O jornal francês Le Monde desta quinta-feira apresenta os resultados surpreendentes de um estudo do geneticista brasileiro Sérgio Danilo Pena, da Universidade de Minas Gerais, publicado na revista científica anglo-americana Plos.
De acordo com a pesquisa, em todos os brasileiros, seja qual for a cor da pele, predomina uma herança genética europeia. Dependendo da região, ela pode chegar a 60% dos genes humanos, como é o caso no nordeste, e 77% no sul.
Mesmo os brasileiros que se acham negros - uma das cinco cores ou raças das estatísticas oficiais - têm uma forte ancestralidade europeia. O estudo cita os afrobrasileiros da Bahia, cujo patrimônio genético europeu é de 54%. Os mulatos do norte ultrapassam este índice, com 68%.
Le Monde cita a surpresa do próprio autor da pesquisa, o geneticista brasileiro Sérgio Danilo Pena, da Universidade de Minas Gerais, que esperava uma forte ancestralidade europeia no sul e sudeste do país, mas não no norte e no nordeste.
A conclusão é que, geneticamente, o Brasil é mais homogêneo do que se pensava.
O geneticista também aborda um ponto importante durante a entrevista ao correspondente do Le Monde Jean-Pierre Mangellier: a herança ancestral não é necessariamente ligada à aparência física. E a razão é simples de explicar: dos 30 mil genes do corpo humano, apenas 30, no máximo, determinam a cor da pele e dos olhos, a forma do rosto e o tamanho do nariz.
Os resultados do estudo são explicados pela própria história do Brasil, com uma mistura que vem de séculos. O país tinha, ao ser descoberto em 1500, três milhões de índios e recebeu quatro milhões de escravos vindos da África entre os séculos XVIII e XIX. A partir de 1872, mais de seis milhões de europeus emigraram para o Brasil.
O artigo cita uma frase do etnólogo Gilberto Freire: “Todo brasileiro, mesmo claro e de cabelos loiros, tem na alma a sombra ou a marca do índio e do negro". O contrário também é verdade, conclui o jornal francês.