– considera o historiador moçambicano, Egídio Vaz
O jovem historiador moçambicano Egídio Vaz publicou um comentário na sua página do Facebook, onde critica a pretensão de “transformar Armando Guebuza num símbolo nacional”.
Eis o comentário na íntegra:
O artigo 13º da Constituição da República diz taxativamente que “Os símbolos da República de Moçambique são a bandeira, o emblema e o hino nacionais” e não “Armando Guebuza, a bandeira e hino nacionais”.
SIM, amar-nos uns aos outros é o primeiro, senão o principal, mandamento de Deus. Eu acredito em Deus e adoro-o. A Constituição da República de Moçambique também gosta que os moçambicanos se amem e preservem a paz e a concórdia nacional. E mais, a mesma Constituição clarificou que o Estado Moçambicano é LAICO, significando isso que se abstém de aliar-se, institucionalmente, a qualquer religião.
O que os “gurus” da comunicação do Governo estão a fazer sugere-me que estamos num processo muito avançado de idolatria do “filho mais querido do povo Moçambicano”, o Presidente da República de Moçambique. Isso é mau, e mau sinal para todos nós e para a democracia e um grande perigo aos que ainda acreditam na competência destes “gurus”.
Nos últimos tempos, tenho notado com INUSITADA ESTUPEFACÇÃO que qualquer Governante que se preze neste país – entre ministros, governadores e administradores, etc., quando fala à comunicação social incluindo quando se quer deixar fotografar, tem tido como fundo a imagem do Presidente da República. Vamos por partes:
1.- A sala de imprensa do Conselho de Ministros, lá onde o meu, nosso querido amigo, dá os comunicados saídos do Conselho de Ministros tem como fundo UM EMBLEMA e UMA FOTOGRAFIA GRANDE do PR, Armando Emílio Guebuza.
2.- O emblema está ofuscado com a proeminência da figura do PR. Da TV não se vê quase nada, apenas assume-se; advinha-se.
3.- Quando o porta-voz do Governo fala à imprensa dá a sensação de que o Presidente da República está ali ao lado, atrás dele, dada a proeminência e grandeza da imagem dele. Por exemplo, quem viu o porta-voz ontem (antes de ontem) na conferência de imprensa, pode facilmente concordar comigo.
4.- Em todas as repartições do Estado, a primeira coisa que se vê ao entrar tem sido invariavelmente a foto do PR. A bandeira, esta, se não está suja e rasgada; pendurada no mastro exterior, seguramente que deve estar acantonada algures. O emblema, dificilmente se pode vislumbrar.
Mas o artigo 13º da Constituição da República diz taxativamente que "Os símbolos da República de Moçambique são a bandeira, o emblema e o hino nacionais" e não "Armando Guebuza, a bandeira e hino nacionais".
Isso é idolatrar um homem tão simples como todos nós, que também trabalha e quer ser corrigido. E (isso) é contra a Constituição da República.
Os que assim procedem, relevando a figura do PR em detrimento dos símbolos nacionais estão a enganar o Governo e o PR em particular. Elevar a figura do PR à categoria de símbolo da República de Moçambique é inconstitucional e lesa a pátria.
A obrigatoriedade dos "gurus" de comunicação e imagem do Governo deve ser o de "comunicar o Governo e suas actividades, suas insígnias e símbolos e conferir coerência discursiva para ganhar as pessoas e respectivas mentes para que elas estejam mobilizadas e dispostas a "consentir" a sua governação, engajando-se através da sua contribuição para assim materializar o contrato social sufragado.
Promover Guebuza em detrimento dos símbolos da República é mau e antiético; é, no limite, mediocridade dispensável e demonstra claramente que desconhecem a sua missão como comunicadores do Governo da República de Moçambique.
Por isso, por favor, tirem essa foto e coloquem o emblema nacional mais saliente, visível. Coloquem um pouco mais acima a foto do nosso querido PR para que não destoe o emblema da República de Moçambique. Em cada sede da Administração Distrital, ao lado da foto do querido PR deve estar o emblema nacional e a bandeira limpa e completa – e não rota – deve estar içada no mastro disponível em todas sedes e gabinetes do Estado, e não escondida na sala do Director ou Administrador.
Cada vez que os ministros quiserem dar uma entrevista, por favor tenham atenção em colocar mais visível e saliente o emblema e não a foto do “filho mais querido do povo Moçambicano”. É necessário comunicar isso e passar a mensagem de que todos estamos ao serviço do Estado, da Pátria e não do Presidente da República. Isso é, em linguagem vernacular, puxa-saquismo condenável”, conclui Egídio Vaz in Facebook. (*) Título adaptado, da responsabilidade do Canalmoz
CANALMOZ - 27.01.2011