A Geração do 8 de Março deve difundir os valores da República, segundo exortou, terça-feira, José Óscar Monteiro, académico e combatente da luta de libertação nacional, na cerimónia de tomada de posse dos órgãos sociais da respectiva associação.
Orador da palestra “Juventude do 8 de Março, perspectivas e inserção na nova fase do desenvolvimento nacional”, promovida no âmbito da comemoração dos 34 anos da data em que, em 1977, o falecido Presidente Samora Machel pediu aos jovens estudantes secundários para que abdicassem do sonho de continuar os estudos para assumir responsabilidades em várias frentes da vida de Moçambique face à ausência de quadros no país acabado de libertar, José Óscar Monteiro afirmou que a Associação 8 de Março deve ser exemplo de uma agremiação plenamente inclusiva, ou seja, mais de membros que da direcção.
Lembrou as funções do Estado, uma das quais é garantir a igualdade entre os cidadãos, e defendeu que a Associação Geração 8 de Março é de servidores públicos. “Vejo em vós o espírito de servidores públicos. Nenhuma nação existe pelo simples agregado de indivíduos. Existe algo de que já se fala há anos: A República, a Res-Pública, ou seja coisa pública. A vossa associação é de servidores públicos”, disse.
Segundo José Óscar Monteiro, os jovens da Geração do 8 de Março consolidaram o Estado e o ajudaram a prover bens e serviços aos cidadãos. Muitos deles com idades que variavam entre 22 e 25 anos tomaram conta de empresas, foram directores de instituições estatais ou responsáveis em vários outros sectores.
Disse que são poucos os grupos (entenda-se organizações de indivíduos) acabados de criar ou em vias de criação com o capital tão valioso como é a Associação Geração 8 de Março, justamente por congregar membros com vasta experiência e com diferentes saberes.
“Vejo em vós um mar de jovens e um oceano de vontades”, disse o académico, acrescentando que não há no mundo muitos países com uma geração como a do 8 de Março.
José Óscar Monteiro afirmou, nesta perspectiva, que muitos países do mundo falharam no que diz respeito à preservação do bem comum e na unidade do país.

Jovens da Geração do 8 de Março presentes na cerimónia
O QUE DEFINE UMA GERAÇÃO?
Para José Óscar Monteiro, não é o grau de voluntariado que define a nossa acção. Não tomamos todos nós uma decisão consciente. Há percursores. O que define a personalidade das pessoas é o que elas fazem quando se encontram.
“A Geração do 8 de Março não pode ser definida naquele, mas por aquilo que fizeram ao país, a sua contribuição, sacrificando os seus estudos”, concluiu.
Disse que durante a luta de libertação nacional, a Frelimo destacou pessoas para prosseguirem com os seus estudos fora. A nível interno já se tinha começado a preparar escolas nas zonas libertadas.
“Tínhamos a consciência de que era preciso formar, mas não tínhamos capacidade”, disse.
José Óscar Monteiro afirmou que aquando da proclamação da independência nacional, cerca de 30 médicos coloniais é que se identificaram com Moçambique. Havia somente 11 juristas e um número reduzido de maquinistas de comboio.
“Era preciso organizar o Estado. Era preciso ter uma máquina de Estado a funcionar. A máquina do Estado tinha que servir os objectivos populares plasmados nas práticas que vinham sendo realizadas”, afirmou, ajuntando que o Estado tinha que ser o redutor das desigualdades.
Quando o falecido Presidente Samora Machel se reuniu com os estudantes no Pavilhão do Maxaquene, a 8 de Março de 1977, e disse: Jovens, a pátria chama por vós, estes gritaram dizendo que estavam prontos para servir a pátria.
Naquele mesmo ano, muitos estudantes foram enviados a Cuba. José Óscar Monteiro contou que o Presidente cubano, Fidel Castro, que na altura se encontrava de visita a alguns países africanos, dentre os quais a Tanzania, tomou a decisão de, repentinamente, visitar Moçambique.
Esta decisão de Fidel Castro surpreendeu os dirigentes do país ao mesmo tempo que suscitou uma inquietação em termos de segurança. Mas a visita foi imediata e secretamente preparada de tal modo que o Presidente cubano chegou à cidade da Beira. Constou do seu programa uma visita ao porto local. Num jantar com Samora Machel, por ocasião da visita, Fidel Castro disse ao falecido Chefe do Estado que sabia o que era o imperialismo mas só naquela altura compreendia o que havia sido o colonialismo em Moçambique. O líder cubano teria perguntado ao falecido Presidente Samora Machel o que podia fazer pelo país.
