(Resposta ao Texto Abaixo de Eduardo Marques), Parte 1
“Acho que terão havido coisas boas, sobretudo para os colonos.
Mas basta ler "Como eu Atravessei a África" de Serpa Pinto, para perceber a abissal diferença entre a colonização portuguesa e inglesa por altura do tal "mapa cor-de-rosa", onde se vislumbra um pequena sombra de acção civilizadora, há meros 130 anos, quando já lá estávamos há 400?.
Agora acho também que os problemas dos países ex colonizados são em grande medida os mesmos do pais colonizador, a sua estreiteza de visão e a falta justamente dum projecto de civilização.
Quanto aos problemas nossos, não sou eu que sou pessimista, como dizia alguém até acho que sou optimista. Quando digo que isto só está mal isto de facto está é péssimo.
Pessimista aliás é a visão diária da crise, da fome, do apelo à solidariedade, dum país estado de choque e de guerra virtual, já que o Estado se tornou ineficaz e deixou de ser Republicano, apesar de que a ajuda de milhares de milhão aos bancos e especuladores, essa não pára. Logo que há dinheiro há, a questão é de sua distribuição, logo da decisão politica.
Há uma meia dúzia de anos que li "Confissões dum Assassino Económico" de John Perkins, e desde então na medida que o discurso oficial, repetia o da cartilha por esse autor anunciada, que tinha previsto que a crise, justificativa de uma pesada predação sobre os mais carentes, se ia seguir.
Mas seguramente que a competência técnica deste tipo de governo é muito maior do que os anteriores, "sabem bem da poda", têm os melhores técnicos a orientá-los. Igualmente que a leitura do livro de Herbemont "A estratégia do Plano Lateral" reforça a mesma visão e fundamenta-a, até lhes interessa parecer incompetentes, pois o objectivo é esconder os seus sinistros objectivos.
E quem foi o deputado que foi a uma reunião internacional, com "steering group" anglo saxónico, em junho de 2004, e que passados poucos meses era SG do partido no governo e pouco depois PM? É o que se chama subida de catapulta, normal?!.
Poderia ainda ilustrar com uma sessão internacional, onde o Governo mostrava como exemplo de ONG de boa colaboração com o Governo o caso da Misericórdia de Lisboa...
Palavras para quê, são artistas nacionais. Se quiserem mais pormenores perguntem ao Henrique da Cais que igualmente assistiu.
Saudações.”
Antes do mais um essencial esclarecimento – sou apoiante acérrimo do eng. Sócrates primeiro ministro, mas não sou um socialista liberal como ele, ou um reformista como ele se assume.
Sou um apoiante acérrimo de Sócrates por uma simples razão – porque se esforçou por governar bem um país cheio de maus hábitos, convencido, pelo consulado cavaquista, que era um pais burguês e rico, só porque conseguira aderir ao euro, projecto aliás de Mário Soares e do PS e não de Cavaco Silva e do PSD, e estava a receber os financiamentos comunitários da União Europeia.
Essa boa governação implicou, desde o inicio da mesma, sacrifícios em nome do Futuro e não do amanhã.
Nesse percurso surgiu uma crise, imposta por aqueles que o John Perkins denuncia, (bem, muitos outros antes dele o tinham já feito), os que dominam os mecanismos da alta finança planetária, e que impuseram este modelo financista que domina o planeta desde que o Bush filho assumiu a Presidência da Republica nos EUA, e que originaram já várias crises regionais, menos vistosas que esta mundial que vivemos, porque regionais e porque longínquas, para os europeus, porque asiáticas.
Mas até 2008 a prestação económica e social portuguesa foi sendo positiva, mesmo que com uma perca em rendimentos reais, pois a divida publica e a divida externa estavam em processo de redução, o que só terminou com a explosão de 2008, (vejam as estatísticas…).
Na Saúde, na Educação, na Reforma da Administração Pública, na economia apesar de tudo, tudo melhorava e foi por tal que nem a mais brutal das campanhas contra o PS e Socrates que alguma vez se viu impediu a vitória eleitoral do PS e de Socrates, nas Legislativas e nas Autárquicas.
(E, nas Europeias, sucedeu o mesmo que está a suceder agora – o desencanto originou o absentismo no voto à Esquerda e daí a vitória do PSD…não se ponham a pau e não se queixem com a vitoria de Cavaco Silva e o neo liberalismo impante que daí virá…).
