José Filomeno dos Santos, filho do Presidente angolano, tido por alguns observadores um potencial sucessor à chefia do Estado, está na mira da imprensa alemã e suíça por alegados negócios ilícitos.
Zenu, diminutivo pelo qual é conhecido José Filomeno dos Santos, é um homem que já estagiou e trabalhou em várias empresas do regime: foi quadro na Sonangol e foi diretor-adjunto da sua subsidiária AAA, antes de se lançar no mundo dos negócios internacionais: passou pela Suécia, estudou em Inglaterra e participou em vários projetos, como a “Afrikanische Innovations Stiftung”, Fundação para Inovação de África em português, com sede na Suíça.
O jornalista suíço especializado em economia, Lukas Haessig, recentemente publicou um artigo sobre as atividades de Zenu dos Santos naquele país, no qual explica que a fundação foi criada pelo filho do presidente angolano, alegadamente para financiar obras de beneficência em África. “Zenu dos Santos pretende assim criar uma imagem positiva de si próprio”, afirma Haessig.
O dirigente da fundação é um advogado suíço chamado Thomas Ladner, que, ao mesmo tempo, dirige também uma empresa de serviços financeiros de nome Quantum na Suíça. Zenu dos Santos é também um dos promotores do banco Quantum Angola: “Isto para mim é uma teia de empresas - uma rede angolana - sempre com os mesmos protagonistas que trabalham todos em conjunto”, diz o jornalista.
O papel pouco claro de um banqueiro alemão
Por trás dos negócios de Zenu dos Santos está Jean-Claude de Morais Bastos, um cidadão suíço originário de Cabinda. Foi através dele que Zenu criou o seu próprio Banco, o “Quantum” recrutando para os seus quadros Ernst Welteke, ex-presidente do Banco Central da Alemanha, que hoje assume as funções de Presidente do Conselho de Administração.
Haessig considera ser “muito peculiar” um ex-presidente do Bundesbank cumprir esta função num banco em Angola, e, ao mesmo tempo, num banco na Suíça com o mesmo nome, mas que - alegadamente - nada têm a ver um com o outro. "Mas olhando para as direções denota-se que são praticamente idênticas. Ernst Weltecke pertence aos dois conselhos de administração e também o cidadão suíço-angolano Basto de Morais está em ambas as empresas".
Acusações de lavagem de dinheiro
Observadores angolanos residentes na Alemanha já lançaram publicamente acusações graves contra esta rede que classificam de máquina de lavagem de dinheiros desviados das finanças públicas angolanas. A lavagem seria feita com a participação e ajuda de personalidades alemãs, como Ernst Welteke, escreve um jornalista angolano residente na Alemanha, num artigo publicado na revista alemã "afrika Süd". Título do artigo: “Dinheiro sujo procura lavagem”.
O jornalista suíço, Lukas Haessig, diz que apesar de haver indícios, por enquanto não há provas. A Deutsche Welle tentou - em vão - contactar Ernst Welteke, membro do partido Social-Democrata Alemão, que em 2004 foi obrigado a demitir-se do Banco Central Alemão por suspeita de corrupção.
Autor: António Cascais/Cristina Krippahl
Revisão: Helena Ferro de Gouveia
25.03.2011