KHOMALA Por: Vasco Fenita
Avelhantada, alquebrada, com défices horripilantes de oxigénio, o ano 2010 (vulgo vinte-dez) está a estrebuchar, moribundo. Muito próximo já da tumba. E na triagem retrospectiva do seu reinado, desfilam, obviamente, êxitos e inêxitos, alegrias e tristezas, alentos e desalentos.
Todavia, assume-se inexorável a hora do virar da ampulheta, do adeus rumo à viagem sem retorno. Consequentemente, é também irreversível o seu desapear do pedestal, onde reinou durante doze meses.
Pois, rei morto, rei posto. Num ápice.
E o novo ano de 2011 apresta-se a despontar à luz do século vinte e um. Mas, desta feita, inaugurando uma nova década.
Conquanto envolto num manto diáfano prenhe de incógnitas. Em que perfilam, sôfregos e expectantes, novos sonhos, projectos e ambições. É a praxe que se renova ciclicamente.
Pois então, consignemos a todos os concidadãos o nosso voto veemente de um Novo Ano mais empreendedor e frutuoso. E que o nosso país continue a desfrutar de um sólido ambiente de paz e harmonia, e prossiga, sem a menor trégua, na cruzada contra o hediondo flagelo da pobreza extrema e a consequente pandemia do HIV/SIDA, que tem ceifado inúmeras e preciosas vidas humanas.
CORREIA MENDES: UM POETA APEGADO ÀS ORIGENS TELÚRICAS!
“Mesmo nos confins do mundo/ O cheiro do iodo e das casuarinas/ Propagam-se pelas moléculas/Do meu corpo/Vivendo em cada minuto/O princípio da imortalidade.” Confessa Luis Filipe Correia Mendes no poema “Fluxo Ilhéu”, que incorpora a obra “A Ilha de Todos”, lançada recentemente na sala magna da Faculdade de Ciências de Saúde da Universidade Lurio, na cidade de Nampula, sua terra natal.
Através desse poema burilado magistralmente, Correia Mendes sintetiza a sua expropriação obsessiva (e egocentrica) e, aliás, legítima, da vetusta e histórica Ilha de Moçambique, que considera um pedaço do seu corpo e onde viveu grande percurso da sua infância e adolescência.
Com efeito, só por razão tão ponderosa se justifica que ele se tenha deslocado propositadamente de Portugal (onde agora voltou a residir por imperativos sociais), para vir lançar em Nampula a obra poética “A Ilha de Todos”, que assinala a sua auspiciosa estreia literária.
O Reitor da Universidade Lúrio, Jorge Ferrão, que fez a apresentação do livro, diz que um dos poemas que mais o encantou intitula-se “Os miúdos da rua”, e , numa mescla de autenticidade e verrinoso sarcasmo, corrobora que “na realidade, na Ilha os miúdos são os donos da rua. Não são mendigos e nem pedintes. Vivem e passeiam oferecendo serviços. Contam histórias variadíssimas sobre todas as figuras e legendas. Foi com este grupo de jovens que fiquei a saber que Luís de
Camões perdeu um dos olhos numa das discotecas da Ilha. Estes miúdos (...) falam todas as línguas, guiam turistas e reproduzem a história inovada de um tempo velho, com roupagens novas. Este poema conclui dizendo que o importante e renascer.”
Entretanto, Jorge Ferrão aproveitou o ensejo para observar, veladamente, que “de há uns anos a esta parte, para a Ilha só vão projectos, promessas e intenções.
Papéis e muito inglês. Algo mais executado, com mais valor económico, com a possibilidade de gerar empregos, isso desagua em outras paragens e deltas.
Vão-se Nacalando ou Matanuscando algures. Nem os futuros comboios carvoeiros, em que viajará o carvão mineral de Benga, passará próximo.”
WAMPHULA FAX – 31.12.2010