O ministro da Saúde de Moçambique, Alexandre Manguele, é acusado de ter feito comentários alegadamente "racistas" acerca do seu antecessor Ivo Garrido, após ter sido questionado pela imprensa sobre a alegada deterioração do atendimento nos hospitais moçambicanos.
Pouco tempo após Alexandre Manguele ter tomado posse, no ano passado, os órgãos de comunicação social moçambicanos começaram a denunciar casos de mau atendimento nos estabelecimentos hospitalares do país, críticas que não eram comuns durante os seis anos de mandato de Ivo Garrido, um mulato.
"Quando o Ministério da Saúde tinha um titular que não era de cor, não se falava mal, mas agora que o titular é de cor, todos os dias escreve-se contra ele. Vocês, jornalistas, precisam de ser nacionalistas", disse o ministro, citado pelo jornal O País.
Num artigo de opinião do chefe de redação do jornal O País, editado em Maputo, Francisco Mandlate cita a resposta de Alexandre Manguele, quando interpelado pela STV, canal televisivo privado do grupo Soico que detém também o jnornal.
O ministro da Saúde "disse mais: quando (Ivo) Garrido estava no Ministério (da Saúde), deu medicamentos fora de prazo aos doentes e não disseram nada, agora escrevem sobre enchentes nos hospitais", acusou Mandlate.
As palavras do titular da pasta da Saúde de Moçambique foram criticadas pelo semanário Domingo, assumidamente pró-FRELIMO, partido no poder, que o aconselha a "consultar um psicólogo".
"Elogiar Ivo Garrido é falta de nacionalismo, porque ele é mulato, se fosse branco, quem sabe, talvez o elogio configurasse crime digno de pena maior", ironizou o jornal.
De resto, a relação entre o ex-ministro da Saúde de Moçambique e Alexandre Manguele tem sido descrita pela imprensa do país como conflituante, facto que alegadamente terá levado o atual titular da Saúde a pedir o seu afastamento do Ministério da Saúde quando Ivo Garrido assumiu o cargo em 2005.
"Garantem-no, no entanto que (Alexandre) Manguele não é racista. Expressou-se, assim, porque não grama do Ivo Garrido, aproveitando a deixa para o zurzir publicamente e incitar a imprensa a fazer o mesmo, esquecido de que Garrido foi ministro, e que é militante ativo no seu partido", a FRELIMO, escreve o semanário Domingo.
"Mondlane e Samora certamente que deram voltas no túmulo", conclui o jornal, referindo-se ao fundador da FRELIMO e primeiro presidente do país, respetivamente.
Contactado hoje pela Lusa, à entrada de uma reunião alusiva ao Dia do Médico, Alexandre Manguele escusou-se a comentar.
"Não falo sobre isso", disse.
MMT.
Lusa – 28.03.2011