"Temos de abandonar a mentalidade de vítimas que adoptámos há tanto tempo: a noção de que alguém nos deve algo. Temos de acabar com as lamúrias e deixar de pedir esmolas ao resto do mundo". Para Chika Onyeani, "temos que reconhecer e aprender com os brancos e com os asiáticos o que é necessário fazer para se conseguir sucesso" in, email recebido, sobre o livro PRETO CAPITALISTA, um livro do nigeriano, negro claro, Chika Onyean
Não, não vou falar de África.
A não ser de uma pequena parte dela, a que está no nosso sangue, aquela de que nos devíamos orgulhar, porque é prova inesquecível da nossa capacidade e vontade em termos feito a 1ª Globalização.
Facto que alguns fazem por esquecer, como fazem por esquecer a multivariedade de sangues que existe no nosso sangue “português”, a que eu prefiro denominar de “imperial português”, precisamente para não me misturar, eu luso angolano nascido em Nampula Moçambique, com o que por aí anda.
Recordo que o titulo do texto o fui buscar a um dos mais divertidos filmes do século XX, que relata uma hilariante história em volta de uma garrafa de COCA COLA, que prova precisamente que, estranhamente, os Deuses, sempre bons e acertados, viraram loucos.
Passado claro ali pelas Áfricas…
Os “portugueses”, ou “imperial portugueses”, correspondem ao conceito que leva Camões a divergir entre os Velhos do Restelo, os que se opunham à Globalização, e os outros, os que a praticavam, alinhando com estes últimos.
Enfim, entre os que acreditavam que havia um espaço próprio para Portugal, os imperial portugueses, tal qual o recorda Fernando Pessoa que lembra que a sua Pátria é a Língua Portuguesa, e os que achavam que este país deve atirar a toalha ao tapete e render-se.
Era bem estreita a via que relacionava mais uma vez Portugal com o Mundo, num contexto pós imperial, entre a CPLP, as comunidades de expressão portuguesa espalhadas pelo Mundo, (daí o papel do sr Chavez…), e a União Europeia.
Parece que esta via está derrotada.
A via da gestão dos investimentos no exterior e do exterior para Portugal, (e não falo somente dos investimentos angolanos, que ainda bem que existem, pois prefiro recordar o gesto solidário, que mostra que há “outro mundo” ainda, de Ramos Horta, Presidente de Timor Leste), a via da economia global, ou das “exportações”, a via da percepção de uma autonomia relativa, difícil, mas concretizável, é a via que parece derrotada, hoje, 24 de Março de 2011.
Porque temos uma História, imperial, de 8 séculos e somos caso único, mas dela estamos esquecidos.
Bem, estamos claramente a deixar de ser autónomos.
Somos cada vez mais Boliqueime, e cada vez menos Goa.
E um Boliqueime feito de pequenos ódios, à Manuela Ferreira Leite, e não de grandes solidariedades à Ramos Horta.
Cito a ultima declaração de José Sócrates, onde assume que lutou por“ proteger o país da necessidade de recorrer a um programa de ajuda externa para que Portugal não ficasse na situação da Grécia e da Irlanda”, luta que culminava neste PEC IV e na vitória que se adivinhava na próxima negociação europeia e que manteria o sonho de uma autonomia relativa neste Mundo Global agora à americana, amanhã à chinesa.
A visão conservadora do mundo, o velho restelismo, não desejava que tal sucedesse, porque odeia o trabalho que dá a autonomia relativa.
E, recordo, o velho restelismo, visão bem reaccionária do Mundo, não é uma visão somente “de Direita”, pois há esquerda na Direita e o PCP e o BE resvalaram para o velho restelismo há já um bom tempo.
Aliás não é de esperar com bernardinos e anacletos a dirigi-los…
Ontem, a Assembleia da República destilava esse velho e burguês ódio ao Povo que levou no final do século XIX à espantosa evolução de um pequeno partido, o Republicano que se opôs, então, a esse ódio .
O Povo que fez o Império, que construiu a mestiçagem e não a escravatura, que deu origem à comunicação social liberal, solta, do final do século XIX, no espaço africano português e aos partidos africanos do século XX e não ao salazarento colonialismo desse século, ( que para o Império terminou a 25 de Abril de 1974 quando deveria ter terminado em Abril de 1961 com Botelho Moniz a dirigir a Mudança de mentalidades no seio do Império).
O Povo que se espalhou pelo Brasil, pela África do Sul, por Portugal, (dando-lhe um ânimo que já estava esquecido com a ditadura salazarenta), que trouxe o boé, a moamba, o Kuduro, o catembe, também para o antigo centro do Império, contra os velhos restelistas ditos europeus pensando-se brancos, mas de segunda e submissos aos europeus autênticos, as merkells.
Ontem foi outra coisa.
Foi a submissão aos partidos de direita europeus, às agências de notação, a uns ditos e fantasmagóricos mercados, por parte das bancadas do PSD, do CDS, do PCP e do BE.
Fomos entregues ás mãos do FMI.
Como convinha.
Porque estávamos a ser demasiado autónomos o que era perigoso para esta noção europeia decadente e dominadora, de um centrismo vindo da visão fechada e continental, da Europa.
Tão fechada quanto dependente dos interesses da alta finança, essa não europeia, sem rosto, a quem chamam de “os mercados”.
Mas há ainda Resistência a fazer!
Porque não queremos ser umas coitadinhas vitimas, mas sim Senhores do Nosso Destino!
Os caminhos ficaram mais apertados?
Eleições antecipadas pois!
Querem-nas? Vamos a elas, com Sócrates!
Porque, aí à frente, há mais Mar a Percorrer.
Joffre Justino
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