Pedindo o fim do regime do partido único
A polícia chinesa dispersou uma centena de pessoas que se juntou em Pequim, depois de apelos a protestos pró-democracia inspirados na contestação no mundo árabe, segundo a agência Reuters.
Pelo menos 15 activistas e defensores dos direitos humanos chineses estão dados como desaparecidos desde ontem
Os pequenos protestos em Pequim e Xangai acabaram por ser a prova da determinação das autoridades chinesas em não permitir mesmo desafios tépidos ao regime. Mensagens colocadas na Internet apelavam a protestos em 13 cidades; em todas foi ordenada uma grande presença policial para dissuadir os manifestantes.
Em Pequim, cerca de 100 pessoas juntaram-se em frente a um restaurante McDonald's, na rua de Wangfujing, situada a poucos metros da praça Tiananmen, onde decorreram as célebres manifestações pela democracia em 1989, confirmou a agência de notícias chinesa Xinhua.
“Estou a tentar fazer algo pelo meu país, mostrar o meu poder”, disse um estudante universitário à Reuters. A multidão era uma mistura de manifestantes e curiosos atraídos pela presença de polícia e jornalistas.
Enquanto em Pequim não parecia ter havido detenções nas manifestações, em Xangai pelo menos três jovens foram levados pela polícia. Dois manifestantes idosos diziam estar a protestar contra a falta de justiça do sistema legal chinês: “Prendem pessoas indiscriminadamente e batem-lhes”, queixou-se uma das manifestantes mais velhas. “Que direitos humanos temos? Nenhum. Nem podemos andar. Nem sequer podemos falar”, queixou-se um homem que também não se quis identificar.
As autoridades chinesas vêm a restringir buscas em sites de microblogging semelhantes ao Twitter que tenham a ver com a agitação no Médio Oriente: não era possível efectuar buscas por “Egipto” e agora também não por “jasmim” (como ficou conhecida a revolução tunisina).
Activistas detidos
Assim que se começou a espalhar a notícia de que manifestantes estavam nas ruas, diversos dissidentes políticos e activistas foram levados pela polícia. “Muitos defensores dos direitos humanos foram levados nos últimos dias, alguns estão em prisão domiciliária e sem contactos com o exterior”, indicou à AFP o advogado Ni Yulan.
Pelo menos 15 activistas e defensores dos direitos humanos chineses estão em parte incerta, numa altura em que circulam petições online apelando à mobilização nas ruas contra o regime comunista chinês, que tem apertadas leis de censura contra os conteúdos na Internet, indica a AFP.
“Instamos os desempregados e as vítimas de despejos forçados a participarem em manifestações, a gritarem slogans e a procurarem a liberdade, a democracia e as reformas políticas que ponham fim a esta regra do partido único”, podia ler-se numa dessas petições online, citada pela AFP.
Estas mensagens – muitas delas tendo origem no estrangeiro, em sites mantidos por activistas políticos chineses – apelavam a manifestações em Pequim, Xangai, Guangzhou e noutras dez grandes cidades.
Os manifestantes foram instados a gritar slogans como “Queremos comida”, “Queremos trabalho”, “Queremos Justiça”, “Viva a Liberdade” e “Viva a Democracia”.
Trata-se do primeiro protesto na China desde as manifestações por democracia e melhores condições de vida que estão a decorrer nos países árabes e que já provocaram a queda dos governos da Tunísia e do Egipto.
“Ao levar isto tão a sério, a polícia está a mostrar o quão preocupada está com o facto de a Revolução de Jasmim poder influenciar a estabilidade social”, disse Li Jinsong, um advogado perito em direitos humanos.
PÚBLICO – 20.02.2011