“Estamos numa situação em que, de algum modo, nos encontramos marginalizados nas decisões que são tomadas. Há dias, lemos que a Rio Tinto comprou por 3.8 biliões de dólares à Riversdale. Um organismo australiano pronunciou-se sobre esta transacção e nós moçambicanos, aqui onde está a reserva de carvão da Riversdale? Nós só lemos nos jornais. Nesta transacção, obviamente, porque se compraram acções, pagaram-se impostos lá (na Austrália) e aqui pagou-se um centavo de impostos? Quando a Rivesdale pagou 40%, anteriormente, à Tata pagou-se algum imposto a Moçambique? Entretanto, estas empresas contraem dívidas lá fora que, depois, vão ser pagas pelas nossas exportações. Algumas inquietações podem surgir por isso.
Estar-se a criar riqueza à margem dos moçambicanos dá o síndrome da Nigéria, em que eu vejo a minha terra ficar poluída pela indústria extractiva. Então, criam-se aqueles gangs que, raptando os trabalhadores estrangeiros das indústrias petrolíferas, beneficiam as populações. O que falamos quando abordamos a agricultura? Falamos da agricultura feita por empresas predominantemente moçambicanas ou pelas empresas estrangeiras sediadas em Moçambique? Aí podemos estar a falsificar. Nós temos que comer, a dívida da fome dá Tunísia dá motins em quase toda a parte do mundo. Alguém há-de pagar os 3.8 biliões de dólares à Rio Tinto. Eu creio que estamos no grupo dos que vão pagar. O que é que Inhambane e Moçambique ganham com o gás que sai de Inhambane”.
O PAÍS – 31.01.2011