Muammar Kadhafi condenado pelos Estados Unidos e a ONU devido à violência da repressão dos manifestantes
Por Redacção VOA Terça, 22 Fevereiro 2011
Sheik Yusuf Qaradawi, condenou Mumammar Kadhafi à morte
"Exorto os meus irmãos e filhos que são soldados e oficicias no exército líbio a desobedecerem às ordens para matar o seu povo.Emito daqui uma fatwa para os soldados e oficiais que o puderem fazer para matarem Kadhafi". Sheik Yusuf Qaradawi
O clérigo muçulmano Sheik Yusuf Qaradawi emitiu um decreto religioso exortando ao assassínio de Muammar Kadhafi.
Qaradawi, Presidente da Associação Internacional dos Académicos Islâmicos, e apresentador do programa "A Sharia e a Vida", na televisão al-Jazeera, disse que o dirigente líbio "quer aniquilar o seu próprio povo" e exortou "matem-no e aliviem o povo deste fardo".
Na sua "fatwa", Qaradawi declarou que "não é heroísmo combater o seu próprio povo e atingi-lo com mísseis", prosseguindo: "Exorto os meus irmãos e filhos que são soldados e oficicias no exército líbio a desobedecerem às ordens para matar o seu povo.Emito daqui uma fatwa para os soldados e oficiais que o puderem fazer para matarem Kadhafi".
islamictruth.org
Estas e outras condenações menos drásticas de Kadhafi seguem-se à sangrenta reacção do regime às manifestações e distúrbios, em várias cidades, que resultaram em centenas de mortos. Manifestantes anti-Kadhafi foram atacados por aviões e helicópteros, segundo relataram testemunhas.
A violência dos ataques levou o secretário-geral da ONU, Ban ki-Moon a expressar o seu "ultraje" após ter telefonado ao dirigente líbio, Muammar Kadhafi. Segundo um porta voz das Nações Unidas, exortou-o, durante uma "longa conversa" a por termo à violência contra civis indefesos. Os Estados Unidos denunciaram, igualmente, a morte indiscriminada de civis, e exigiram o fim "imediato de um banho de sangue inaceitável".
Horas antes dos ataques com helicópteros, os pilotos de dois caças Mirage F-1, desertaram para Malta onde revelaram ter recebido instruções, que ignoraram, para bombardear manifestantes.
Um caça Mirage F-1, semelhante aos adquiridos pela Líbia
A conversa de Ban Ki-Moon com Kadhafi parace ter posto termo a especulações sobre a probabilidade de o dirigente líbio ter fugido para um país estrangeiro. Um ministro britânico lançou a especulação e levantou a hipótese de o dirigente líbio se dirigir à Venezuela. Mas o governo de Hugo Chavéz já o desmentiu. O paradeiro do dirigente líbio esteve em dúvida todo o dia até que Kadhafio apareceu frentes às câmaras da televisão estatal a dizer: "Estou em Tripoli".
Em todo o caso, a Líbia parece caminhar para o caos e o desmoronamento do regime de Kadhafi, em resultado de quase uma semana de manifestações anti-governamentais, seguidas de deserções nas hostes políticas, militares e diplomáticas do regime de 42 anos de socialismo árabe.
Aviões da força aérea metralharam manifestantes, estes saquearam esquadras da polícia, e o parlamento, e os soldados saquearam bancos e lojas. Em Tripoli e Benghazi, a segunda cidade do país, edifícios governamentais e das forças de segurança foram incendiados e saqueados.
Há também indicações da demissão de ministros e embaixadores, e a deserção de militares, em protesto contra a morte de manifestantes às mãos das forças de segurança, alguns em verdadeiros massacres.
ASSOCIATED PRESS
Urnas funerárias em Benghazi, a segunda maior cidade líbia.
Em Tripoli, as forças de segurança mataram pelo menos 60 pessoas. A Federação Internacional da Ligas dos Direitos Humanos indicou que várias cidades da Líbia, entre elas Benghazi e Syrte estão em poder dos manifestantes depois da fuga em debandada das forças armadas.
