Garantia do Bispo da Diocese de São Tomé e Príncipe Dom Manuel António. Para o chefe da Igreja Católica são-tomense, o que está a acontecer em Guadalupe, é apenas resultado de medos, traumas e crenças, e que resultam num histerismo colectivo.
Dom Manuel António, rejeita qualquer situação de interferência espiritual na escola secundária de Guadalupe. Segundo o Bispo da Diocese de São Tomé e Príncipe, tudo não passa de histerismo colectivo. «É um fenómeno de histerismo colectivo. É mais do que evidente. Não tem nada a ver nem com espíritos nem com diabos, nem com santos, nem com nada disso. Este fenómeno atinge a toda gente pelas crenças que as pessoas têm, as vezes até com aspectos ridículos», desabafou o Bispo.
Dom Manuel António tomou como exemplo ridículo, o facto de ter tido informações segundo as quais o filho do curandeiro que morreu durante o D´Jambi realizado na escola, terá circulado na escola a dizer que estava a captar o espírito do seu pai falecido. «Então todos estavam com medo. Medo de quê? Isto é ridículo. Isso é estupidez. Olha já Jesus Cristo dizia que nada que está fora do homem pode fazer mal ao homem. Não são espíritos que estão aí fora, diabos que andam por aí a solta, que fazem mal ao homem. O que faz mal ao homem são as suas crenças, os seus medos e as suas vivências.
O Bispo realçou questões sociais, como sendo um dos aspectos que alimenta o histerismo colectivo que se regista em Guadalupe. «Pode haver alguns casos de meninas que tenham desmaiado por razões naturais, porque se alimentam mal, chegam a escola sem tomar o pequeno almoço, estão numa fase de grande desgaste de energia. E isso faz com que elas desfaleçam. Se se atribuiu a estes desfalecimentos aos espíritos que tomaram conta da miúda, imediatamente são uma série deles que desmaiam muitas vezes fora da escola, cria-se um ambiente de histerismo que faz com que muitas desmaiam. Os pais têm medo as crianças ficam também com medo e cria-se todo um ambiente mais do que propício a este fenómeno», declarou, Dom Manuel António.
O chefe da Igreja Católica em São Tomé e Príncipe, tem solução fácil para o problema na Escola de Guadalupe. «A mim se me perguntam como é que resolveria o problema de Guadalupe, olha fechava a escola durante um ano. Acabou. Então, as pessoas não querem estudar, preferem andar a brincar aos espíritos. Vão para casa. Estamos agora a brincar aqui? Isso não pode ser assim. As pessoas acreditam nisso, acabou. Enquanto acreditarem o fenómeno vai estar presente», sublinhou.
O recurso a ritos tradicionais para lidar com a situação, é condenado pelo Bispo. Para Dom Manuel António, o D´Jambi realizado em Janeiro na Escola Secundária e que resultou na morte do curandeiro, é demonstração clara do aproveitamento que se faz da situação. «Haverão pessoas que procuram aproveitar-se da situação. Aquele senhor e companhia que tentou organizar o D´Jambi a troco de uns milhões, esteve a aproveitar-se da situação, e alguém colaborou com ele. As caveiras não estavam enterradas no pátio da escola, alguém as colocou lá. Agora quando se acredita nestes ritos, pelo amor de Deus, isso é um primitivismo total», pontuou.
Dom Manuel António discorda das ideias defendidas pela medicina tradicional, e também contraria a posição da Igreja Evangélica. «Uma grande parte das ceitas religiosas que hoje estão no mundo vivem nessa ideia de dualismo, de que o mundo é uma luta constante entre Diabo e Deus. Agora pergunto. Imaginemos que aquilo era de facto um espírito diabólico que estava lá. É com cacharamba, tambores, ritmos malucos, e subir a postes eléctricos, que se tira esse diabo? Ou inventando caveiras por aí? Ou é com fumos, orações , carvões ardentes e velas acesas e gritos, Sai Satanás, Sai Satanás, que se resolve. E quando vejo essas ceitas religiosas a gritar tanto com tanto histerismo também colectivo, lembro-me sempre que para esta gente Deus está a dormir. E portanto é preciso gritar muito alto. Será que o diabo sai por causa dos meus gritos?», interrogou.
