OS mais de 200 trabalhadores afectos ao projecto de plantio de 10 mil hectares de jatropha para a produção de óleo vegetal no distrito de Nacala-à-Velha, em Nampula, ameaçam entrar em greve a qualquer momento caso o patronato, a empresa AVIAM, de capitais italianos e moçambicanos, não melhore as suas condições salariais, de trabalho e mostre sinais de seriedade na implantação efectiva do empreendimento, orçado em 20 milhões de dólares norte-americanos, que já era visto como uma tábua de salvação para o crónico problema de desemprego que afecta aquela região.
Informações a que o “Notícias” teve acesso e confirmadas pelo governo do distrito de Nacala-à-Velha, indicam que tudo começou quando há dias a empresa AVIAM decidiu expulsar do seu quadro de pessoal mais de 150 trabalhadores, ficando com apenas 50 sob alegação de que os dispensados não se adaptavam às suas exigências.
Eles reclamam ainda a falta de meios de trabalho, transporte para a recolha, fixação uniforme dos salários sem observância do nível académico ou de chefia, bem como o incumprimento das promessas de criação de condições básicas, no âmbito da responsabilidade social.
Numa nota enviada às autoridades administrativas locais, os trabalhadores referem, por um lado, que cada um recebe 1600 meticais, realizam as actividades com apenas 22 enxadas, percorrem entre 10 a 15 quilómetros de distância para o seu local de trabalho e, por outro, há atraso na construção de um centro de saúde para as comunidades de Namige, Kathupa, Patone e Micolene, conforme promessas feitas na altura da criação da empresa.
“Francamente falando, estamos preocupados e defraudados com este investidor, muitas promessas que tinham sido feitas não estão a ser cumpridas. O que os trabalhadores reclamam é legítimo, já contactámos o director-geral, que escapou de espancamento por um triz, mas nada de especial nos dizem, daí que achamos ser conveniente pedir apoio de outras instâncias no sentido de nos ajudarem a encontrar uma saída para o assunto”, explicou o administrador distrital, Daniel Chapo.
Aprovado pelo Conselho de Ministros, em 2008, o projecto AVIAM contempla o plantio de 10 mil hectares de jatropha, bem como a construção de uma fábrica de processamento de frutas daquela planta para extracção de óleo vegetal.
“As promessas de importação da maquinaria feitas no ano passado não passaram daí, o que não deixa de ser mau sinal, visto que as pessoas continuam a trabalhar com enxadas ao invés de máquinas, como consta do desenho do projecto”, referiu a nossa fonte.
Um total de três mil famílias, que foram intimadas a abandonar as suas áreas de habitação na sequência do projecto, está há quatro anos à espera das respectivas indemnizações.
A jatropha curca, também conhecida por pinhão-manso, é nome de um grupo vastíssimo de espécies de jatrophas cultivados no mundo inteiro.
Da produção global, reza o projecto, o mercado nacional receberia uma quota de 20 porcento, enquanto 80 porcento da produção destinam-se à exportação.
- Assane Issa