Por Gento Roque Chaleca Jr., em Lisboa
“Os políticos falam, a sociedade grita e a igreja ajuda.” Pe. Amândio Painho
Ao contrário do que alguns leitores poderão ter pensado, a crónica de hoje não trás como ‘pano de fundo’ o informe anual do Chefe do Estado, Armando Guebuza, apresentado esta segunda-feira na Assembleia da República. Antes de encerrar este assunto – Estado Geral da Nação – gostaria de convidar aos leitores para um desafio: colocar na balança as coisas boas e más que aconteceram este ano e, por via disso, tirar as decidas ilações se de facto o país está ou não no “Bom Caminho” como disse o PR. Cá entre nós, penso que o Estado Geral da Nação apresentado esta semana pelo PR reflecte a um país imaginário que não corresponde ao país real, onde tudo de mal acontece e a miséria impera. As manifestações de 1 e 3 de Setembro são a prova disso. Enfim, cada um vê aquilo que quer e pode, não fosse a verdade uma questão de escolha.
Quero sim falar-vos do “Cursilho”. Não há nenhuma definição concreta do que é um Cursilho. O Cursilho não se explica, vive-se! Foi o que eu vivi no Convento de Elvas, em Portimão, de 09 a 12 de Dezembro naquele que foi o 139°H Cursilho (excepcionalmente para Homens), também conhecido por Cursos ou Movimento dos Cursilhos de Cristandade. Vivi quatro intensos dias de culto e de entrega a Deus, não havia tempo para mais nada senão rezar, rezar, rezar. Nada de telemóveis ligados, não há televisão nem rádio, é um mundo desligado do Mundo.
Em resumo, “O Movimento dos “Cursilhos” de Cristandade é um Movimento de Igreja que, mediante um método próprio, possibilitam a vivência e a convivência do fundamental cristão, ajudam a descobrir e a realizar a vocação pessoal e tornam possível a criação de núcleos de cristãos que vão fermentando de Evangelho os ambientes”. O seu fundador Eduardo Bonnin Aguiló dizia frequentemente, que os Cursilhos nasceram por inspiração do Espirito Santo, “não para formar homens de igrejas, mas uma igreja de homens.”
O mais importante nestes cursos, para além do ambiente familiar que se cria entre os cursistas, é a convivência espiritual entre os cursistas e Deus (por isso mesmo, repito o que disse lá acima, o Cursilho não se explica, vive-se). O (s) rolho (s) (é uma espécie de aula magna onde são apresentadas as vivências cristãs, as experiências de vida, as responsabilidades dos cristãos perante o mundo, enfim, é uma aula de busca de Deus e da cura espiritual da Humanidade, pelos sacerdotes e pelos cursistas mais experimentados) enche-nos de fogo espiritual e de generosidade, virtudes que o imperialismo triturou feito tubarão faminto. Hoje em dia “a generosidade perdeu a cotação”, se ela existe é em algum oásis onde os valores culturais e morais são um semáfero de vida.
E por falar de rolho, o Reitor do 139°H, professor Víctor Cameirão apresentou o seu rolho (passa a repetição) que falava, em linhas gerais, do mundo actual que tem preterido a religião em benefício dos bens materiais. “O mundo”, disse Cameirão “só será verdadeiramente feliz quando todos tivermos almas de artistas.” E qual é a alma de artista? Perguntei-lhe, “é a perfeição”! “O artista que morre num filme é um filme sem graça, é um artista condenado à sepultura”, rematou. E disse mais “O mundo é um vagão perdido sem Deus. Sendo assim, todos nós julgamos ser locomotivas e queremos, a todo o custo e da maneira que nos convém, puxar o vagão para o nosso lado. Há que mudar os eixos de interesses.”
Perguntei ao Reitor se podia me confessar (uma vez que no Convento haviam dois sacerdotes de “plantão”) ao que me respondeu (recorrendo ao inesquecível discurso de abertura do Cursilho proferido por ele próprio) “Filho, o coração e a mente são duas únicas coisas que se abrem por dentro, mais ninguém os pode abrir. Abre-te ao Senhor e diga-Lhe as tuas dificuldades.” Foi então que me confessei pela primeira vez na vida.
Quem também apresentou o rolho, foi o padre Amândio Painho (permita-me um elogio: nunca em toda a minha vida conheci um sacerdote com carisma do pe. Amândio, as suas orações vão directo ao intelecto e, portanto, poucos como ele conseguem penetrar na alma dos crentes. No Cursilho, somente eu, pude assegurar as lágrimas quando este sacerdote começava a pregar o Evangelho (digo, a homilia). De resto, chorei por dentro e chorei bastante. O pe. Amândio começou por dizer “que o sofrimento de uma pessoa não é como a água que cai e seca, é uma dor eterna, por isso nunca deixeis de ajudar o próximo.”
E é por causa da ambição exacerbada que o Mundo está em catadupa e nunca o Apolalipse esteve tão perto de acontecer. A maior parte das pessoas amarram-se ao umbico e deixam de velar pelo próximo. Quando nos EUA empresários como Bill Gates e outros “mandas-chuvas” doam metade das suas fortunas aos pobres, do outro lado do mundo, em Portugal e em Moçambique em particular, os ricos não são capazes de dar um único vointém aos pobres. Coitados. A vida é mesmo assim, um constraste… Ou melhor, o carácter do Homem é que é o grande labirinto de incompreensão.
Colocando em reflexão de todos, o Pe. Amândio falou da actual crise financeira mundial, dos seus efeitos e das suas consequências. “Fala-se muito da pedofilia na Igreja Católica, das viagens e dos gastos do Sumo Pontífice, etc., mas poucos são os que se lembram que é a Igreja Católica é, através das Cáritas e de outros organismos de apoio social, a grande bóia de salvação das famílias, graças a ela é que se tem remediado aquela que seria a maior tragédia do mundo: as fomes.”
Este é o meu testemunho, teria podido dizer muito mais, não fosse o maldito tempo que não tenho e, pior, o que me resta não deixa escrever mais do que estes débitos! O Cursilho terminou com a frase do seu fundador, Eduardo Bonnín, CRISTO E EU, MAIORIA ABSOLUTA. DECOLORES (Hino do Cursilho e, ao mesmo tempo, palavra de saudação entre os cursistas).
PS: A TODOS OS LEITORES DO AUTARCA, AO AUTARCA, DESEJO FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO. ATÉ 2011, SE DEUS QUISER! [email protected]
O AUTARCA – 24.12.2010
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