outras adquiridas nas cidades de Maputo e nas províncias de Sofala e Tete. Por aluguer destes espaços, o município cobra 200 meticais por mês a cada vendedor.
“O Barra Lodge é visitado semanalmente por um Cruzeiro com turistas que saem da África do Sul e escalam Maputo, Bazaruto e Ilha de Moçambique.
Existem outros que vêm de carros ou de avionetas. Todos querem levar daqui uma lembrança’’, disse explicando a oportunidade de negócios que tem naquela feira artesanal.
Os maiores clientes da Feira Municipal são turistas que se hospedam no lodge ou que o escalam de passagem vindos navio de Cruzeiro. Guirruta disse-nos que mensalmente se desloca a Maputo para adquirir esculturas no valor de 10 mil meticais e lhe dão de lucro valores que variam entre 5 e 7 mil meticais.
Segundo relatos dos residentes da zona, esta estância veio impulsionar uma outra dinâmica nos bairros Josina Machel, 7 de Abril, Machavenga e Bambuza, em, Conguiana.
Mais de 200 trabalhadores prestam serviços na Barra Lodge como efectivos.
Há outras centenas de pessoas que são contratadas em regime sazonal quando aparece trabalho temporário. Por exemplo, actualmente está a decorre a montagem de casas pré-fabricadas. Centenas de trabalhadores estão envolvidos.
Pouco mais de 200 empregados moçambicanos estão afectos a sectores de manutenção, mecânica, carpintaria, electricidade, serventes de quartos, centros de mergulho, restaurante, cozinha, pesca no alto mar, passeio de cavalos e motas de quatro rodas.
O “Barra Lodge” faz parte de uma cadeia de outras estâncias espalhadas na província de Inhambane como Dive Flamingo, Barra Dive Centre, Bambuzi, Pedreira, Pomene, Mavandza, cujo gestor é um holandês radicado na África do Sul.
Para além lodge que visitámos por ocasião do Festival do Tofo que este ano mais uma vez se realizou na Barra em fez do Tofo, há em Inhambane uma imensa oferta turística semelhante aos empreendimentos do Barra Lodge.
Praia de Tofo sob ameaça de extinção
Entretanto, se medidas urgentes não forem tomadas pelo Governo, as construções mais próximas do litoral na praia de Tofo, vizinha do Barra, poderão ser engolidas por ondas violentas que tem vindo a fustigar aquela praia. O paredão que havia sido construído para sustentar as areias que por seu turno suportava as águas, há muito que cedeu à pressão erosiva.
Isto já tem efeitos. Por exemplo, no passado fim-de-semana, o festival de Tofo, embora sem mudar o nome, foi realizado na praia de Barra. O areal da Praia do Tofo ora aparece, ora desaparece. Há períodos em que o mar quase entra pela zona urbanizada. A margem de praia, no Tofo, não dá para tanta gente como a que é normal afluir ao Festival. Já deu. Agora a praia está de novo com muita areia, mas recentemente o mar chegou a derrubar muitas árvores que protegiam a zona urbanizada.
O areal da Praia da Barra é maior e mais estável. Dá para albergar mais pessoas.
O Festival do Tofo este ano voltou a ser na Barra. Ambas praias ficam na costa norte da península de Inhambane.
(Cláudio Saúte)
CANALMOZ - 29.11.2010