“Burka: vestido longo, usado em alguns países muçulmanos, que cobre completamente o rosto e dotado de um pequeno visor em tela através do qual se pode enxergar.” DESPERTOU-ME a atenção uma notícia no telejornal de um dos canais cá da praça. Segundo me pareceu, aí pelas bandas de Cabo Delgado, numa escola secundária em Pemba, uma aluna deu vazão às suas crenças religiosas e, vai daí, decidiu ir à escola vestida de uma vistosa burka.
O que acho mesmo é que os professores, provavelmente assessorados pela Direcção da escola, do alto da asneirice e de uma desonestidade intelectual do tamanho da muralha da China, põem em causa as aulas de toda a classe. Por causa de uma inocente burka toda uma classe ficou sem aulas. Sem dúvidas excesso de zelo que resulta de uma arreliante distorção de mentalidades. A miúda emburkada, convenhamos, não personifica qualquer tipo de ameaça, nem religiosa, muito menos à laicidade deste país. Se o argumento é esse então a atitude da escola está redondamente errada. Agora, se o que leva a desamparar a miúda tem a ver com o valor da burka em si, uma vez que é de senso comum que a burka não é um sinal de religião, mas de subserviência e ameaça à sua dignidade, então esse problema não é da escola, é de quem tem a sua crença e identidade ligadas ao conceito da burka.
Verdade mesmo é que a escola está a vedar um dos mais elementares direitos de alguém: a liberdade de religião e, para o caso da emburkada de Pemba está coarctada a igualdade de género. Já é tempo de, no conjunto de direitos humanos básicos, olharmos para a dignidade da pessoa e sobretudo percebermos que é sine qua non ter em conta todo um sistema de valores e crenças sociais.
Como podemos condenar a burka sob o argumento de que esta anula a identidade e dignidade da mulher ou põe em causa a laicidade de um Estado, se o argumento de muitas mulheres que a usam é de que a burka lhes confere identidade e dignidade?
Ciao
- Leonel MagaiaToda - [email protected]