DE forma particularmente macabra, a população da localidade de Matambalale, distrito de Muidumbe, em Cabo Delgado, linchou um agente da Polícia da República de Moçambique, de nome José Almeida, na passada sexta-feira, depois de uma discussão sobre a compra da carne que estava à venda para a passagem do Natal.
José Almeida, natural do distrito meridional de Montepuez, afecto na sede do posto administrativo de Miteda, deslocou-se a Matambalele, a cerca de três quilómetros de Mitela, a fim de comprar a referida carne, fruto de um entendimento previamente estabelecido entre si e o vendedor.
Testemunhas disseram que o agente da PRM se terá recusado a comprar a carne que encontrou, alegadamente porque não era do seu gosto, tendo originado uma confusão que o obrigou a disparar para o ar, conseguindo, deste modo, que a população se dispersa-se. Entretanto, os populares não desarmaram: emboscaram-no à saída da aldeia, onde o espancaram até à morte, e, de seguida, esquartejaram-no.
A Polícia, através do chefe das Relações Públicas, diz ter sido constituída uma equipa que se vai deslocar a Muidumbe “para apurar o que de facto terá acontecido”. Contudo, lamenta-se que tal tenha sucedido numa altura em que por todos os lados do nosso país se luta contra a solução dos problemas pelas próprias mãos.
Muidumbe é tristemente célebre em actos desta natureza, em que os linchamentos e assassinatos sumários acontecem reiteradamente. Recorde-se o linchamento de um administrador em Março de 1992, acusado de ter sido o autor da ordem de detenção de um morador por polícias que o espancaram até à morte.
Lázaro Chikumene viria a ser perseguido pela população tendo sido localizado em Muatide, a dois quilómetros de Matambalale, onde foi igualmente espancado até à morte. Seguiu-se um longo período sem administrador naquele distrito, até que Pedro Seguro aceitou ir dirigir os destinos do distrito de onde é natural.
Seguro viria a ser acusado de conivência com os considerados donos dos “leões mágicos”, que a partir de 2000 e durante cerca de dois anos se tornaram na maior praga de Cabo Delgado, tendo como epicentro o distrito de Muidumbe, onde chegaram a fazer perto de 100 vítimas.
Por outro lado, é no distrito de Muidumbe onde foram expulsos elementos constituintes da Comissão Distrital de Eleições e do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral, depois de a casa onde viviam ter sido ateada fogo, por estarem a representar um partido da oposição.
O corpo de José Almeida foi transladado para a sua terra natal, Montepuez, onde foi a enterrar domingo passado.