A interpretação da medicina tradicional e de outras igrejas de que diabo está a operar em Guadalupe, mereceu repulsa do Bispo católico. «Onde é que nós chegamos. Que diabo, que carapuça. O diabo existe, mas Cristo é mais forte que o diabo, Cristo já venceu o diabo. Se estou baptizado em Deus, agora sou possuído pelo Diabo a torto e a direito? O diabo tem mais o que fazer para estar a meter nessas coisas», reforçou.
Dom Manuel António defende o acompanhamento psicológico para tratar dos casos que considera ser também resultado de desequilíbrios psicológicos. O Bispo avisa que nunca será realizada uma missa no quintal da escola de Guadalupe. «Não confundamos a eucaristia com ritos mágicos. A eucaristia não é para tirar diabos. A eucaristia é para celebrar a morte e a ressurreição de Cristo. Se as pessoas quiserem ir a Igreja para de facto rezar a Deus para viverem com maior serenidade e tranquilidade para ultrapassar essas coisas, muito bem está lá a Igreja de Guadalupe. Agora celebrar uma eucaristia na escola como celebram o D´Jambi, nem pensar», concluiu.
Abel Veiga
Tela Non 11 Março 2011
Associação da Medicina Tradicional garante que tem solução para o fenómeno de TRANSE na escola de Guadalupe Amâncio Valentim, Presidente da Associação da Medicina Tradicional de São Tomé e Príncipe, diz que a instituição está a estudar o fenómeno segundo ele diabólico, que está a ocorrer na Escola de Guadalupe. Se houver solicitação do Governo, associação garante que o problema será resolvido.
O Presidente da Associação da Medicina Tradicional de São Tomé e Príncipe, explicou que a instituição reconhecida pelo Estado são-tomense, tem vários departamentos. Um deles está vocacionado para lidar com questões espirituais. «Quando se fala de espiritismo, o senhor Ministro da Educação desempenhou as funções de Padre, e portanto conhece o que é espiritismo. Ele não pode dar de laico. O que entendo sobre o que se passa em Guadalupe é que existe um poder estranho, diabólico que lá está», declarou Amâncio Valentim
A Associação dos Médicos Tradicionais, garante que tem homens capazes de intervir na escola secundária de Guadalupe e resolver definitivamente o problema. «Tem-se que ir buscar pessoas que entendem de facto da magia negra para fazer isso. Se vão buscar um padre ele faz a missa e acabou. O Pastor da Igreja vai faz uma ou outra pregação, com base na bíblia, e o diabo continua lá», precisou.
A realização do D´Jambi, é uma das soluções proposta pela Associação da Medicina Tradicional. Um D´Jambi que não tem nada a ver, segundo Amâncio Valentim com aquele que foi realizado em Janeiro passado na Escola. «Teria que ser um conjunto de pessoas com capacidade. Porque alguém que vá aí tocar o D´Jambi para apenas ganhar dinheiro, resulta no que aconteceu», referiu fazendo alusão a morte do curandeiro no D´Jambi de Janeiro na escola de Guadalupe.
N a interpretação do fenómeno que tem perturbado o funcionamento da Escola Secundária de Guadalupe, Amâncio Valentim, diz que o mal que lá reside deve ser expulso invocando o seu próprio nome. «Diabo está lá. Deus actua lentamente tem-se que chamar o diabo que lá está para resolver o problema», declarou.
A Associação da Medicina Tradicional, recusa-se terminantemente em intervir na Escola Secundária de Guadalupe sem o aval do Governo. «Se o Governo não convocar ninguém vai lá porque a escola é do estado. Se o Governo convocar a Associação de Medicina Tradicional, é óbvio que temos homens capazes para ir resolver o problema», acrescentou.
A Associação da Medicina Tradicional, reforça a convicção de que o problema de Transe na escola de Guadalupe tem solução. No entanto adverte que a intervenção deve ser urgente. «Podem acreditar que se não resolverem este problema vai haver mortes. Pena são as crianças inocentes. Transe existe. É um poder estranho que transforma as pessoas numa espécie de robots, Transe existe se não existisse também não existiria religiões», concluiu Amâncio Valentim.
O Presidente da Associação da Medicina Tradicional, deu exemplo de uma criança que estava a ser constantemente apossada por espíritos em Guadalupe, e que depois de os pais terem levado a mesma para o seu centro de trabalho espiritual, nunca mais a criança voltou a ser perturbada pelos alegados espíritos.
Abel Veiga
Tela Non 11 Março 2011