A mesma organização refere que até ao momento morreram entre 300 a 400 pessoas desde o inicio dos protestos. Uma outra Organização Não-Governamental – a Human Rights Watch – avança por seu lado 233 como o número de mortes durante os protestos dos últimos dias.
Entretanto a Agencia France Press cita testemunhas no local que negaram a queda da cidade de Syrte. A France Press relata no entanto a deserção pelo exército da cidade de Zaouia a 60 quilómetros a oeste de Tripoli.
As manifestações intensificaram-se em resposta a um discurso do filho de Kadhafi, ontem à noite, que advertiu para o perigo de uma guerra civil. Saif al-Islam numa declaração difundida pela televisão pública proclamou o carácter sacralizado do poder do seu pai Muhammad Kadhafi. Saif al-Islam disse que o governo vai lutar até “ao último homem, ou mesmo até ultima mulher e ultima bala” para proteger o poder.
O filho de Kadhafi disse que o país corre sério risco de guerra civil que poderá acabar em “rios de sangue” e permitir o regresso dos poderes coloniais. Ele insistiu que a Líbia não é o Egipto ou a Tunísia, dois países vizinhos onde os regimes foram deitados abaixo nas últimas semanas por protestos populares.
Os confrontos desta segunda-feira em Tripoli são descritos como a primeira onda de violência séria na capital líbia desde o inicio dos protestos. Imagens de vídeos amadores e relatos de testemunhos confirmam o recurso a arma de fogo por forças de segurança, numa altura em que o medo se generalizou.
O governo líbio continua a restringir o acesso a informação, a rede de internet está quase desactivada e o sistema de telemóveis está a funcionar com interrupções, o que dificulta sobremaneira a cobertura jornalística e principalmente o recurso a fontes independentes.
Vários países europeus e companhias petrolíferas anunciaram o repatriamento dos seus funcionários. Ao nível da União Europeia, Portugal foi incumbido para assegurar as operações de repatriamento dos cidadãos comunitários. Aviões C-130 da força aérea portuguesa já foram despachados para operações na Líbia.
Agitação política noutros países
Enquanto isto, no Iémen um manifestante foi morto hoje na cidade de Aden, isto numa altura em que o movimento de contestação do poder começa a chegar as regiões norte do país. No Bahrein um opositor ao regime morreu igualmente hoje vítima de ferimentos de que foi alvo ontem.
A morte na cidade de Aden, de um manifestante hoje vítima de tiros das forças de segurança eleva para 14 o número total de mortos, desde o inicio a 13 deste mês de contestações do regime no Iémen.
Durante a tarde milhares de manifestantes reuniram-se numa praça diante da Universidade de Sanaa, exigindo o fim do regime. Ao cair da noite foi acentuada a afluência do público ao local que baptizaram de “Place Tahrir” – a Praça da Liberdade – em referência a revolução egípcia.
O movimento de contestação também já se faz sentir ao norte do país. Dezenas de milhares de manifestantes de confissão chiita participaram em protestos da cidade de Saada exigindo a demissão do presidente Ali Abdallah Saleh.
No Iémen há o risco desse movimento de contestação se tornar numa difícil contenda político-religiosa entre a minoria sunita que governa o país e a maioria chiita que representa 70 por cento da população iemenita.
No reino do Bahrein a oposição continua a exigir ao rei para que demita o governo antes de dar inicio ao diálogo político.
Várias pessoas protestaram novamente segundafeira, depois de terem passado a noite em tendas na Praça de Pérolas na capital Manama.
Responsáveis da oposição responsabilizam o governo do primeiro-ministro Khalifa Bin Salman pelo que chamaram do recente banho de sangue em que morreram pelo menos seis pessoas e no qual se registaram centenas de feridos. O primeiro-ministro que é tio do rei, e está no poder há 40 anos.