Populares denunciaram há dias a alegada discriminação na selecção de beneficiários do Fundo de Desenvolvimento Distrital, vulgo “sete milhões” no distrito de Macossa. Falando num comício na sede do posto administrativo de Nhamagua, por ocasião da recente visita de trabalho da governadora de Manica àquele distrito, os populares disseram que contrariamente ao estabelecido, o fundo não está a beneficiar os pobres que são os verdadeiros destinatários, mas sim a pessoas já com dinheiro para além dos próprios membros dos conselhos consultivos.
Félix Langton Vinho, morador da sede de Nhamagua e desmobilizado de guerra, acusou aos conselhos consultivos e as autoridades administrativas locais de não atenderem os pedidos dos cidadãos que não sejam das suas relações, afirmando que o dinheiro está apenas a beneficiar indivíduos com algum laço de parentesco ou com base em esquemas obscuros com os gestores da iniciativa.
Ele disse que pedidos de financiamento submetidos por pessoas não influentes, que não pertençam às lideranças comunitárias e aos conselhos consultivos e que não tenham quaisquer relações com aqueles, não são aprovados, assistindo-se, segundo ele, a casos de mutuários que recebem financiamentos pela segunda e terceira vezes seguidas, antes de devolverem os valores das dívidas anteriores.
Disse haver indivíduos que, vendo-se limitados de aceder ao fundo pela segunda ou terceira vez, uma vez não terem reembolsado os valores das anteriores dívidas, usam as suas esposas para conseguirem novos financiamentos, facto que, segundo ele, mostra que o dinheiro está a ir para as mesmas famílias, em detrimento daqueles que também têm requisitos para o acesso.
Considerou tal situação como manifestação inequívoca de falta de transparência na selecção de mutuários, facto que, na sua opinião, deveria ser combatido em benefício da iniciativa, cuja finalidade é incrementar a produção de comida e promover a criação de mais postos de trabalho.
Alertou à governadora para eventuais casos de corrupção na selecção dos beneficiários dos “sete milhões” e afirmou ser necessário uma maior abrangência de cidadãos pela iniciativa presidencial que, na sua óptica, está a enriquecer uns em detrimento de outros, não dando oportunidade aos próprios pobres, a quem considerou serem os verdadeiros destinatários do fundo.
“Precisamos também deste dinheiro. Os líderes da zona é que estão a fazer isso (discriminação). Temos que rever os métodos de selecção, para que não estejamos a cantar resultados quando na prática o dinheiro está a ir para as mesmas mãos, os mesmos bolsos, as mesmas famílias e sem resultados palpáveis” – disse Langton, também desmobilizado de guerra que aproveitou a ocasião para pedir pensão de reforma pela sua participação no conflito dos 16 anos.
Disse estar a ser vítima de zombarias de indivíduos que não combateram ou que, tendo combatido, destruíram o país. “São esses que hoje estão de boa vida e zombam-se de nós afirmando que vocês sofreram de graça, hoje nós é que estamos a comer”, sublinhou Langton.
Sobre os “sete milhões”, um régulo local que responde pelo nome de Celestino Langton Dique e que é membro do Conselho Consultivo do Posto Administrativo de Nhamagua, reagiu imediatamente à acusação, refutando haver discriminação na selecção dos mutuários e que o processo estava a decorrer de harmonia com as regras estabelecidas.
Reagindo às queixas, a governadora de Manica apelou os conselhos consultivos a todos os níveis para a necessidade de serem transparentes na avaliação, aprovação e selecção dos mutuários, evitando-se casos de discriminação, corrupção ou de outra natureza que podem comprometer a iniciativa. Disse que todos têm direito ao fundo desde que respondam aos requisitos de elegibilidade previamente estabelecidos.
No comício, os moradores de Nhamagua apresentaram também problemas relacionados com a falta de pagamento de pensões de reforma para os combatentes, atraso no pagamento de salários aos funcionários públicos, sobretudo do sector da Educação, a intransitabilidade de algumas vias de acesso, com destaque para Nhamagua-Nguawala, falta de energia eléctrica da rede nacional e do sinal de telefonia móvel, bem como a exploração desenfreada de madeira.
Também foram apresentados problemas relacionados com o abandono de obras por empreiteiros desonestos e consequente falta de pagamento de salários aos respectivos operários, falta de unidade sanitária, maternidade e casa de mãe-espera na sede da localidade de Dunda e a ausência de uma fonte de abastecimento de água naquela localidade.
Respondendo a estas e outras questões, a governadora de Manica disse que “tudo quanto foi aqui dito, mostra que as populações conhecem os problemas do seu distrito, posto administrativo, localidade e da sua zona, facto que nos orgulha e é sinal inequívoco de que estamos a crescer”.
Disse ter registado todas as questões as quais terão resposta em tempo oportuno. Porém, afirmou não ser possível resolver todos os problemas ao mesmo tempo. “Temos que fazê-lo gradualmente” – disse, afiançando que “hoje resolvemos o problema da escola, amanhã do hospital, depois, da estrada, energia, água, telefone e mais tarde de outras coisas que ainda dão falta ao nosso povo”.
Sobre a recepção tardia de salários para professores, a governadora disse tratar-se de problema do distrito e não da Direcção Provincial do Plano e Finanças, como alegou o professor que apresentou a questão, o qual afirmara que o distrito, em quatro anos, apenas pagou salário no mesmo mês em dois meses.
Relativamente a energia eléctrica, a governadora sossegou a população de Macossa afirmando que em 2012 será concretizado o sonho também para os distritos de Tambara e Machaze. Referiu que a crise mundial inviabilizou a realização do projecto durante o ano em curso, como estava inicialmente previsto.
- Víctor Machirica