O DISTRITO de Tambara está a registar um crescimento assinalável no tocante aos efectivos pecuários, com destaque para os caprinos. Dados recentemente divulgados pelo administrador local, Gilberto Canhenze, revelam que aquele distrito possui, neste momento, apenas em caprinos, um efectivo superior a 53.758 cabeças, número que, segundo a fonte, suplanta o dos habitantes do distrito calculados em 48.195 pessoas.
Para além da população caprina, o administrador de Tambara informou que aquele distrito é, igualmente, potencial na produção de outras espécies pecuárias destacando, entre outras, bovinos, suínos e ovinos, os quais atingem, neste momento, efectivos de 3.538, 7.038 e 2.208 cabeças respectivamente. A população de aves estima-se em 37 mil unidades.
Porém, a fonte lamentou o facto de a população local não consumir o produto da sua criação, afirmando haver casos em que pessoas podem passar fome com os cabritos no curral. Hábitos locais desencorajam o consumo de carne caprina alegando ser causa de morte precoce.
Por causa deste tabu, segundo o administrador, ninguém mata cabrito para comer em Tambara. A tradição local sugere que comer carne caprina ou de qualquer quadrúpede doméstico provoca suposto azar e pode causar a morte, sobretudo em crianças.
Uma família, em Tambara, está para uma média de dois cabritos, mas para além de não matar para comer, os criadores daquele distrito não vendem para, através do dinheiro, comprar os alimentos de que necessitam.
Agrada aos criadores de Tambara, segundo Canhenze, ver e contar manadas com centenas de cabritos em pasto. Debaixo da fome, nudez e a viver em pobreza extrema, os criadores de Tambara orgulham-se de acordar e ver as matas circunvizinhas das suas palhotas, repletas de seus cabritos.
Único caril com que os habitantes de Tambara acompanham as refeições, regra geral, de massa de farinha de milho ou outro cereal, é de verduras. Devido à ameaça, crianças locais há que fogem da carne, quando convidadas a comer por pessoas estranhas.
O próprio leite, quer seja de cabra ou de vaca, não pode ser consumido sobretudo pelas crianças. A única carne sem impedimentos tradicionais é a de galinha, embora os seus ovos sejam igualmente proibidos de comer, alegadamente, porque influenciam negativamente na maturidade sexual dos adolescentes e jovens.
Para além de caprinos, o distrito de Tambara é potencial na produção de carne bovina, suína e ovina. No entanto, a sua carne não consta da ementa das famílias.
A campanha agrícola 2009/2010, foi um total fracasso. Cerca de 33 mil pessoas, de um total de 48 mil que habitam o distrito de Tambara, vivendo, basicamente, da agricultura, não colheram nada na referida safra, socorrendo-se, neste momento, das culturas da primeira época da presente safra.
Das 35.557 toneladas de culturas diversas que eram esperadas nas colheitas da referida safra, numa área de 24.014 hectares, o distrito não conseguiu recuperar a totalidade dos esforços dos camponeses, que viram as suas culturas a secarem ante um sol escaldante, agravado pela ausência de chuvas e a aridez dos solos.
- Víctor Machirica