Cheleua desmaia quatro vezes na cadeia
— “Olha, se eu estou nas celas, muitos administradores também deviam estar”, afirmou, justificando que muitos saíram ricos e ele ainda é pobre.
Por Nelson Carvalho, em Nampula
O antigo administrador de Erati, Agostinho Cheleua, é dado como tendo desmaiado quatro vezes nas celas da cadeia provincial de Nampula, onde se encontra detido há aproximadamente um mês sob a acusação de desvio de fundos do Estado, segundo revelaram ao SAVANA fontes familiares. Num dos desmaios, a direcção daquela instância prisional viu-se na contingência de evacuar o ex-administrador para o HCN
(Hospital Central de Nampula), onde recebeu tratamentos intensivos.
Ninguém conhece as reais causas dos sucessivos desmaios. Fontes próximas à primeira Esquadra especularam sobre supostas ameaças que Cheleua estaria a sofrer por parte de pessoas que o visitam," com destaque para colegas com quem trabalhava na articulação das manobras de desvio de fundos na administração de Erati e não só".
Vezes há que nós vemos pessoas, entre políticos e empresários, que vêm de Maputo, Nampula e Nacala-Porto para visitar Cheleua, disse um membro da PRM, acusando as mesmas pessoas de corromperem os guardas prisionais para terem acesso à cela do antigo administrador.
Outra fonte anónima indicou que os últimos três desmaios registados a semana passada, entre quarta e sexta-feiras, aconteceram depois de Agostinho Cheleua ter recebido oito (8) visitas em apenas três dias, de entre elas as de membros seniores do partido Frelimo e do governo provincial de Nampula. Declinaram nomear alguns nomes de destacadas figuras da Frelimo que desfilaram na cela de Cheleua.
As nossas fontes olham com alguma desconfiança para estas visitas, pois, no seu entender, no lugar de reconfortarem o detido, deixam-no tão mal que até desmaia.
SAVANA fala com Cheleua
Insatisfeito com estas especulações, o SAVANA foi até à primeira Esquadra para ouvir de fontes primárias sobre as circunstâncias em que ocorrem os desmaios. A nossa reportagem teve que pagar um valor de 20 meticais a um agente da PRM em serviço para ter acesso a uma conversa vigiada com Cheleua.
O detido confirmou o registo de quatro desmaios em menos de um mês, corroborando ainda que três deles aconteceram depois de ter recebido visitas de pessoas cuja identidade negou revelar.
O que Agostinho Cheleua não confirmou foram as ameaças apontadas como causas dos desmaios. "Não tenho colegas com quem trabalhei nem membros da Frelimo que me ameaçaram", disse, protestando a inocência nos crimes de que é acusado como a causa dos seus desmaios.
"A verdade é que na minha vida nunca entrei nas celas de uma cadeia. Se desmaio é porque sou inocente no caso de desvio de fundos do erário público", reiterou, visivelmente abatido.
A fonte falou de supostos maus tratos que está a receber na cadeia, lamentando ainda que muitos "camaradas" que eram seus amigos quando era administrador não o visitam e nem "mandam uma palavra de encorajamento".
"Quando eu era administrador era amigo de todos os camaradas", lembrou o administrador que em tempos foi considerado um dos melhores do país.
"Olha, se eu estou nas celas, muitos administradores também deviam estar", afirmou, justificando que "muitos saíram ricos e eu ainda sou pobre". "Para lhe ser franco, se tivesse dinheiro já teria saído das celas mediante o pagamento de caução. Mas nem dinheiro para isso tenho", disse.
Questionado sobre a identidade dos supostos administradores que saíram ricos, Chelua recusou-se a revelar nomes, alegando que as pessoas que o mandaram prender têm esses nomes. "Se não podem detê-los porque são pessoas com muitas posses financeiras", acusou, desesperado.
Recorde-se que o antigo administrador é acusado de se ter apoderado de cerca de quatro milhões de meticais, parte dos controversos sete milhões do Fundo para Iniciativas Locais.
- Consta que Cheleua terá usado o dinheiro para erguer um complexo para acomodação, denominado "Cabora Bassa é Nossa" e que está localizado em Namapa, vila sede do distrito onde ele trabalhava.
Ao que apurámos, para além deste caso, também estão em curso processos contra outros quadros do MAE que também estão envolvidos em crimes de desvios fundos do Estado.
- Uma das próximas vítimas poderá ser Carlos Amade, antigo administrador do distrito de Angoche, sobre o qual recaem várias acusações de má gestão de recursos do Estado, tendo inclusive sido expulso do aparelho do Estado.
SAVANA – 24.12.2010