Segundo José Óscar Monteiro, Samora Machel teve uma intuição e pediu a Fidel Castro para que o seu país recebesse mil estudantes moçambicanos por ano. Esta intuição de Machel mostra claramente o quão a componente formação de quadros era fundamental para as autoridades que já haviam assumido a condução dos destinos do país.
José Óscar Monteiro esteve presente no encontro e serviu-se de tradutor do espanhol para português.

PM entre os titulares dos órgãos sociais da agremiação
DATA QUE MUDOU O RUMO DA VIDA DOS ESTUDANTES
O presidente do Conselho de Direcção da Associação Geração 8 de Março, Flávio Menete, afirmou, numa intervenção após a tomada de posse dos órgãos sociais da agremiação, que a partir daquele dia, a vida individual de muitos estudantes havia mudado de rumo, pois tiveram que abdicar dos seus sonhos para responder ao chamamento patriótico.
Lembrou que quando o falecido Presidente Samora Machel perguntou aos estudantes onde é que o país haveria de buscar quadros perante uma situação da ausência destes, eles responderam dizendo que era na escola. Segundo Flávio Menete, quando da decisão, o ambiente que se vivia era de preocupação quanto à gestão de um país sem quadros, por um lado, mas também a esperança de poder contar com a disponibilidade da juventude.
“Volvidos que são mais de trinta anos, cá estamos hoje, entre quarenta e os sessenta anos de idade, nas áreas para que fomos direccionados ou noutras, contribuindo para o futuro deste belo Moçambique”, disse.
Explicou que ao se criar a associação, os jovens da Geração 8 de Março materializaram assim um sonho de décadas, movidos pelo espírito de que unidos poderão defender os seus interesses comuns, melhor organizados contribuirão para que as novas gerações lutem permanentemente para a realização do sonho de Mondlane, de Samora e dos demais heróis nacionais, conhecidos e anónimos.
Enumerou alguns desafios prementes da agremiação e exortou a participação activa de todos os seus membros para que se possam materializar os objectivos para os quais foi criada.
Na ocasião, o Primeiro-Ministro, Aires Ali, que também foi um jovem que respondeu ao chamamento, disse que a Geração do 8 de Março não são apenas aqueles que estiveram no Pavilhão do Maxaquene naquele dia em 1977.
Afirmou que a Geração do 8 de Março deve criar condições para a passagem do testemunho à da viragem. Segundo o PM, a Geração do 25 de Setembro criou condições para libertar o país do jugo colonial português e encontrou soluções para os problemas emergentes da independência nacional, sendo por isso muito mais privilegiada que a de 8 de Março, pois muitos dos seus actores ainda estão vivos e partilham com a juventude a sua experiência e o seu saber.
“Nós ainda temos muito a percorrer”, disse, acrescentando que a Geração do 8 de Março está em momento oportuno de também partilhar a sua experiência e o seu saber com os mais novos.
Segundo o Primeiro-Ministro, a Associação Geração 8 de Março tem de ser muito mais sólida e forte, pois congrega pessoas de diferentes saberes, entre eles economistas, pilotos e sociólogos.
“Auguro muitos sucessos e espero que trilhe caminhos que mostrem ao país que o 8 de Março veio para dar continuidade à Geração do 25 de Setembro”, disse, apelando para que a agremiação seja muito mais ousada na prossecução dos seus objectivos e trazendo muito mais gente ao seu seio, numa perspectiva de maior abrangência.
A Associação Geração 8 de Março é uma pessoa colectiva de direito privado, sem fins lucrativos, com personalidade jurídica e autonomia administrativa, financeira e patrimonial, cujos objectivos são: promover e incrementar o bom entendimento e a solidariedade entre os seus membros; contribuir na educação, formação e consolidação do espírito de unidade nacional da juventude moçambicana através de iniciativas a diversos níveis, na elaboração, execução e implementação de estratégias nacionais de desenvolvimento social e económico do país; contribuir para a elevação do espírito patriótico das novas gerações; promover acções que contribuam para um desenvolvimento harmonioso e sustentável do país e promover e apoiar acções que permitam a defesa dos interesses dos seus associados.