SR. DIRECTOR!
No dia 16 de Dezembro de 2010, o digníssimo deputado Raimundo Pachinuapa (pp.6 do jornal “Notícias” de 17-12-2010), considerou as revelações recentemente feitas via Wikileaks sobre Moçambique como sendo coisas da agenda dos inimigos de ontem, de hoje e de amanhã.
Se esta forma de reacção foi tida como normal por alguns concidadãos moçambicanos, creio bem que para outros foi, sem dúvidas, motivo de bastante preocupação, mormente pelo facto de ter faltado a definição ou nomeação das partes que se consideram inimigas uma da outra.
Acresce-se ao facto acima aludido o dito do Primeiro-Ministro de Moçambique (semanário “Canal de Moçambique” de 15-12-2010, pp.20), segundo o qual “temos boas relações com os Estados Unidos da América e nada vai alterar (...)”.
Ora, sendo boas relações entre Moçambique e os Estados Unidos da América (EUA), como afirma o Primeiro-Ministro, então urge perguntar: afinal de contas, quais e de quem são os inimigos a que se referia o digníssimo deputado?
Talvez eu não tenha razão para tamanha preocupação, mas quer parecer-me que certas práticas hodiernas- e nisto tem toda a razão a senhora Drª Graça Machel, de acordo com os factos expostos na recente entrevista concedida à STV- reforçadas por declarações públicas contraditórias de figuras proeminentes do partido que forma o Governo de Moçambique e que ultimamente abundam na praça, criam alguma insegurança social, senão vejamos:
i. Existindo boas relações entre os governos de Moçambique e dos EUA, relações essas estabelecidas a nível de embaixadas, parece que não faz sentido que figuras proeminentes do partido que exclusivamente forma o Governo de Moçambique falem de inimigos, quase que viscerais, sem contudo que estes sejam claramente apontados;
ii. Acaso, não foi uma empresa privada vinda dos EUA que descobriu a maior reserva de gás do mundo na bacia do Rovuma, conforme notícias recentemente publicadas?
iii. Às tantas assistimos, lá para as bandas do distrito de Moamba, militares moçambicanos e dos EUA envolvidos em exercícios conjuntos. Afinal são inimigos?
iv. Ademais, é constantemente o Governo dos EUA, através da sua embaixada em Maputo, a oferecer barcos à Marinha de Guerra moçambicana, destinados à fiscalização da nossa costa marítima. Como assim?
Portanto, perante os factos acima arrolados e outros que não caberiam neste diminuto espaço, julgo que a nossa magna Assembleia da República tem o dever de esclarecer aos moçambicanos o que é que este cinismo indisfarçável entre os governos de Moçambique e dos EUA lhes reserva a curto, médio e longo trechos.
A bem da nação!
- João Baptista André Castande