Verónica Macamo fala do “WikiLeaks”
– considera a presidente da Assembleia da República, no seu primeiro pronunciamento público sobre o caso que relaciona altas figuras do Estado com o tráfico de droga. No Parlamento foi rejeitada pela Frelimo uma proposta da oposição para se levar o assunto à apreciação de uma comissão de inquérito.
Pela primeira vez, a presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, pronunciou-se publicamente sobre os polémicos telegramas do ex-encarregado de negócios dos EUA em Maputo, Todd Chapman, divulgados pelo portal WikiLeaks. Nos telegramas, mencionam-se nomes de figuras de proa do Estado moçambicano, desde o chefe de Estado até ministros e deputados, como cúmplices do narcotráfico e de outras práticas corruptas.
A presidente da AR que falou do assunto esta segunda-feira, quando interpelada por jornalistas, no distrito de Bilene, província de Gaza (local onde decorre a mesa redonda com jornalistas que habitualmente cobrem actividades parlamentares), disse não estar em condições de fazer qualquer julgamento sobre o assunto.
“Não estou em condições de dizer de forma clara se as informações são verdadeiras ou falsas porque se trata de uma acusação bastante grave e que carece de elementos para que possamos julgar se é verdadeira ou falsa a informação posta a circular”, afirmou Verónica Macamo.
A presidente da AR até então não se tinha pronunciado sobre o assunto, apesar da bancada do seu partido, Frelimo, ter votado contra o debate da matéria, alegando serem “fofocas e boatos”.
Contrariando o que o seu partido rejeitou discutir no Parlamento, Verónica Macamo afinal vem agora admitir que está preocupada com o WikiLeaks. Não desvalorizou a informação divulgada pelo WikiLeaks. Bem antes pelo contrário. Ela considera que o assunto “é sério”.
“A questão da droga é muito séria, estamos a falar de coisas que destroem vidas de famílias moçambicanas. Espero que as pessoas que provocaram essas informações possam trazer elementos que clarificam o caso”.
Verónica Macamo fala da necessidade de se “fazer alguma pressão para que se consigam mais elementos que nos façam criar um juízo com algum fundamento”.
A presidente da AR disse que é preciso que o autor dos telegramas, e na circunstância, Todd Chapman, “mostre a rigorosidade das suas investigações”. “Não estou a dizer que as informações são verdadeiras ou falsas, mas eu, pessoalmente, tenho dúvidas daquelas informações porque conheço as pessoas que são acusadas e me lido com elas. Portanto, precisamos de mais elementos para saber o que é e o que não é”, pede agora Verónica Macamo.
A presidente da Assembleia da República pede que sejam avançados mais elementos clarificadores. “Permitirão que se faça uma análise sem paixões”, acrescentou recordando que se trata de um assunto “muito sério e grave”.
Os quatro telegramas publicados pelo WikiLeaks podem ser vistos, na íntegra, traduzidos em português, no website do diário digital Canalmoz, em www.canalmoz.com/default.jsp?file=ver_artigo&nivel=1&idRec=9300&id=25.
(Matias Guente)
CANALMOZ - 28.12.2010