MANICA vive um paradoxo. Enquanto nalguns distritos, as populações clamam de fome, as autoridades dizem que a produção cerealífera e de outras culturas da última safra, quando distribuída pelos habitantes da província, resulta em um excedente de 109 mil toneladas de produtos alimentares diversos.
Aquela província, com 1.4 milhão de habitantes, produziu ano passado 1390 mil toneladas de culturas alimentares diversas, das 1847 toneladas planificadas. As perdas globais estão avaliadas em 500 mil toneladas, sendo as regiões mais afectadas, os distritos de Tambara, Guro, Macossa e Machaze.
O secretário permanente provincial de Manica, António Mapure, falando semana passada em Chimoio, disse que apesar de o Governo reconhecer a escassez de alimentos em alguns distritos como consequência da distribuição irregular das chuvas e a consequente estiagem acompanhada de altas temperaturas, a segurança alimentar, no global, está assegurada.
Para os distritos afectados, Mapure disse terem sido encontradas soluções alternativas que consistem em recorrer aos empresários locais para dinamizar o processo de comercialização de milho ou respectiva farinha, adquiridos nas zonas potencialmente produtoras para ser vendidos em postos fixos e móveis, nos distritos deficitários.
Para tal, segundo argumentou, tendo em conta que a maior parte dos camponeses não tem poder de compra e vive exclusivamente da agricultura e pecuária, o conselho que se da é que vendam parte dos seus animais para do dinheiro daí resultante, adquirir cereais e outros produtos alimentares indispensáveis.
Para Machaze, o recurso é a comercialização da castanha de caju.
Para além destas medidas paliativas, o Governo Provincial de Manica, em coordenação com os seus parceiros de cooperação, envidou esforços na busca de soluções para a mitigação dos efeitos da estiagem, destacando-se a promoção de culturas tolerantes à seca (mandioca, batata-doce, ananás, cajueiro), mobilização dos camponeses para recorrer às zonas baixas para a produção agrícola e sua sensibilização para o uso dos canais de irrigação existentes. O programa “Comida pelo Trabalho” foi também outra alternativa encontrada para minorar a fome no distrito.
De acordo com os dados em nosso poder, cerca de 42946 pessoas, de todos os distritos da província, estão em situação de vulnerabilidade à insegurança alimentar, sobretudo em Tambara, Macossa e Machaze.
Para além da estiagem, afectaram também a campanha 2009/10, as pragas de lagarta invasora, no distrito de Tambara e de gafanhoto elegante, nos distritos de Sussundenga, Mossurize, Machaze, Tambara e Guro.
O Executivo de Manica encetou esforços com vista à promoção da construção, gestão e manutenção de pequenos sistemas de rega, abastecimento de água e de abeberamento do gado, sensibilização para a venda controlada de excedentes agrícolas e monitoria da situação das 42946 pessoas vulneráveis para apoio alimentar, com o recurso à modalidade “Comida pelo Trabalho”.