AS aldeias de Shashasha, no distrito central de Meluco, Nimanro e Nacarrica, no posto administrativo de Mazeze, no distrito de Chiúre, foram identificadas como focos de insegurança alimentar em virtude da fraca produção agrícola na última campanha. Tal situação resulta da irregularidade das chuvas e inundações no rio Messalo, o conflito Homem/fauna bravia e a primazia da pesca em detrimento da produção agrícola.
A identificação, de acordo com o chefe dos Serviços Provinciais da Agricultura, Amílcar Mafumo, vem na sequência de um trabalho de monitoria realizado pelo sector em toda a província. Depois deste facto, as autoridades da Agricultura tomaram a peito o assunto, tendo alocado para estes dois focos sementes para a produção de culturas alternativas, ao mesmo tempo que avançaram com recomendações para a necessidade de rotação dos excedentes no interior da província.
A aldeia de Shashasha, junto ao rio Messalo, no distrito de Meluco, é um corredor de elefantes, que impiedosamente dizimam as culturas dos camponeses, que neste momento estão a recorrer a plantações alternativas não comíveis pelos paquidermes como tabaco e gergelim.
“Por isso esses camponeses têm dinheiro. Eles apenas precisam de condições para o escoamento da sua produção para os mercados”, disse o chefe dos Serviços Provinciais de Agricultura, para quem, em Mazeze, o problema da insegurança alimentar reside no facto de os camponeses dedicarem-se mais à pesca em detrimento da produção agrícola.
Shashasha recebeu já 500 quilos de sementes de ciclo curto de mapira e milho e igual quantidade de feijão-nhemba, na tentativa de corrigir o cenário, para além de negociar com os administradores distritais no sentido de orientarem os comerciantes para adquirirem os excedentes onde existem no campo.
O posto administrativo de Mazeze recebeu uma tonelada de semente de milho, duas de mapira e 100 quilos de feijão. Aqui as autoridades locais foram orientadas, igualmente, a intercederem junto dos comerciantes para adquirirem excedentes dos seus produtos nos locais onde a produção foi abundante para esta região, onde a principal actividade das populações é a pesca.
O quadro geral da província é descrito pelas autoridades do sector da Agricultura, em Cabo Delgado, como satisfatório, em razão do comportamento das chuvas, que estão a cair com regularidade desde a segunda quinzena de Janeiro último, quando tudo fazia recear que a campanha agrícola em curso pudesse estar comprometida devido à fraca precipitação pluviométrica.
De acordo com Amílcar Mafumo, chefe dos Serviços Provinciais da Agricultura, o cenário prevalecente garante que a campanha seja promissora, sendo que as chuvas das últimas semanas vieram corrigir o panorama que parecia ameaçá-la por não cair nas zonas produtivas da região litoral, pois ela só se verificava em abundância nos distritos localizados no sul e norte da província.
A província de Cabo Delgado comprometeu-se a lavrar 1.018.170 hectares na safra 2010/2011 para conseguir uma produção de 2.456.573 toneladas de produtos diversos, o que vai indicar uma realização de 17 porcento em relação à campanha anterior, segundo o chefe dos Serviços Provinciais da Agricultura.
Mafumo disse que, para fazer face a este objectivo, a província já tinha alocado semente diversa, que se achava suficiente, designadamente 283.600 toneladas de milho, 85 de arroz, 50 de mapira, 53.1 de feijões, 39.3 de amendoim, 9700 de soja e nove de gergelim, para além de 430.000 estacas de mandioqueira.
“Não é a quantidade certa para a área pretendida, mas contamos igualmente com o aprovisionamento da semente produzida pelas comunidades, uma acção na qual temos a parceria da União Provincial dos Camponeses (UPC)”, disse Amílcar Mafumo.
O incremento previsto, segundo a fonte, tinha como maior sustentáculo a produção de mandioca, cuja área se previa relativamente superior, se bem que se pretendia intensificar o cultivo desta cultura na província, reconhecida como ajudando a minorar a crise alimentar em tempos severos.
Estão disponíveis, em Cabo Delgado, para responder às necessidades em meios de produção e insumos agrícolas, 43 tractores, 32 multicultivadoras, nove moto-bombas e esperava-se a recepção, ainda para a presente campanha, de 200 juntas de tracção animal.
“Temos, por outro lado, 200 litros de herbicidas, 50 toneladas de adubos, 4610 quilogramas de pesticidas sólidos, 2847 litros de pesticidas líquidos e 543 litros de fungicidas, para além de contarmos ainda com um programa de aquisição de duas estufas para a produção de hortícolas”, disse Mafumo.
O nosso interlocutor entende que é preciso insistir na produção de hortícolas, pois há sinais que indicam que se pode, muito bem, consumir produtos da horticultura durante todo o ano, sem ser necessário pensar em trazer donde quer que seja. O exemplo disso, segundo a fonte, é que em Outubro, na cidade de Pemba, já se consumia tomate e cebola produzidos localmente.
- PEDRO NACUO