O ANJO BRANCO – OU O “MÉDICO VOADOR”
Um velho amigo meu Fernando Gil http://www.macua.blogs.com/ e um conhecedor nato, por amor, de Moçambique, enviou-me o livro o “O Anjo Branco” cujo autor é o jornalista José Rodrigues dos Santos.
Fernando Gil, sabia que eu tinha vivido, em Tete e no tempo em que o Dr. José Paz, pai de José Rodrigues dos Santos e para que lhe fizesse uma análise.
O “Anjo Branco” é volumoso e, porque não tenho paciência de ler novelas, mas só factos reais, desde que recebi o livro, informei o Fernando Gil que não ia ler a totalidade das páginas, mas o conteúdo que me dissesse algo sobre Tete, onde vivi, não muitos anos, mas de quando o Dr. José Paz, ali residia, na ocupação de médico e Delegado de Saúde.
Vivi, em Tete na época do início da guerrilha de Joana Simeão que operava na picada de Tete até à Estima, situada no sopé da Serra de Cabora Bassa, ficando pelo planalto do Songo e a base, logística, para a construção da grande barragem.
Tete, pelos residentes, foi nominada o “Texas”, pela caída de “paraquedistas” de várias nacionalidades, para dar início à barragem de Cabora Bassa, nos finais da década 60 do século passado.
Aquela cidade, tranquila e quente, onde se conhecia toda a gente e se faziam amigos, comecei a conhece-la, de quando viajante do City Stores da cidade da Beira, a partir do ano 1963, passa a um burgo reboliço, de “pancadaria” nos bares; de militares indisciplinamos, bêbedos e de fardas rotas que provocavam os civis na rua com a famosa quadra: “Vai pró mata ó malandro, por causa de ti é que eu aqui ando”.
Ora José Rodrigues Santos, http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Rodrigues_dos_Santos , na altura eu que vivi em Tete, tinha uns 6 anos e, todo o material que insere na sua novela “ O Anjo Branco”, para a escrever procurou muita informação, porque por mais prodigioso que seja um “puto” é impossível ter metido no “caco” (embora com nomes fictícios) pessoas que na realidade viveram, em Tete, naquela época.
Dá ao “facínora” da DGS, Inspector Sabino, Aniceto Silva, descrevendo rixas “humanitárias” entre José Branco (Dr. José Paz) no seu gabinete, que não penso que assim tenha sido, dado que o Dr. José Paz era visita, de casa, do Sabino e a pessoa, que aterrorizava, qualquer cidadão de Tete se não estivesse alinhado à classe dos grados (uma máfia bem organizada) da Missão do Planeamento do Vale do Zambeze, ao Bispo de Tete que tinha criado um grupo, elitista, perigoso a que lhes foi dado o nome de “Irmãos da Caridade”.
De facto o Dr. José Paz foi médico voador mas não com tantas “obras” aéreas, como humanamente o filho, José Rodrigues dos Santos, lhe releva.
A obra, literariamente é fraquíssima, como novela pode englobar-se em mais uma ficção cujo autor a escreve no fito de fazer dinheiro.
Para sobreviver, o Camilo Castello- Branco, também escrevia os “Folhetos do Ceguinho”, para conseguir uns “vinténs” e conseguir vencer as “tesuras” da vida que levava na sua casa, em São Miguel de Seide.
De facto José Rodrigues dos Santos menciona nomes reais, existentes na época em Tete à sua novela, “ O Anjo Branco”. Onde designa o bar do Carllets, um grego e velho residente, o hotel de Tete, a loja de miudezas e atacado Christos Luscos, o Aero Club de Tete, situado num alto de um morro com vista para o majestoso Rio Zambeze.
Porém Rodrigues dos Santos esconde algo que bem na memória de criança lhe tenha ficado pela vida fora. Os nomes fictícios mas que para quem conheceu Tete eles são-lhe reais, como quem o Dr. José Paz estava absolutamente bem relacionado.
Em Tete não havia lutas partidárias entre o Poder do Estado e a Igreja Católica cujos estes se acomodavam perfeitamente.
O inspector Sabino da DGS acolitado pelo Casimiro Monteiro, o agente que assassinou a tiro o General Humberto Delgado, controlavam a sociedade de Tete de então, fosse a arraia-miúda e os nativos. A grada não lhe dava problemas.
Uma DSG (ex-Pide), sob a gerência do facínora Sabino, com uma rede de informadores bem montada em Tete que operava em todos os bares, sob o comando de um imbecil, agente de nome Pombo; nativos na “tembe” (local onde residia a arraia-miúda, negra) esta estava sob o controlo de um negro, grandalhão, de nome Chico que diziam matar pretos a murro); o padre Castro um missionário barbudo italiano que corria a cidade de Tete distribuindo palavras bondosas e sabendo de informações as transmitia à DGS do Sabino; o imbecil agente/bufo, Pombo da DGS que além de vasculhar os bares da cidade, era casado com uma enfermeira cabo vendeana, de cabelos louros, que trabalhava no hospital de Tete, sob a gerência do Dr. José Paz.
Uma cidade de Tete onde, todos os grados se acomodavam uns com os outros porque neles havia apenas a intenção e ambição de fazer dinheiro e regressar a Portugal ricos e felizes da vida.
Apesar de ler superficialmente “ O Anjo Branco” (chamando ao pai de Rodrigues dos Santos, o médico voador localmente), o novelista esqueceu-se de mencionar aqueles valores e relevá-los e que em Tete fizeram obra, onde se inclui a família Serras Pires; Agostinho Lopes Rego; o Sr. Cerejo, Fernando Soares Pereira, o Melo, tantos outros, que chegaram a Tete de quando era o “cemitério dos brancos” .
As outras gentes e a que ele se refere no “Anjo Branco” foram mais uns pára-quedistas, cujo objectivo era o de fazer dinheiro e voltar à metrópole, famosos, como assim já o tinha sido os “capitães da Índia” séculos atrás.
José Martins