Por Mzimu w’Akayinga Mwana wa Munthu
Uma das grandes patologias políticas do Povo, qualquer que seja, é o esquecimento das promessas políticas feitas pelos dirigentes e líderes políticos.
Muitas vezes, o povo não se dá conta de que é responsável por bons e maus políticos. Esquece-se, igualmente, de que os políticos justos e injustos são por ele produzidos.
Se o esquecimento for uma epidemia política global, como o é HIV/SIDA, em Moçambique é uma catástrofe políticosocial, sobretudo neste era pós levante de 1 e 2 de Setembro de 2010.
É que depois de 1 e 2 de Setembro de 2010, há muita coisa caricata que vai acontecendo no aparelho de Estado, protagonizada quer pelos dirigentes superiores quer como produto de interpretação ambígua das orientações.
Se percorrermos às nossas memórias politicamente amnésicas, recordar-nos-emos do famoso comunicado de imprensa publicado a 7 de Setembro de 2010. Em tal comunicado, poderemos ler várias “medidas de impacto imediato”, donde se destaca as seguintes:
(….)
• Congelar o aumento dos salários e subsídios dos dirigentes superiores do Estado até que o Governo conclua a avaliação em curso.
• Congelar o aumento dos salários e subsídios dos membros dos Conselhos de Administração das Empresas Públicas e das empresas maioritariamente participadas pelo Estado, devendo os salários serem pagos em moeda nacional, até que o Governo conclua a avaliação em curso.
(…)
Estas e outras medidas fizeram correr muita tinta no seio dos escribas e analistas de todos os níveis, entre conhecedores e aventureiros, cibernautas e jornalistas. As “medidas de impacto imediato” foram, igualmente, aplaudidas pelos “marginais, vândalos, desempregados, crianças…” – os manifestantes.
Não obstante os aplausos e as recomendações, a desilusão, coadjuvada, essencialmente, pela amnésia política do povo, não demorou chegar. Não houve e não há até ao momento que gatafunhamos estas palavras, garantias nem provas de que os salários dos dirigentes superiores não continuaram a disparar. Não há, nem na imprensa oficial nem na privada, por mais contundente que seja, provas de que os subsídios de combustíveis, de empregados, de alimentos, de água, de energia, de saúde, lazer e “representação”, não continuaram a ser encaminhados para os fidalgos.
Adicionalmente, as viagens e as ajudas de custo para os altos dirigentes continuaram, com a única inovação de que os únicos a terem acesso às viagens e às ajudas subsequentes são os altos dirigentes. A justificação tem vindo a ser de que são viagens importantes. Não negamos. Mas não há notícias de que o Ministro fulano ou o PCA sicrano viajaram na classe económica como diz o comunicado de que fizemos referência. Afinal, o comunicado indica como essencial e imediata a racionalização da despesa corrente, em particular nas rubricas de passagens aéreas (redução de viagens dentro e fora do pais e redefinição do direito do uso da classe executiva), ajudas de custo, combustíveis, lubrificantes e comunicações.
O gato preto na escuridão continua a ser o pagamento de salários em moeda nacional. Não temos certeza, e, não tendo a certeza, dificilmente acreditaremos que os salários estão a ser pagos em metical. Se estiverem a ser pagos em metical, a nossa dúvida transitará para o facto de não sabermos, concretamente, se os tais vencimentos em metical não são cotados em dólares e pagos em metical ao câmbio do dia!
Do lado de cá, referimos cá em baixo onde só se apanha grãos, há rumores de que não haverá os tradicionais cabazes que minimizam o sufoco do já minguante funcionário do Estado de baixa estatura salarial na quadra festiva. Cadê o pagamento do Décimo Terceiro Salário! A ver, vamos!
É repugnante constatarmos que, do comunicado o Povo, volvidos quase apenas três meses, já se esqueceu. Dos poucos que dele se recordam (aqueles com privilégio de ler e escrever), mal interpretam as “ medidas do impacto imediato”. Ao invés de aplicarem as “medidas de impacto imediato” aos dirigentes superiores, congelam a promoção e a progressão na carreira do simples auxiliar administrativo, cuja posição em termos profissionais se dista a 35 anos da função de chefia!
O interessante nisso tudo é que o povo nada faz, os dirigentes nada fazem? Que o respondam os deputados! Porquê?
Porque a única notícia que veiculou nas últimas semanas é a de que, não foi preciso debate para aprovar o seu bolo apetitoso de quarenta mil meticais de salário base, sem contar com as contas que não terão de pagar, em virtude de tudo poder ser pago por nossos impostos.
SAVANA – 17.12.2010