Medidas de austeridade pontapeadas pelo Governo
Membros do Gabinete da Primeira-Dama viajam na classe executiva
As medidas de austeridade anunciadas pelo Governo reunido em sessão extraordinária, no dia 7 de Setembro do ano corrente, após a revolta popular dos dias 1 e 2 do mesmo mês que se prolongou ainda pelo dia 3 de Setembro embora com menor intensidade, tem estado a ser pura e simplesmente pontapeadas pelo executivo de Armando Emílio Guebuza.
Após os acontecimentos suscitados pela indignação contra o elevado custo de vida, Alberto Nkutumula, vice-ministro da Justiça e porta-voz do Conselho de Ministros, apareceu a dar a cara, revelando que o Governo iria manter os preços. Num volt-face de 180 graus, no meio de um saldo de cerca de 16 vidas perdidas e várias dezenas de feridos, Aiuba Cuereneia, ministro da Planificação e Desenvolvimento, veio dar o dito por não dito, ao explicar à nação que o Governo iria manter os preços dos produtos básicos e que iria subsidiar outras despesas.
Contrariando a lógica da austeridade, há poucos dias deram entrada no parque automóvel da Comissão Nacional de Eleições (CNE) 12 viaturas de marca Hyundai Azzera V6.
O Canalmoz contactou, há dias, Juvenal Bucuane, porta-voz do colégio liderado pelo médico estomatologista, João Leopoldo da Costa, que é simultaneamente reitor do ISCTEM, que parco em palavras não conseguiu explicar as razões da obtenção daquelas viaturas.
Medidas de austeridade não implicam a paralisação das actividades planificadas
O Canalmoz questionou ao ministro da Planificação e Desenvolvimento sobre a origem dos fundos usados para a aquisição das 12 viaturas novas, neste momento que o Governo diz estar a implementar medidas de austeridade.
Aiuba Cuereneia disse que “o Governo não pode deixar de cumprir com os seus planos devido à implementação das medidas de austeridade”.
Justificou que as viaturas para os vogais da CNE “são necessárias, devido natureza do seu trabalho”.
Cuereneia confirmou, entretanto, que as 12 viaturas de marca Hyundai Azzera V6, são destinadas aos vogais da CNE.
Não explicou que natureza de trabalho estes têm para necessitar de viaturas importadas, mais ainda quando se sabe que neste momento não está a decorrer nenhum processo eleitoral e o próximo só será, em princípio em 2013, as autárquicas.
Governo reduziu contratação de professores alegando medidas de austeridade
As medidas de austeridade que o ministro da Planificação e Desenvolvimento alega não serem impedimento para a importação de viaturas luxuosas, já são impedimento para mais investimento na Educação.
Há duas semanas, o ministro da Educação, Zeferino Martins, anunciou que o número de professores a serem contratados para o sistema nacional de ensino público vai reduzir de 11.510 contratados este ano (2010) para 8 mil, em 2011.
As medidas de austeridade que forçam a contenção dos gastos públicos é a razão deste corte na contratação de professores, indicou o ministro.
Parece haver grande contradição no mesmo Governo.
Gabinete da Primeira-Dama não se ressente da austeridade
Por outro lado, as medidas de austeridade anunciadas pelo Governo parecem não terem chegado também ao Gabinete da Primeira-Dama, Maria de Luz Guebuza. Aquele gabinete está adstrito à Presidência da República.
Uma das medidas preconizadas pelo Governo, no âmbito de tais medidas de austeridade anunciadas por Aiuba Cuereneia, circunscrevem-se à restrição de governantes e outras figuras do Estado viajarem na classe executiva. Mas esse facto parece não ter espaço no gabinete da esposa do Presidente da República. A sua chefe de Gabinete, Flávia Cuereneia, e outros membros daquele gabinete continuam a viajar em classe executiva.
Na quarta-feira do dia 29 de Setembro, em classe executiva, no voo da South African Airvays (SAA), com o número 142 oriundo de Joanesburgo com destino a Maputo, viajaram na classe executiva.
É este o espelho das medidas de austeridade que o Governo do dia continua a oferecer aos moçambicanos do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico.
(Luís Nhachote e Borges Nhamirre)
CANALMOZ - 28.12.2010