O salário da crise
Lourenço do Rosário falou ao “O País Económico” sobre os salários mínimos em Moçambique, considerando-os parte da pobreza e longe de reduzirem a falta de liquidez dos cidadãos. Mesmo com os salários mínimos actuais abaixo da metade do valor de uma cesta básica para uma família de cinco membros, o académico defende que os mesmos não podem subir arbitrariamente.
O académico Lourenço do Rosário considera que a natureza dos salários mínimos em Moçambique reflecte os níveis baixos de produção da economia e a pobreza, na medida em que o cidadão que o aufere não consegue prover para si e sua família bens essenciais para a sobrevivência até ao salário seguinte. Do Rosário recorreu ao custo actual da cesta básica – situado nos sete mil meticais – para dizer que seriam necessários dois ou três salários mínimos actuais para cobrir as despesas com os bens e serviços necessários.
A pobreza continua, mesmo nos cidadãos assalariados, perante uma subida de preços de produtos básicos alimentares nos mercados. Aliás, para o académico, o salário é a medida que estabelece a escala de desigualdade social, com os trabalhadores da base a serem os que mais dificuldades enfrentam para adquirir bens essenciais, em relação aos trabalhadores ou gestores do topo.
“Isto significa que o salário mínimo pago em Moçambique não responde à necessidade de tirar as pessoas da pobreza, mas sim é um salário da pobreza”, constatou o académico, que falava à margem de um encontro sobre “Boa Governação e Desenvolvimento”, organizado pelo Instituto de Directores de Moçambique.
SUBIR SALÁRIOS NÃO É A SOLUÇÃO
Mesmo reconhecendo a dura situação dos trabalhadores da base, Lourenço do Rosário entende que o Governo não pode impor que as empresas subam arbitrariamente os salários, pois se estaria a forçar uma situação contrária à capacidade de produção e produtividade da própria economia.
“Não vale a pena o Estado obrigar as empresas a aumentarem os salários que pagam aos trabalhadores, porque isso vai ter efeitos nocivos, visto que a economia não produz o suficiente para suportar esta pressão de dinheiro sem produção. Os economistas, que são os mais entendidos na matéria, alegam que há indicadores que devem ser tomados em consideração no reajustamento salarial”, defende.
Lourenço do Rosário, que é também presidente do Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP), entende que o aumento salarial não é a solução para a pobreza, sendo que o actual discurso do Governo sobre o aumento da produção e produtividade seria, teoricamente, o certo para reduzir os níveis de pobreza prevalecentes. Mas avisa que não basta! o apelo político não deve limitar-se a encorajar as pessoas a aumentar a produção e a produtividade, “É preciso que haja questões muito concretas para combater a pobreza. Vamos aumentar a produção e a produtividade onde, se somos desempregados? É necessário outras políticas paralelas ao objectivo”, fechou o académico.
O PAÍS ~25.03.2011