Três chefes de Estado de países oeste-africanos estiveram esta terça-feira na capital comercial da Costa do Marfim, Abidjan, para negociações sobre a crise criada pelos resultados das eleições presidenciais.
Os presidentes de Cabo Verde, Pedro Pires, do Benim, Boni Yayi, e da Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, encontraram-se, em separado, com o presidente incumbente, Laurent Gbagbo, e depois com o seu adversário político, Alassane Ouattara.
Gbagbo insiste ter sido o vencedor das eleições do mês passado e recusa ceder o cargo a Ouattara, que foi internacionalmente reconhecido como sendo o presidente-eleito.
Depois das negociações com Laurent Gbagbo, o Presidente Boni Yayi disse que "tudo correra bem".
A troika foi depois ao hotel onde Ouattara está baseado com o seu governo-sombra - sob a protecção de forças das Nações Unidas.
Eles vão mandatados pela CEDEAO que, numa cimeira de emergência na última sexta-feira, aprovou uma resolução exigindo o afastamento imediato de Gbagbo, sob pena de terem de recorrer à força para o remover da presidência marfinense.
À sua chegada a Abidjan, os três chefes de Estado mantiveram negociações com o chefe da Missão da ONU de Manutenção da Paz, Young Jin Choi, antes de se encontrarem com Gbagbo.
Um porta-voz do governo da Serra Leoa disse à BBC que a troika enviada pela CEDEAO ofereceria a Laurent Gbagbo uma oportunidade de deixar o poder sem ser humilhado.
Segundo o correspondente da BBC em Abidjan, John James, a CEDEAO decidiu deliberadamente enviar três presidentes que ainda não se posicionaram abertamente em relação à crise marfinense.
'Melhor solução'
Na véspera da cimeira da CEDEAO, o Pedro Pires disse a jornalistas na Praia que "a procura de respostas e saídas é fundamental, tendo em conta que a situação não diz respeito apenas à Costa do Marfim, mas também aos países vizinhos."
"Temos de buscar a melhor solução do ponto de vista financeiro, humano e político, para a situação na Costa do Marfim, para evitar piores consequências," defendeu o chefe de Estado cabo-verdiano.
Mas depois do fracasso dos esforços de mediação do antigo presidente sul-africano, Thabo Mbeki, e do presidente da Comissão da União Africana, Jean Ping, esta visita tem um ponto único na sua agenda: persuadir Gabgbo a abandonar o poder de forma a evitar uma intervenção militar da CEDEAO.
Os apoiantes de Gbagbo dizem que a troika será recebida respeitosamente, mas que o incumbente continua a insistir ter sido o vencedor das eleições presidenciais.
A vitória de Ouattara no pleito de 28 de Novembro foi anulada pelo Conselho Constitucional por alegadas fraudes em algumas assembleias de voto na região norte da Costa do Marfim.
Na segunda-feira a União Africana nomeou o primeiro-ministro queniano, Raila Odinga, como enviado especial para a Costa do Marfim para pressionar Gbagbo a abandonar o poder.
Odinga rejeitou a possibilidade de um acordo de partilha de poder, destacando que apenas a Comissão Nacional de Eleições tem legitimidade para ditar o vencedor do pleito.
Disse também querer evitar o derrame de sangue mas afirmou ser importante que todos os africanos entendessem que em eleições há vencedores e perdedores.
"Já chegou o tempo da democracia africana subir um degrau e para estes grandes senhores da política africana começarem a perceber que o seu tempo acabou, que África está a andar para a frente e que eles se estão a tornar numa espécie em extinção no continente."
"Devem entender que em eleições há ganhadores e perdedores, e que quando se perde não há alternativa que não seja entregar o poder ao vencedor," concluíu Raila Odinga.
BBC – 28.12.2010