A talhe de foice
Por Machado da Graça
A questão do Vega 5 tem sido, até agora, um catálogo pormenorizado de incompetência, incapacidade e mau serviço público dos responsáveis do nosso Ministério das Pescas: Do Ministro e, muito principalmente, do Vice-Ministro, que parece ter sido a pessoa encarregada de lidar com o assunto.
.Já toda a gente sabia que o Vega 5 tinha sido capturado por piratas da Somália e o Vice-ministro Gabriel Muthisse continuava com uma lenga-lenga segundo a qual não havia nenhuma certeza sobre o destino do barco e era duvidosa a ideia dos piratas somalis porque nem o barco nem a sua carga lhes interessariam.
Já a imprensa nacional falava, com algum pormenor, sobre contactos realizados com os piratas e Gabriel Muthisse, na típica posição do marido cornudo que é sempre o último a saber, continuava a dizer que não havia contactos nenhuns e estavam a monitorar a situação.
E continuaram a monitorar, seja lá o que for que isso queira dizer, até que, agora, somos informados pela BBC de que o Vega 5 foi capturado pela marinha de guerra indiana.
Pelos vistos, enquanto Muthisse monitorava, os somalis tinham feito uma coisa que ele não tinha previsto: tinham transformado o barco de pesca em navio pirata.
E lá andavam eles a atacar outros navios, cheios de homens armados. Os militares indianos dizem que capturaram 61 piratas a bordo do Vega 5, tendo libertado 13 dos tripulantes do navio, que seguiam a bordo como reféns.
O que nos mostra que, enquanto uns monitoram, outros agem e fazem as coisas acontecer.
O que é óptimo para a auto-estima. Dos militares indianos, é claro. Não dos nossos Muthisses...
Agora leio em qualquer lado que, perante o justificado receio dos nossos pescadores se fazerem ao mar, perante tanta incompetência e, consequentemente, insegurança, os espanhóis forneceram lanchas rápidas para proteger os pesqueiros. Pormenores não sei que tipo de lanchas, quantas, com que armamento?
Nem sequer sei se isso é verdade ou apenas mais uma mentira para convencer os pescadores a fazerem-se ao mar.
Do lado do nosso Governo só as frases vagas de costume: “Estão a ser tomadas medidas", "há um trabalho que está sendo feito” e por aí adiante. De concreto, nada de nada!
E só quero ver a cara dessas pessoas se, infelizmente o episódio se repetir. O que, esperemos, não aconteça.
Moçambique tem quase 3000 quilómetros de costa marítima e não pode deixar a segurança dessa enorme extensão nas mães de umas vagas lanchas fornecidas pelos pescadores espanhóis. Com o problema dos piratas e o dos imigrantes clandestinos, o nosso país precisa de uma marinha muito mais a sério.
Precisa, é caro muito mais disso do que de um estádio de futebol. Principalmente um estádio de futebol onde não se pode jogar futebol.
Com os 85 milhões de dólares que custou o estádio, quantos meios navais de defesa da costa poderiam ter sido comprados?
No governo de um país como na gestão das despesas de uma família, há que fazer escolhas naquilo que é necessário e possível gastar. Se isso não for feito não há discursos de auto-estima que nos salvem de cair no buraco.
P.S. - Não posso deixar de enviar um abraço solidário a todo o povo japonês, neste momento de horror que atravessa.
SAVANA – 18.03.2011