(O Bairro da Belavista Revisitado, A Necessitar de Uma Prenda de Natal)
Sou dos que acha que é politicamente correcto defender a policia.
Não há nem um de nós que não tenha tido um problema com a policia, e, daí, o nosso mal estar com esta corporação, mas não há também nenhum de nós que não tenha sentido, uma vez que seja, a sua necessidade.
E claro daí a facilidade em dizer mal com epítetos dos quais o menor e o velho “caça multas”, ou dizer bem porque e quando já fomos ajudados.
Mas, ao ler a crónica de Jack Healy, saída no i de 18 de Dezembro sobre o policia Bilal Ali Muhamad, que morreu em Bagdad porque se atirou para cima dum destes bárbaros fanáticos e fascizantes que Bin Laden quer transformar em ídolos da juventude, e, assim, salvou centenas de pessoas do impacto de mais uma bomba, achei que devia recordar uma outra história.
Também com um policia, em Luanda, em 1992.
(Na verdade, na minha vida já fui acusado de ser agente da CIA, agente do KGB, agente da Mossad, pelo menos, e, em 1992, estava na fase de ser agente da CIA de novo, pois estava a trabalhar no jornal da UNITA).
O que não foi impedimento, pelo contrário, para ser preso em Luanda.
Acusado de tentativa de assassinato do Papa Joao Paulo II.
(confesso que a minha primeira reacção perante a acusação que me era, absurdamente, feita, por um impante policia que achou que tinha descoberto a sua mina de ouro, foi a de imaginar o que diria de tal a minha muito católica Mãe…).
A custa desta absurda acusação, estive uma semana preso e depois retido na esquadra de Catete, para ser absolvido de toda a culpa uma semana depois, num caluanda e pouco democrático tribunal de então .
Mas a história que quero relatar mesmo, sendo dentro desta mais longa, é a que segue.
Numa das noites na esquadra da estrada e Catete, já no estatuto de retido na dita esquadra, o que me permitia dormir no chão de uma sala e não numa diminuta e imunda cela, iniciou se um imenso debate entre nós os três, os retidos da UNITA, e o jovem policia chefe de piquete dessa noite.
Sobre a I guerra civil e as razoes de cada parte e, a certa altura, sobre os mortos havidos em combate, durante a mesma.
Aí tudo aqueceu, pois o jovem policia tinha tido um irmão morto, precisamente em combate com as FALA, as forcas armadas da UNITA.
Entretanto, a meio do momento mais intenso do debate, e rádio que dava música, passou ao noticiário.
E nele fui noticia, onde se dizia que o “Moçambicano” Joffre Justino ( é, sou mesmo filho do império e, por isso, nasci em Moçambique), iria, no dia seguinte, ser despachado para a sua terra - Moçambique.
Velho hábito este do MPLA, quando está zangado comigo, o de dizer que não sou Angolano mas sim moçambicano.
Fiquei, claro, furioso, e, abruptamente, levantei-me e fui para uma janela fumar um cigarro, (na altura ainda fumava).
Passado um pouco, sinto uma mão no meu ombro e oiço o jovem policia dizer-me, Mais Velho não se zangue todos nós sabemos que o Mais Velho é Angolano ...esta conversa é só politiquice ... Olhe, esta noite ofereço-lhe a minha cama para dormir ...
E, nessa noite, pela única vez nessa prisão, dormi num colchão.
Emprestado por um policia angolano a um adversário político e de guerra civil, eu.
Recordo sempre com prazer esta história e, hoje, aproveito-a, para alem de homenagear a Policia e os Policias, para recordar mais uma vez o Bairro da Bela vista, em Setúbal.
Bairro Multicultural, pobre de um Península empobrecida.
Já houve, outra vez, no bairro da Belavista, tiroteio.
Por ora de pequeno impacto.
Mas urge, pôr já travão ao potencial crescendo do conflito, antes que se perca de novo a cabeça.
Já o defendi e repito-o há que entender que, naquele bairro, existem verdadeiras razoes para a revolta.
Há por isso que encontrar soluções.
E a autoridade não se estabiliza com tiros, mas com medidas inclusivas como aliás já ouvi da voz do Ministro da Administração Interna Rui Pereira em reunião que com ele tive sobre este Bairro.
Pois agora urge avançar-se com essas medidas… e seria uma bela prenda de Natal, para o Bairro e os seus utentes, se as propostas do Centro Cultural Africano, Associação do Bairro com, quem a EPAR, Escola Profissional Almirante Reis lida, por via da boa relação que temos com a sua Presidenta, (tal qual como Dilma se quer tratar), a Carla Marie Jeanne, se concretizassem.
E elas são simples – a) criação de um gabinete de mediação de conflitos; b)qualificação escolar e profissional para jovens e adultos; c) melhoria nas condições de habitabilidade; d) apoio ao empreendedorismo e à empregabilidade dos adultos do Bairro.
Ouvi a simpatia de responsáveis, no MAI, no IEFP e no IRHU, sobre estas propostas.
Ora, em homenagem concreta aos Bilal Ali Muhammad, aos Policias que vivem para as Pessoas, de todo Mundo, vamos a isso?
À construção de uma Autoridade Democrática e por isso Humana?
Joffre Justino