Comentário De Jaime Ubisse
O Presidente Armando Guebuza causou-me enorme espanto na semana passada.
É que o nosso Chefe de Estado apareceu num dos canais de televisão com semblante aparentemente carregado e a exprimir ""muita indignação" pela atitude das autoridades líbias ante as manifestações que varrem aquele país do Norte de África, na tentativa de derrubar o coronel Muammar Khadafi que está no poder há sensivelmente 40 anos.
Pareceu-me um Guebuza sensível ao sofrimento dos mais fracos.
Efectivamente, as forças ainda leais a Muammar Khadafi não hesitaram em recorrer a quase todos os meios letais ao seu alcance, segundo relatos disponíveis, incluindo meios aéreos, para reprimir os manifestantes anti-regime, com um saldo de peb menos 300 mortos, na sua maioria civis, nas cidades de Tripoli e Benghazi.
Perante aquele cenário de brutalidade, o Presidente Guebuza classificou a atitude das forças leais a Khadafi de "inconcebível" e apelou ao seu homólogo instalado em Tripoli a parar com a violência, porque"nada deve justificar a morte de cidadãos".
Acredito que este pronunciamento não deixou apenas a mim estupefacto, porque muitos estão lembrados do que fizeram as forças da Lei e Ordem que têm como chefe supremo o Presidente Guebuza nos dias 1 e 2 de Setembro de 2010 aqui em Moçambique, quando a população saiu à rua reivindicando contra a carestia de vida.
Não me lembro de ter visto o nosso Presidente a a perecer em público para lamentar a morte de cerca de duas dezenas de pessoas, incluindo uma criança que foi atingida a tiro de arma de fogo quando vinha da escola. Não me lembro também de alguma notícia de acção de amparo à família deste miúdo inocente que quanto a mim até devia estar na Praça dos Heróis.
Ainda na passada sexta-feira um semanário relatava a história horripilante de uma das vítimas da actuação irresponsável das "gloriosas" forças do Presidente Guebuza - o Quito, outro jovem estudante (18 anos de Idade) que acabou perdendo uma perna e hoje está ao Deus dará,
É isto que me espanta relativamente à reacção do nosso Presidente da República pelo que o seu homólogo líbio está a fazer aos seus concidadãos.
Será mesmo que percebi bem, senhor Presidente, que no seu entender nada deve justificar a morte de cidadãos. Será isso válido também para Moçambique ou é charme para consumo externo?
Isto teva-me a concluir que efectivamente "em política vale tudo", mesmo tirar o olho!
É por isso que hoje, depois de tanta recusa, a FRELIMO, presidida por Armando Guebuza, diz que está a dialogar com a RENA MO, se bem que, quanto a mim, isto não tem nada de sério, servindo apenas 'para fazer o boi maringuiano dormir e não animar qualquer iniciativa de "fúria", já que as "fúrias'* populares viraram moda, no âmbito desses revolucionários ventos que sopram do Magreb.
CORREIO DA MANHÃ – 28.02.2011