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Posteriormente foi feito um apelo para que se apresentassem, voluntariamente elementos dos Comandos e dos GEs que pudessem divulgar nomes de oficiais que enquadraram massacres ocorridos na guerra colonial. Respondendo ao apelo apresentaram-se diversos elementos que mantiveram, por ordem do Presidente Samora, o anonimato, tendo contribuído para a transposição de um dos mais odiosos massacres ocorridos em Moçambique, um massacre que provocaria a indignação da comunidade internacional, Wyryamu.
Um dos voluntários começou por dizer:
- “Numa manhã de Dezembro de 1972, estivemos estacionados junto de um rio, Nessa manhã, a 6.ª Companhia de Comandos, comandada pelo capitão Belo, e um grupo de cerca de dezoito elementos da PIDE comandados pelo Chico Feio de Tete, avançaram por grupos, tendo um avançado do lado Sul do rio e outro grupo do lado da estrada Tete-Vila Manica. Avançámos e chegámos a um certo lugar e ficámos lá. Na parte da tarde, por volta das 14 horas, tomámos conhecimento que o 4." Grupo tinha caído numa emboscada junto a um aldeamento onde tinha ido para capturar um régulo. Vimos sair helicópteros da cidade de Tete que carregaram se não me falha a memória o 1.º e o 3.º grupos e comandante da companhia capitão Melo. Minutos depois sobrevoaram, a zona 4 caças bombardeiros "G-91" Fiat, largaram bombas e começámos a ouvir tiroteio no meio, Entretanto, o alferes do meu grupo, chamado Abreu recusou-se depois a avançar.”
Apresentou-se depois um outro ex--comando quo esteve no grupo que montou a segurança ao aldeamento de Wyryamu durante a ocorrência do massacre. Ele forneceu mais detalhes sobre o acontecimento, tendo explicado que quem comandou a operação no dia 18 de Dezembro de 1972 foi o 2.º comandante da companhia, capitão Belo por se encontrar na altura de férias o primeiro comandante. Por outro lado, a ordem para a missão teria imanado do comandante da Zona Operacional de Tete coronel tirocinado pára-quedista Martins Pereira.
A ordem dada foi de "derrubar tudo o que estava em pé" e de "liquidar tudo o que se movesse'. Enquanto os comandos montavam a segurança os Pides prosseguiam os interrogatórios na tentativa de saber quem era o régulo e quais os elementos da população que apoiavam a FRELIMO. Como os interrogatórios se revelassem infrutíferos o capitão dos Comandos teria discutido com o Chico Feio para que terminassem a operação.
Este e os seus correligionários, entretanto, insistiram que a missão fosse levada até ao fim. O comandante então afastou-se e continuou a manter a segurança. Os Pides, entretanto, iam juntando a população aos grupos e lançando granadas para o meio dela.
Assim foram massacradas mais de 100 pessoas que seriam enterradas apenas 12 dias mais tarde por um grupo de Comandos que saiu secretamente durante três dias da cidade de Tete para o efeito.
Os minutos deste relato do massacre de Wyryamu, contados na primeira pessoa", foram dos mais dramáticos e emocionantes da reunião.
Seguidos num silencio denso e carregado do peso, do sacrifício e da dor consentidos pelo Povo moçambicano na luta contra as diversas máquinas de repressão colonial
NOTÌCIAS – 07.06.1982