Tráfico de pessoas em Moçambique
Duas menores de 9 anos e 11 anos de idade, foram raptadas na cidade de Chimoio e levadas para a cidade de Tete, onde foram mantidas em cativeiro por mais de um mês. Em Tete, as petizas estavam em trânsito. O destino final era o Malawi. A detenção da senhora responsável pelo rapto das menores permitiu que as crianças retornassem às casas dos seus pais. A reportagem do Canalmoz conversou com as duas meninas, na cidade de Chimoio, onde já estão reintegradas nas respectivas famílias. Elas narram os momentos vividos desde o rapto, transporte e cárcere.
Melita Horácio, de 9 anos de idade, e Linda Torres, de 11 anos, são as menores vítimas do tráfico. Contam que foram raptadas na cidade de Chimoio e traficadas para a cidade de Tete. O rapto aconteceu nos princípios do mês de Novembro. Inicialmente, as vítimas dizem que foram torturadas e injectadas com “drogas” nos cativeiros onde ficaram mantidas, ainda em Chimoio, antes de viajarem para Tete.
Segundo contaram ao Canalmoz, ambas residiam no bairro 5, em Chimoio. Dizem que foram convidadas por quatro mulheres, que supostamente facilitavam emprego doméstico na cidade de Chimoio, onde residiam.
As menores aceitaram o convite e partiram com as futuras patroas para conhecerem o local onde iriam trabalhar. Foi neste percurso que contam que foram levadas de táxi para uma zona distante do seu bairro.
Já ao anoitecer, as vítimas foram transportadas para uma casa distante, isso no período nocturno.
Linda Torres, a menina de 11 anos, contou à nossa reportagem que foram submetidas a torturas e lhes foram injectadas drogas.
“Permanecemos naquela residência durante dois dias. No terceiro dia, por volta das quatro horas, depois de as senhoras terem-nos drogado, transportaram-nos num taxi, para a terminal dos transportes, onde iríamos apanhar transporte para a província de Tete”, conta.
Segundo ela, o transporte para Tete foi feito através de um camião de carga, de longo curso. Disse que estavam na companhia de três mulheres e um homem. “O senhor de nome Evaristo Marcelino é marido de uma das senhoras que nos prometera emprego, chamada Júlia Chachissa”, conta a petiza.
A Polícia de Manica veio a confirmar esta versão e disse que a senhora Júlia Chachissa se encontra presentemente detida na cadeia “Cabeça do Velho”, em Chimoio, em conexão com o mesmo caso.
Na cidade de Tete
Voltando à história do cativeiro, Linda Torres contou que ela e sua amiga permaneceram com os membros superiores e inferiores atados. Tomavam uma única refeição por dia e eram drogadas.
Na cidade de Tete, conta que ficaram fechadas numa residência arrendada.
A vítima contou que quando foram levadas para Chimoio, pelo mesmo senhor que as levara de Chimoio para Tete, estavam na “iminência de serem transferidas para Malawi”.
Segundo apurámos junto da Polícia, a libertação das menores só foi possível depois do Evaristo Marcelino saber da detenção da sua esposa, em conexão com o caso.
Libertou as crianças tendo de seguida providenciado passagens para regresso destas à cidade de Chimoio.
Desde domingo, dia 9 de Dezembro, as crianças encontram-se em Chimoio, junto das suas famílias.
Polícia diz estar a trabalhar para deter os restantes membros da quadrilha
Pedro Manuel, porta-voz da Polícia em Manica, disse que a corporação está a trabalhar para neutralizar os restantes elementos do grupo de raptores e traficantes de seres humanos.
Ainda se desconhece as reais intenções que os supostos traficantes tinham com aquelas crianças, mas acredita-se que fazem parte de uma rede de tráfico de crianças que operam em Moçambique e nos países vizinhos.
(José Jeco)
CANALMOZ - 29.12.2010