No entanto, assumo-me como socialista radical, anti estatista, defensor por isso da economia de mercado e, nela, da economia social, autogestionária, mutualista, cooperativa e associativa, onde entendo a economia pública, estatista, como um mero instrumento e não enquanto factor de progresso , seja na Educação, seja na Segurança Social, seja na Saúde, seja nos sectores económicos de actividade.
Por isso me assumo, no plano politico e social também como um liberal radical.
Assim, o Estado, enquanto distribuidor de recursos, gerado pelos impostos, não deve sentir-se obrigado a defender senão a aplicação desses recursos tal qual os Cidadãos o desejem, desde que os Mais Carenciados não estejam afastados dos Direitos Básicos – na Educação, na Saúde, na Habitação e no Bem Estar Mínimo.
Tal como na promoção da Igualdade de Oportunidades.
No entanto, estou bem convicto que não será por via da estatização da sociedade e da economia que se atingirá um sistema socialista. A URSS e os seus filhotes estão aí para o provar.
Agora tratemos do Império Português de quem sou, com honram, Filho!
Portugal nasceu sem duvida está historicamente demonstrado de uma conjugação de interesses – os Locais, dos senhores locais, com os dos Cruzados em especial dos Templários, dos quais Gualdim Pais, chefe militar de Afonso de Henriques, é o mais estimado exemplo, por ter, em caso único na Europa, acompanhado, por 40 anos, um rei, ele também Templário, que se auto impôs, o Afonso de Henriques, num processo expansionista que iniciou o processo de erradicação, deste canto da Península, o Islamismo expansionista e imperial também.
Deste processo nasceu um regime que Darcy Ribeiro denomina de Teocrático e que, numa economia sustentada para tal, originou, por via da manutenção, (somente em Portugal, em Aragão e na Escócia), dos Templários com simples mudança de nome, no Poder, a expansão portuguesa.
As alianças para que tal sucedessem foram múltiplas, e os confrontos no interior das Cortes também o foram, mas o processo expansionista está aí e surgindo de forma estranha desta minúscula parcela do canto da Europa que se denomina Portugal.
Os relatos das relações com o reino do Congo são múltiplos, mas irei somente citar um pequeno parágrafo de Ralph Delgado em Historia de Angola, “ À chegada a Portugal os Congueses foram carinhosamente recebidos, como foram esplendidamente tratados a bordo. D. João II exultou, ao vê-los, representantes que eram da fidalguia conguesa…com ensino dos usos portugueses e das práticas religiosas…”, para acentuar que mais que o desejo de exploração económica e de escravização social estava também inerente à expansão portuguesa, relevando o carácter Teocrático da mesma, a projecção da forma de estar e de viver dos cristãos no mundo.
Que houve esclavagismo, é impossível negá-lo, mas tal actividade era generalizada na época a todas as sociedades, que houve tentativa de exploração nos negócios idem aspas, mas tal era também generalizado.
Foi aliás por via desse processo que nasceu o Brasil, enquanto modelo social e económico mestiço que rápido se espalhou pelo continental europeu português conhecido em toda a Europa como o país dos mestiços e o primeiro a ter um primeiro ministro mestiço, o Marquês de Pombal.
Como seria aliás possível assumir a liderança de meio planeta senão por via da mestiçagem?
Costumo recordar que um milhão de cidadãos se espalharam e geraram domínios em meio mundo enquanto que a superpotência actual necessitou de 400 000 militares para ocupar a Iraque, (e com resultados bem pouco brilhantes).
Nunca me revi nas “estatísticas oficiais” portuguesas, é bom que se diga, pois as mesmas eram feitas por Velhos do Restelo, os que se mantinham no europeu continente e que se recusavam a reconhecer enquanto portugueses os mestiços, (e muito menos os negros), que ao contrario se iam reconhecendo e zangando com este estranho e minúsculo Império que sempre foi o português.
Daí que me ria sempre das estatísticas que dizem existir em 1900 cerca de mil brancos e dois mil mulatos em Angola, (como exemplo), e me ria ainda mais das estatísticas e contagens do nº de Negros, que em Angola e em face de uma desastrosa Guerra Civil passou de 6 milhões de Angolanos para os já oficialmente 16 milhões de Angolanos em 36 anitos….
