“Niassa tem um potencial inigualável”
- Julian Fisher, Antropólogo americano que explora esta rota
- No passado foi uma rota de tráfico de escravos e sal
Por Suizane Rafael
Restabelecer uma antiga rota de troca de escravos e comercio entre o Lago Niassa e o Oceano Índico é o propósito da expedição pedestre do Antropólogo norte-americano Julian Monroe Fisher que desde o passado dia 1 de Maio partiu de Pemba, Cabo Delgado.
Depois de 20 dias de caminhada, chegou a cidade de Lichinga no passado dia 19, para no dia 21 rumar em direcção ao Malawi, através da fronteira de Meponda.
Falando em exclusivo ao jornal FAÍSCA, Julian Fisher disse que a província do Niassa tem um potencial inigualável em vários aspectos.
Disse estar surpreendido com as descobertas que fez na província do interior e acredita estar perante uma rota turística que vai dominar o turismo nos próximos anos.
A caminhada
Na companhia do moçambicano Mariano Matias, técnico da Direcção Provincial do Turismo de Cabo Delgado, Julian Fisher se lançou na descoberta da antiga rota do comércio.
Com uma média inicial de 15 a 20 quilómetros por dia a equipa deixou Pemba no dia 1 de Maio para uma primeira aventura dos descobrimentos.
“Efectivamente o objectivo desta missão ligando o Índico e o Lago Niassa é ser o primeiro a faze-lo, mas neste via especificamente esperamos ter um primeiro conhecimento profundo da zona, cultura, dos Países para depois utilizar na educação a cerca desta parte de África. A paisagem de Cabo Delgado e Niassa é diferente e diversificados ecossistemas. Temos clima tropical, semi-tropical de Pemba a Montepuez-Marrupa. Mas de Marrupa a Lichinga vi coisas muita interessantes, já andei em 30 países africanos mas o que vi nesta zona do Niassa é diferente. Esta secção de Marrupa-Lichinga é das mais bonitas e tem um ecossistema incomparável, vi pássaros, macacos, elefantes. Penso na parte Norte da estrada até ao rio Rovuma há um enorme potencial de flora e fauna. Mas também encontrei uma grande hospitalidade das populações o que é diferente de outras zonas de África. A hospitalidade dos moçambicanos é natural e genuína e sem influências externas, não é forçada como no Kenia e Tanzania”, disse Fisher.
De Pemba a Lichinga são quase 600 quilómetros, caminhando torna-se mais difícil entre outras coisas. Isto tudo não assustou a dupla Julian Fisher e Mariano Matias.
No entanto Fisher disse ter sentido o peso do seu corpo o que é natural neste tipo de caminhadas, fazendo 25 quilómetros por dia.
“A adaptação do meu corpo ao clima da região foi um dos problemas, mas é normal, conseguimos as metas diárias que eram de 20 a 25 quilómetros. Mas as pessoas daqui andam muito mais que isso.
Teremos que ligar Blantyre, no Malawi ao Oceano Índico,” sustentou.
O futuro
Depois de terminada a expedição em Setembro próximo em Lobito, Angola, Julian Fisher espera que se faça a promoção desta rota turística.
A ideia é convidar caravanas de pessoas com recurso a viaturas 4x4 para cruzar o Lago Niassa ao Oceano Índico tal como ele fez.
“Niassa tem um potencial inigualável, um dia vamos convidar pessoas a descobrir estas zonas, devem ser conhecidas por outra gente, são regiões muito raras de ver. Vou aperfeiçoar o meu português é interessante este idioma”, acrescentou.
Já para o moçambicano Mariano Matias que acompanhou o antropólogo a alcançar o Lago Niassa, o mais importante foi a experiencia.
“Não é novidade para mim andar estas distâncias, já fiz antes 30 quilómetros num dia. Este senhor é um antropólogo, aprendi muito com ele nestes poucos dias. É tanta informação que irei usar no dia a dia das minhas actividades. Esta rota que seguimos foi usada pelos mercadores de escravos do interior para a costa, em Bandary, o primeiro porto que existiu antes do de Pemba e outros.
Esta rota trazia escravos, mas também no regresso vinha o sal e outros produtos para o interior,” disse Mariano Matias.
Porque a zona em referência é totalmente diferente, a promoção vai ser o próximo passo para que o Lago Niassa e o Oceano Índico estejam ligados novamente.
“Na província de Cabo Delgado existe o Parque Nacional das Quirimbas, no Niassa a Reserva do Niassa, vamos ver qual será a possibilidade de ser maximizado o seu uso. As pessoas para chegar a Pemba primeiro vão a África do Sul e depois Maputo, pensamos que chegando a Blantyre ir a Pemba será mais fácil, são 18 horas de carro. A vegetação de miombo que encontramos nesta zona é diferente de todo o Moçambique”, acrescentou.
Julian Monroe Fisher partiu de Lichinga no passado dia 21 deste mês, entrando no
Malawi, na zona de Senga Bay no Lago Niassa. Do Malawi espera atingir a Zâmbia, e depois o Congo Democrático e finalmente Lobito, Angola.
Agradeceu o apoio recebido das diversas autoridades moçambicanas a nível interno e externo para atingir os objectivos.
“Gostaria de agradecer ao embaixador moçambicano na Alemanha senhor Carlos dos Santos, o ministério do Turismo, os líderes comunitários, o senhor Nunes Fortes, os governadores de Cabo Delgado e Niassa, a população de Moçambique, o senhor Mariano Matias que andou comigo, os hotéis Pemba beach hotel e Girassol em Lichinga”. Vive na Áustria, tem 56 anos de idade, e é de nacionalidade americana.
FAÍSCA – 27.05.2011