A talhe de foice
Por Machado da Graça
Num texto recente, Nini Satar, habitante permanente, há vários anos, da Cadeia de Máxima Segurança, BO, e que tudo indica lá permanecerá por muitos mais anos, afirma, convictamente, que é da Frelimo.
E, até onde sei, a Frelimo nunca declarou o contrário.
Nini vai mais longe: diz que sempre apoiou a Frelimo que pensa continuar a apoiar aquele partido. E acrescenta que continua a ter amigos que ainda hoje são ministros e deputados do partido maioritário.
Famossa ficou a foto em que, numa sessão de angariação de fundos para aquele partido, apareciam o Nini e o então Presidente Joaquim Chissano segurando os dois extremos de um bonito tapete com ar de caro, fornecido pelo Nini para ser leiloado a favor dos fundos eleitorais da Frelimo.
Ficamos assim a saber que uma pessoa que foi condenada em tribunal pelo assassinato do jornalista Carlos Cardoso é da Frelimo sempre apoiou a Frelimo e pensa continuar a apoiar e é amigo de ministros e deputados da Frelimo.
Um militante exemplar, diríamos. Ou, talvez, um exemplar de militante da Frelimo.
O Tribunal condenou-o como mandante do assassinato de Cardoso. Ele nega a acusação. Diz que o mandante foi Nyimpine Chissano. Diz ele e dizem quase todos os outros participantes do crime macabro.
Mas mesmo que isso seja verdade, Nini não escapa da acusação de ter participado, como financiador, de pagamento aos assassinos directos.
Ora, podemos dizer como Nyimpine Chissano era, também, da Frelimo, terá sido um crime entre camaradas um crime para calar aquele que alguns membros da Frelimo consideravam como um grande incómodo. Como um obstáculo que seria bom ver removido A tiro, se necessário fosse.
Que tudo decorreu dentro deste âmbito de camaradagem ficou claro com a escandalosa história das fugas e recapturas do assassino Anibalzinho. Sempre que se aproximava um qualquer acontecimento em que o testemunho do bandido podia ser perigoso para o filho do Camarada-Mor dessa altura, o Anibalzinho era solto. Passado o momento difícil voltava a ser recapturado.
Se hoje se pergunta ao Anibalzinho quem lhe facilitou as várias fugas, ele não tem qualquer problema em apontar o dedo a Almerindo Manhenge na altura Ministro do interior no governo de Joaquim Chissano, pai de Nyimpine.
E Anibalzinho conseguiu escapar-se da cadeia por 3 vezes apesar de estar a ser controlado por três diferentes forças. Uma das quais a Guarda Presidencial?!
Porque é que um vulgar assassino era controlado pela força que garante a segurança do Chefe de Estado, é uma pergunta que cada um dos nossos leitores deve responder por si.
De qualquer forma as três diferentes forças eram controladas por Almerindo Manhenge e, portanto, obedeciam a uma única voz, a dele. Ou de quem o controlava a ele.
O curioso é que quase todos os participantes desta história, que tenho vindo a contar, tinham, e provavelmente continuam a ter, o famoso cartão vermelho de membros da Frelimo.
Coincidência desagradável para aquele partido.
Será que um membro do Governo que visite a BO, ao cruzar-se com o Nini, o cumprimenta dizendo: Como está, camarada Satar".
Isto no caso de ser apenas camarada e não um dos membros do governo amigos pessoais do preso. Se for este o caso, se calhar até se abraçam.
Foi pena ele não ter indicado nomes…..
De resto, recentemente, um deputado do batuque e da maçaroca apareça na longa lista de amigos do Nini no Facebook. E não parecia achar isso nada de particularmente anormal.
Malhas que a camaradagem tece, diria o poeta. E não estamos sequer a entrar na área dos fumos, digeríveis e injectáveis que isso é todo um mundo à parte.
Samora Machel? Ah., sim, parece que lhe levantaram uma estátua no Xai-Xai.
Dizem-me que feia, mas ainda não vi, nem em fotografia...
SAVANA – 25.02.2011