Eram mais os brancos, eram mais, e bastante mais, os mestiços e eram mais, bem mais os Negros.
(Experimentem a mestiçagem numa sociedade de maioria “branca” e dá o quê, gente bem clara! Experimentem a mestiçagem numa sociedade de maioria “Negra” e dá o quê, gente bem escura, “Negra”!)
Divirto-me ainda hoje com os que saúdam Obama, (como eu saúdo), por ser Presidente da República dos EUA, mestiço de negro que é, não autóctone enfim, e me recusam a nacionalidade angolana por ser, vejam bem, não autóctone!
Dramas que o Império teceu e que se revelaram na sua fase final….
Mas só quem não viveu Angola, (a titulo de exemplo), pode relevar os impérios coloniais britânico e francês, ou verberar por igual todos eles, como faz Eduardo Marques.
E só quem não viu o desastre da colonização soviético cubana em Angola é que pensa poder distinguir a mesma em face da portuguesa.
Finalmente só quem não compara a riqueza, deixada, em ouro, (a título de mero exemplo), nas Igrejas Brasileiras, pode falar em espoliação portuguesa por comparação com a britânica e a francesa, ou a alemã.
Na verdade, e a titulo de exemplo também, só o Império português se trasladou do continente europeu para o americano levando para o Rio de Janeiro não somente um rei mas também uma corte com entre 15000 a 25000 membros ! Algo como 1% da população portuguesa mas sobretudo aquele 1%, a elite, de onde nasceu, claro, só podia, o Brasil!
Confundir a I Globalização com as II e III da Revolução Industrial e esta IV da Revolução Pós Industrial é confundir o bacalhau com um qualquer peixe seco, ( o que aliás também já está “conseguido”, com a destruição, claro, de mais uma, das raízes imperiais portuguesas…).
A expansão portuguesa desenvolve-se em um contexto mercantilista enquanto que as restantes em contextos industrialistas e pós industrialistas e só por isso elas são bem diferentes!
É num contexto bem mais ideológico que economicista que se pode analisar, e entender, a expansão portuguesa e é até nesse contexto que se pode perceber o carácter colonialista da I República, onde os seus leaderes procuram, sem o conseguir, criar um modelo diverso do Brasileiro, mas se esforçam por criar um modelo desenvolvimentista, assim como o carácter colonialista, mas já não desenvolvimentista, do modelo corporativista de Salazar.
E é esse modelo não desenvolvimentista que vai gerar o falhanço colonial português com 13 anos de guerra colonial estúpida e, quase, o desaparecimento do espaço de expressão portuguesa, por ocupação soviético cubana, o que só não sucede por duas razões – a primeira, o seu total fracasso, nos planos económico social cultural e politico e a segunda a auto destruição do próprio império soviético.
Basta ter visitado Angola, ou Moçambique, no pós Independência ver o fracasso, económico e social, destes países por consequência dos regimes que aí se instalaram, para entender que é no contexto do espaço de expressão portuguesa que os mesmos se podem desenvolver.
Infelizmente os Velhos do Restelo agora dominam em Portugal e têm sido eles a gerir os negócios com este s países de expressão portuguesa, esquecendo o essencial – a Cultura de Expressão Portuguesa!
Como, aliás, se envergonham da Cultura em Portugal, basta olhar para o estado decrépito dos Castelos, das Igrejas, dos fontanários em comparação com as rotundas e as auto-estradas onde Portugal abriu falência com o consulado cavaquista!
E para terminar assumo que há, sempre houve, uma Direita Imperial e uma Esquerda Imperial, como há uma Direita restelista e uma Esquerda restelista - o meu amigo Eduardo Marques é um dos exemplos da Esquerda restelista! – sendo hoje difícil, também por isso, o Diálogo à Esquerda!
Porque há campos onde Direitas e Esquerdas, em Portugal, se confundem bastante.
Exemplo? Os ataques serôdios de uma Direita restelista a Manuel Alegre acusando-o de “traição” quanto à questão colonial, quando, na verdade, quem traiu foram mesmo António de Oliveira Salazar e os seus capangas que com um golpe de mão afastaram Botelho Moniz de ministro do Ultramar, impedindo assim um processo pacifico e democrático capaz de sustentar o espaço de expressão portuguesa sem guerras!
Joffre Justino
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