Moçambique não desenvolveu
Por Nelson Carvalho, em Nampula
Enquanto o Chefe do Estado fala de uma nação que está no bom caminho rumo à sua prosperidade, Afonso Dhlakama diz que o país não registou nenhum avanço no ano prestes a terminar. Em declarações esta terça-feira ao SAVANA, o presidente da Renamo afirmou que Armando Guebuza deveria, no seu informe anual sobre o estado da nação, dizer à população que não houve desenvolvimento em Moçambique.
“Esperávamos que Moçambique tivesse uma outra roupagem na componente de infra-estruturas, rede escolar de ensino profissional, abastecimento de água, vias de acesso, aumento e concretização de planos de combate à fome”, declarou ao SAVANA em Nampula, a maior cidade do norte do país.
Numa classificação de 0 a 20 valores, Dhlakama escolheu a nota cinco para o desempenho do Chefe do Estado em 2010, justificando que este ano foi e continua a ser marcado pela subida generalizada dos preços de bens essenciais, pelo fracasso das estratégias do sector agrário e pelo aumento das desigualdades sociais. Alistou ainda a corrupção dos servidores públicos incluindo membros do Governo como um dos obstáculos que emperram os progressos do país.
Sobre a criminalidade, Dhlakama afirma que a existência de criminosos deve-se à desfuncionalidade do sistema da justiça moçambicana. “A maior parte dos crimes que acontecem resulta de ajustes de contas entre criminosos e Polícias”, referiu.
Sobre as notas diplomáticas difundidas pelo portal Wikileaks, o presidente da Renamo considerou de perigosas as acusações que pesam sobre dirigentes moçambicanos e que as mesmas trouxeram insegurança para o país.
Tal como a sua bancada parlamentar, Dhlakama defende que o Governo deveria dar explicações sobre as informações veiculadas pelo portal e reproduzidas na imprensa.
Sobre as manifestações de 1 e 2 de Setembro último, o presidente da Renamo diz-se chocado com a forma como o Governo tratou os manifestantes. “No lugar de dialogar com a população, explicando-lhe as causas do custo de vida, tanto o primeiro-ministro assim como o Presidente da República chamaram e chamam as manifestações de agitações e os jovens de vândalos”, indicou.
“Aquilo a que eles chamam de medidas de contenção não é nada, é uma brincadeira para mostrar ao povo que eles aqui mandam e fazem tudo o que podem”, acusou.
Nova Renamo em 2011
O líder da Renamo Afonso Dhlakama, disse em exclusivo que o seu partido no próximo ano de 2011, poderá vergar no dialogo interpessoal, no sentido de esclarecer os maiores desafios que tem com o país, principalmente no tocante ao combate à pobreza absoluta, combate ao crime, injustiça social e divisionismo entre os moçambicanos no que tange aos benefícios de projectos de desenvolvimento sustentável.
“A nossa maior missão em 2011 é trazer uma nova Renamo”, este é o projecto anunciado por Afonso Dhlakama para o ano, um líder sistematicamente acusado de gerir o partido de forma autocrática. No entanto, ele acredita que a população ainda deposita confiança na sua pessoa e no seu partido. Visitas aos distritos, postos administrativos e localidades para manter diálogo com a população e auscultar as suas preocupações para posterior debate na Assembleia da República, são algumas das actividades que a Renamo se propõe a desenvolver em 2011.
“2011 será um ano de muitos desafios e mudança de planos, estratégias e políticas do partido”, anuncia, acrescentando que “queremos nos desafiar a nós mesmos para reencontrarmos a Renamo dos anos imediatamente após a assinatura do Acordo Geral de Paz muito venerada pela população”.
Sobre as mudanças, Dhlakama não quis entrar em detalhes. “Aquilo que vier a acontecer todos terão a oportunidade de saber e de ver”.
SAVANA – 24.12.2010