PARTE dos trabalhadores da Companhia do Sena, em Marromeu, província de Sofala, revelou que há mau relacionamento entre eles e o patronato e acusa o sindicato local de estar a defender os interesses dos estrangeiros, sobretudo os gestores de origem brasileira que são apontados como os que mais influenciam na não promoção de carreiras profissionais para os nacionais, além de não terem direito a transporte, mesmo que se saiba que trabalham distante das suas residências.
Esta revelação foi feita durante um comício orientado pelo governador de Sofala, Carvalho Muária, no domingo passado, na localidade de Chueza, posto administrativo-sede, no distrito de Marromeu, onde, igualmente, os trabalhadores reconheceram o bom desempenho dos anteriores gestores daquela empresa açucareira, de origem mauriciana.
“Agradecemos ao Governo pela reoperacionalização da Companhia do Sena. Tivemos gestores mauricianos que priorizavam a mão-de-obra local e evitavam os problemas de transporte. Mas os novos gestores, de origem brasileira, já não. Eles (os brasileiros) fazem-se de religiosos e até promovem cultos, mas são falsos. Parece que fazem de propósito, a maior parte das pessoas trabalha longe das suas residências e não tem direito a transporte, nem admitem diálogo” - revelou João Dambe, no comício orientado por Carvalho Muária em Chueza.
O pronunciamento de Dambe foi corroborado por muitos populares presentes no encontro, um deles chegou mesmo a interromper a intervenção do Governador de Sofala, Carvalho Muária, para dizer que a maior parte dos trabalhadores do sector da agricultura na Companhia do Sena é forçada a sair de casa de madrugada, percorrendo a pé muitos quilómetros, na tentativa de chegar cedo ao posto de trabalho, e só regressam às suas residências à alta hora da noite, o que faz com que estejam vulneráveis a acções de malfeitores.
“Senhor governador, eu saio da minha casa de madrugada e volto também de madrugada. Não tenho tempo para nada. Que horas, Excelência, nós, os trabalhadores da Companhia do Sena, vamos fazer filhos. Pedimos a sua ajuda para que os brasileiros nos atribuam pelo menos um tractor para assegurar que cheguemos cedo ao trabalho, porque quando demoramos um pouco descontam-nos imediatamente no salário. Pedimos ajuda do senhor governador, porque os problemas com os brasileiros são vários, não há promoção nas carreiras” - disse um dos intervenientes que não se identificou.
Os trabalhadores da Companhia do Sena dizem ainda que já apresentaram os seus problemas, por várias vezes, ao sindicato local, só que este organismo não tem colaborado. Aliás, acusam o sindicato de estar a defender os interesses dos estrangeiros.
Diante disso, o governador de Sofala, Carvalho Muária, assegurou aos trabalhadores da Companhia do Sena e à população em geral que se iria inteirar do problema junto de quem de direito para salvaguardar os interesses do Estado moçambicano, comprometido em assegurar o bem-estar dos cidadãos, com particular destaque para a massa laboral, neste caso vertente.
Em todo o caso, Muária apelou para que todos os problemas sejam resolvidos por via de diálogo e condenou, por conseguinte, o uso da violência, mesmo quando se sabe que os trabalhadores têm razão. Aliás, disse que a destruição de algumas áreas contendo cana-de-açúcar protagonizada por alguns residentes locais não se justificava e, por isso, reiterou o comprometimento do Governo na mediação do conflito.
Tentámos sem sucesso ouvir tanto a direcção da empresa como o sindicato local. Mas ficámos a saber que há demarches junto de quem de direito para que se encontre uma solução para o problema que já se arrasta há muito tempo.
Contudo, em diferentes comícios orientados por Muária no distrito de Marromeu, a população exigiu a construção de mais infra-estruturas sociais, nomeadamente escolas, unidades sanitárias e estradas, bem como a abertura de mais fontes de água potável.
Além de Marromeu, Cheringoma é outro distrito que será visitado nesta etapa pelo governador de Sofala, para, ainda na primeira quinzena de Abril, escalar Búzi e Marínguè, regiões que serão visitadas pelo Chefe do Estado, num futuro breve.
- Eduardo Sixpence